Por marcello.victor

Rio - "Abandonar as cabines de rua!". A ordem durante o confronto que transformou o Centro do Rio em uma praça de guerra, depois da manifestação pela melhora dos serviços públicos e de investimentos nas áreas de Saúde e Educação, que reuniu cerca de 300 mil pessoas, foi dada, por medida de segurança, pelo Comando-Geral da PM aos praças que estavam de serviço nos compartimentos da corporação na região.

A informação foi confirmada por vários policiais que reforçaram o policiamento na região. Quatro guaritas foram destruídas a pedradas ou incendiadas. O saldo até a meia-noite era de 62 feridos atendidos no Hospital Municipal Souza Aguair, também no Centro, segundo a Secretaria Municipal de Saúde.

Cabine da PM queimada no CentroOsvaldo Praddo / Agência O Dia

Um PM que estava na cabine da Lapa, na esquina das ruas Teixeira de Freitas e Morais e Vale, contou que ele e um colega só tiveram tempo de tirar o rádio de comunicação da guarita. A ordem do comando da corporação era que os policiais se refugiassem no Quartel-General, na Rua Evaristo da Veiga. Os manifestantes radicais destruíram os vidros do compartimento e o ar condicionado.

Na Cinelândia, em frente ao Cine Odeon, há 500 metros da Lapa, uma cabine foi destruída e queimada. A saída de deficientes físicos do Metrô, que fica ao lado, foi apedrejada. A porta de vidro de uma agência do Citybank, do outro lado da Avenida Rio Branco, foi estilhaçada.

Na Avenida Chile, vândalos atingiram um outro compartimento da PM com um coquetel molotov. Eles também destruíram os vidro de um abrigo de ônibus que fica em frente. Outra guarita que ficou completamente destruída fica em frente à Central do Brasil. Durante a madrugada, ainda saia fumaça do que sobrou da cabine.

Avenida Presidente Vargas ainda com sinais de vandalismo na manhã desta sexta-feiraSeverino Silva / Agência O Dia

O Terreirão do Samba também não escapou da ação dos marginais. Um grupo invadiu o local e destruiu dois carros de uma marca que estavam em exposição, o posto médico e barracas. O espaço está sendo usado pela TV Globo, que está promovendo o evento Concentra Rio em jogos da seleção brasileira de futebol na Copa das Confederações. Surpreendentemente, o monumento de Zumbi dos Palmares, que fica em frente e geralmente é alvo da ação de vândalos, foi poupado. Um prédio próximo, que ainda não foi inaugurado, também foi atacado.

De acordo com o Instituto de Defesa dos Direitos Humanos, dez pessoas foram detidas durante o conflito com a PM no Centro. Sete foram autuadas por vandalismo na 17ª DP (São Cristóvão). A maioria era de menores e foram liberados após a presença dos pais. Para a 5ª DP (Mém de Sá) foram levados um menor que estaria com um coquetel molotov, e dois adultos - um com um artefato explosivo e outro acusado de atirar um morteiro contra um PM.

CET-Rio: 26 pardais destruídos

A madrugada desta sexta-feira foi marcada pelo trabalho de limpeza e retirada dos destroços, principalmente da Avenida Presidente Vargas, uma das principais do Centro do Rio, local da manifestação da noite de quinta-feira. O cheiro de gás lacrimogênio e de spray de pimenta ainda pairava no ar. O cenário era de uma praça de guerra: bancos, lojas, telefones públicos e abrigos de ônibus destruídos ou arrombados; vidraças de prédios despedaçadas por pedras e lixeiras, placas, semáforos e pardais de trânsito arrancados.

Cabine da PM foi depredadaOsvaldo Praddo / Agência O Dia

Equipes da CET-Rio trabalharam em esquema especial na Avenida Presidente Vargas para a retirada dos pardais que foram danificados. Um caminhão usado para o transporte do material ficou lotado. Segundo Guilherme Faria, gerente de manutenção de uma empresa terceirizada, dos 28 equipamentos instalados há oito meses na via 26 foram destruídos pelos vândalos. Segundo ele, o objetivo é tentar reinstalar tudo em 30 dias. "Toda a parte elétrica, eletrônica, estrutural e de rede terá que ser refeita", informou ele.

Funcionários da loja de calçados Paquetá, também na Avenida Presidente Vargas, passaram a madrugada guardando o imóvel. O estabelecimento foi arrombado e alguns produtos roubados. Parte do estoque de botas femininas foi levado. Os marginais também tentaram arrombar o caixa com um alicate de corte. Cinco pessoas foram detidas em flagrante por policiais do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope). Segundo o gerente Rafael da Costa Pula, de 31 anos, somente após a presença de um representante da empresa e a realização da perícia será possível calcular o prejuízo.

Manifestantes acusam PM de abuso

A madrugada foi de espera e incerteza para manifestantes e trabalhadores que tentavam voltar para a casa após a guerra travada entre PMs e vândalos no Centro do Rio. Várias linhas de ônibus deixaram de circular. Poucos passavam deixando a região. Os pontos de ônibus em frente a Central do Brasil ficaram lotados. O patrulhamento foi reforçado por policiais do 5º BPM (Praça da Harmonia), com o reforço de PMs de batalhões de outras áreas.

"Já estou há meia hora aqui. Os ônibus não estão descendo aqui para o Centro", reclamou o estudante de Engenharia de petróleo da UnigranRio, Wiliiam Coutinho, de 30 anos.

Ele estava na manifestação e criticou a atuação da polícia e do governador do Rio, Sérgio Cabral. "Ele está maluco. Quero sua cabeça na bandeja. Como é que pode impedir o povo de manifestar. A polícia covarde dele estava caçando estudantes na Lapa", protestou o estudante, denunciando que grupos de jovens foram cercados na Lapa, bairro boêmio do Rio.

Um estudante do Ensino Médio, de 17 anos, morador da Favela Nova Holanda, no Complexo da Maré, fez coro e denunciou a truculência da PM. "Covardes! Estava sentando, descansando, com um grupo de amigos estudantes nos Arcos da Lapa. O Choque chegou atirando balas de borracha e bombas de gás, e nos chamando de vagabundos, bandidos", criticou ele. Ainda com um cartaz e uma máscara do personagem Jason, da série de filmes Sexta-Feria 13, ele aguardava por um ônibus.

Dinheiro extra com destroços

A destruição causada pelo confronto pode render ganhos extras para quem nem participou da manifestação. Durante a madrugada pelo menos quatro homens tentavam arrancar destroços dos abrigos de ônibus para vender. Segundo um deles, o material usado na fabricação da proteção é de alumínio do tipo perfil, de maior valor no mercado. O quilo no ferro-velho é comercializado por R$ 3,50, enquanto o comum sai por R$ 2,50.

"Só estamos terminado o que eles destruíram", disse o homem, que com outros dois amigos tentavam arrancar os destroços do abrigo depredado em frente ao Centro Estadual de Diagnóstico Por Imagem, que fica defronte à Central do Brasil.

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