Por tamyres.matos

Rio - A emergência do Hospital Adão Pereira Nunes, em Duque de Caxias, amanheceu ontem mais uma vez repleta de pacientes à espera de atendimento. No plantão havia pelo menos uma ausência em relação à escala da enfermeiros: Bruno Soares Cordeiro não apareceu para trabalhar às 7h. Passou o dia em casa com a família, de bermuda e camiseta do Brasil, a 30 quilômetros do hospital, de onde só deveria sair na manhã deste domingo. Secretário de Saúde de Guapimirim, cargo com dedicação exclusiva, Bruno faz parte do grupo de enfermeiros e médicos que falta ao trabalho mas recebe pelos plantões no Saracuruna.

O enfermeiro confirmou a ausência nos plantões desde janeiro, quando foi nomeado assessor especial da Secretaria de Saúde de Guapimirim. Para se defender, diz que pagava a uma colega de trabalho — a enfermeira Mônica Silvina França da Silva — para o substituir no trabalho. “Repasso meu salário integral assim que cai na minha conta”, admite Bruno, que desde de maio passou a exercer o cargo de secretário em Guapimirim. Uma ilegalidade, aos olhos da Secretaria Estadual de Saúde e do Conselho de Enfermagem.

Enfermeiro Bruno recebeu equipe do DIA ontem em casa com a camisa do Brasil. Aos sábados%2C ele deveria estar atendendo os pacientes no plantão do Hospital de SaracurunaCarlo Wrede e Fernando Souza / Agência O Dia

“Sei que o Conselho de Enfermagem não aprova a venda de plantões, mas achei melhor pagar para alguém do que deixar a unidade sem enfermeiro”, argumenta o secretário. Ele diz ter pedido exoneração do cargo à então gerente de Enfermagem do Adão Pereira Nunes, Elaine Cristine da Conceição Vianna. Até quinta-feira, porém, continuava na escala na emergência do hospital.

“Decidi pedir demissão para não expor mais a Elaine. Acumulava as duas funções, porque o cargo de secretário é instável e não queria perder a matrícula”, defendeu-se, apesar do cargo de secretário requerer a dedicação em tempo integral do servidor. E exclusividade não é o forte de Bruno: sem rodeios garantiu que se inscreveu no concurso da Prefeitura do Rio, onde o salário é cinco vezes menor do que os R$ 10 mil que recebe em Guapimirim.

“Se passar no concurso, vou largar a secretaria. A Prefeitura do Rio tem um plano de carreira e o salário pode aumentar”, projeta. No Hospital de Saracuruna, Bruno ganha líquidos R$ 1,3 mil. Desde fevereiro, recebeu o valor integral, sem desconto por falta ou atraso.

Duas vezes por semana na escala

A enfermeira Mônica Silvina França da Silva, citada pelo secretário Bruno Cordeiro como a pessoa encarregada de substituí-lo nos plantões, aparece escalada na emergência do Adão Pereira Nunes, o Hospital de Saracuruna, em dois dias da semana.

Em maio, seu nome constava na escala sempre às quintas e sextas-feiras, enquanto que neste mês seus dias de serviço na unidade são terças e quintas-feiras.

No sistema Datasus — onde o governo federal cadastra os profissionais da área da Saúde —, Mônica Silvina ainda aparece como nomeada, em 2012, como técnica de enfermagem no Hospital Universitário Pedro Ernesto, vinculado à Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), com uma carga de trabalho de 32 horas semanais.

Em dois locais na mesma hora

No último domingo, O DIA denunciou o esquema no Hospital Adão Pereira Nunes, onde os enfermeiros não aparecem para trabalhar, mas ganham o salário integral do Estado. Nos mesmos dias do serviço, os funcionários aparecem escalados em hospitais e clínicas particulares ou do governo federal.

Dois casos chamaram atenção: a enfermeira Xênia Rodrigues da Silva, sempre escalada no momento em que saía ou deixava seu plantão no Hospital da Unimed, em Campos, a 300 quilômetros do Saracuruna. Em um dos meses, coincidiu com passeio de uma semana a Maragogi, paraíso ecológico de Alagoas. Já a gerente da Enfermagem Elaine Cristine aparece na escala do Saracuruna, em Caxias, e do Hospital Cardoso Fontes, em Jacarepaguá, nos mesmos dias e horas.

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