Rio - Um grupo de moradores da Favela da Rocinha segue para a residência do governador Sérgio Cabral, no Leblon, em novo protesto realizado nesta terça-feira. As questões abordadas pelas cerca de 2 mil pessoas em passeata pela Zona Sul dizem respeito ao dia a dia da comunidade e o principal apelo em cartazes e palavras de ordem é o fim da violência policial.
"Nossa intenção é mostrar para o Brasil as necessidades da Rocinha. Esta passeata é diferente das outras. Aqui ninguém tem R$ 0,20. Estamos vendo um teleférico de milhões sendo construído, enquanto minha filha tem que pisar em vala negra. Não sou contra o teleférico, mas acho que a prioridade é outra. Não é óbvio que tem que fazer saneamento antes do teleférico?", argumenta um dos organizadores da passeada, Fernandes Junior.
Antes de começar a passeata, parte do comércio na favela já estava fechado. O shopping Fashion Mall fechou mais cedo e tapumes foram colocados no lado externo, principalmente mais perto da comunidade. Os condomínios no bairro de São Conrado também foram cercados com tapumes nas portarias e tiveram a segurança reforçada. Cerca de cem policiais militares fazem patrulhamento no local. Apesar disso, não foi registrada nenhuma ocorrência na comunidade.
Outra questão criticada pelos manifestantes é a ausência de investimentos nos serviços mais básicos da Rocinha, apesar da presença de homens da Unidade de Polícia Pacificadora. "Pela água e luz nos becos, só polícia não adianta", diz um dos cartazes.
"As outras áreas da cidade estão conhecendo agora a face truculenta da polícia. Mas isso nao é novidade nenhuma pra nós. Acho que as pessoas tem que olhar duas vezes por aqueles que olham pela nossa comunidade e defendem nossos interesses. Não somos bandidos", afirma a também organizadora da mobilização Érika Santos.
Aos gritos efusivos que definem o governo do estado como a "vergonha do Brasil", manifestantes seguram outro cartaz que pede: "Fora major Edson (Santos) e sua violência policial. Na Rocinha e no Vidigal, só queremos paz". A Avenida Niemeyer foi fechada nos dois sentidos para a passagem dos manifestantes.
"Nossa principal reivindicação é saneamento. Mas há outras. O PAC 2 está vindo aí para concluir as obras do PAC 1 que ficou inacabado. Pra onde foi esse dinheiro? A Rocinha só tem duas creches e criança só entra com sorteio. Será que a prioridade é mesmo o teleférico?", conclui o estudante de design da Pontifícia Universidade Católica (PUC) Denis Neves, de 25 anos.