Rio - Com uma aparente guerra declarada, a operação dos homens do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope) na Favela Nova Holanda já tem nove pessoas mortas nesta terça-feira. Entre os quatro feridos levados para o Hospital Federal de Bonsucesso (HFB), está o motorista de van Cláudio Duarte Rodrigues, de 41 anos. Ele foi atingido no fêmur quando entrava na comunidade às 23h desta segunda.
"Meu marido foi atendido no HFB, mas foi liberado mesmo com a bala alojada. Ele está em casa morrendo de dor. Pra que isso tudo, só porque morreu um do Bope? Quantos morreram aqui dentro da favela, quantos mais vão morrer? Se é bandido, leva preso, não faz covardia, que é o que eles estão fazendo", relatou a esposa de Cláudio, Nilzete Neves Rodrigues, 41.
Membros do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria Pública foram ao local para acompanhar a perícia após a morte de suspeitos em supostos confrontos. De acordo com a defensora Juliana Moreira, o hospital foi questionado sobre a liberação do motorista de van e resolveu enviar uma ambulância até sua casa para concluir o atendimento.
Policiais da 21ª DP (Bonsucesso) e da Divisão de Homicídios (DH), além de homens da Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), estão na favela do Complexo da Maré para realizar a perícia nos locais das mortes. Segundo o Bope, todos os suspeitos morreram a caminho do hospital, ou seja, nenhum dos corpos está na região.
Dois homens foram presos e três adolescentes apreendidos. Também foram recolhidos dois fuzis, uma submetralhadora calibre 40, cinco pistolas, uma granada, 7.327 trouxinhas de maconha, 30 tabletes grandes de maconha, 760 sacolés de cocaína e um saco com um quilo da mesma droga, 150 pedras de crack e 100 bolas de haxixe. As ocorrências foram registradas 21ª DP e 37ª DP (Ilha do Governador).
"Há muitas marcas de bala, projéteis pelo chão, marcas de sangue e portas arrebentadas. Com certeza, as pessoas foram mortas dentro de casa. Ouvi dizer que as vítimas também levaram golpes de faca, mas precisamos esperar o laudo do IML. As vítimas foram levadas para o HFB. Vamos acompanhar a perícia para saber se houve execução", afirmou o coordenador do Núcleo de Direitos Humanos da Defensoria, defensor Henrique Guelber.
Manifestações na comunidade
Em protesto silencioso, moradores da Rua Teixeira Ribeiro, na Maré, estenderam uma faixa com os dizeres: "A polícia que reprime na avenida é a mesma que mata na favela". Cabe ressaltar que esta rua e outra próxima estão sem energia elétrica desde ontem (segunda). A manifestação é organizada pela Rede de Comunidades e Movimentos Contra a Violência
Às margens da Avenida Brasil, cerca de 50 pessoas, entre crianças e adolescentes, protestaram contra excessos durante a operação do Bope na Favela Nova Holanda.
O diretor do Observatório de Favelas, Jaison de Souza e Silva, afirma que os PMs jogaram bomba dentro do observatório e disse que moradores da comunidade morreram durante ação da polícia. "Virou um inferno. O tráfico acabou de fechar o comércio. Está um absurdo, a polícia está entrando nas casas. Atacaram o observatório quando as pessoas tentaram sair do local", relata.
"Qualquer operação com várias mortes tem que ser acompanhada com muito cuidado. Geralmente, quando há morte de policial, há uma probabilidade grande de haver excessos. Vamos acompanhar o que está acontecendo de perto", analisou o cientista social Ignácio Cano.