Por thiago.antunes

Rio - Seis pessoas foram detidas e quatro policiais ficaram feridos durante uma ação da Polícia Militar para dispersar mais uma manifestação contra o governo, na esquina da Avenida Delfim Moreira com a Rua Aristides Espindola, no trecho onde mora o governador do Rio, Sérgio Cabral, na noite desta quinta-feira.

A via foi interditada e PMs isolaram o local. A corporação afirma que agiu quando pedras foram jogadas contra prédios e PMs. Ativistas negaram a acusação e criticaram a ação violenta da polícia.

PMs atacam os ativistas Diego Assis / Agência O Dia

Dois dias depois de integrantes do movimento Ocupa Cabral, que estavam acampados há 10 dias na esquina do prédio do governador, terem sido expulsos por policiais do 23º BPM (Leblon), cerca de 400 pessoas, entre estudantes, ativistas de vários movimentos sociais, trabalhadores e críticos do governo de Sérgio Cabral voltaram ao local no início da noite desta quinta-feira. Com faixas e cartazes eles gritaram palavras de ordem contra Cabral e cobraram mais transparência nas contas do estado.

Além de PMs do batalhão da área, a segurança foi reforçada por homens do Batalhão de Choque. A Avenida Delfim Moreira chegou a ser fechada nos dois sentidos, assim como a Avenida Niemeyer, no sentido Leblon. De acordo com os policiais, por volta das 22h40 um dos manifestantes jogou uma pedra contra o cordão de isolamento. Outras teriam sido atiradas e atingiram prédios da Rua Aristides Espíndola, o que teria motivado a reação do Batalhão de Choque. 

Com balas de borracha, bombas de efeito moral, spray de pimenta e gás lacrimogênio, os militares conseguiram dispersar a multidão pelas ruas do Leblon. Houve tumulto e correria pela orla e ruas do bairro. Moradores ficaram assustados. A estudante da PUC, Luiza Dreyer, de 22 anos, porta-voz do movimento Ocupa Cabral, negou a agressão aos policiais e disse que a ação dos PMs foi truculenta.

Todos os detidos foram liberados durante a madrugada na 14ª DP (leblon), onde o caso foi registrado. De acordo com a Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), dois deles foram acusados de tentativa de lesão corporal, sob a alegação de terem sido vistos atirando pedras contra policiais. Eles, porém, não foram reconhecidos como os manifestantes que feriram os PMs. Outros três foram levados à delegacia por atitude suspeita. Um rapaz foi preso fumando maconha na areia da Praia do Leblon. Ele participava de um luau.

Alguns ativistas foram detidos na praia Diego Assis / Agência O Dia

A estudante de Ciências Ambientais da Uni-Rio, Mariana Cordeiro de Farias Vergueiro, de 20 anos, contou que enquanto os manifestantes eram dispersados PMs do Batalhão de Choque atiravam a esmo, inclusive em pessoas que passavam pelo calçadão ou tentavam se refugiar da confusão na areia da praia.

"Essa repressão toda só dá mais vontade de voltar lá na porta do Cabral e continuar pressionado. Manifestantes e PMs só estão aqui na delegacia por causa dele", acusou a estudante.

O tenente Tiago Batista Guimarães, o cabo Ricardo Florêncio Ferreira e os sargentos Joge Xavier e Marcos Leandro Alves Aguiar ficaram feridos por pedradas, sendo dois deles na cabeça. Eles foram levados para o Hospital Miguel Couto, na Gávea, e depois prestaram depoimento na delegacia.

O trecho da Aristides Espindola onde mora Sérgio Cabral foi liberado ao trânsito por volta das 5h30.

PMs com escudos isolaram rua de CabralLeitor Thiago Earp

Grupos diversos em manifestação

Um empresário de 56 anos explicou o motivo da concentração. "Queremos saber quem são os donos das empresas de ônibus do Rio. Eles faturam bilhões e não pagam impostos. Isso é um crime", disse o homem.

Décio Alonso, promotor de justiça da Auditoria Militar afirmou que fiscalizaria a ação dos policiais. "Recebemos denúncias de abusos dos PMs no Maracanã e aqui. Estamos aqui pra verificar se não há nada de errado. Fomos convidados pelo comandante geral da PM", afirmou, antes do ataque dos policiais.

A manifestação foi marcada por redes sociais por um evento chamado "10 mil na rua do Cabral". Na madrugada da última terça-feira, membros do movimento Ocupa Cabral foram expulsos por PMs. Eles exigiam reunião imediata com o político no Palácio Guanabara, para a apresentação de uma pauta de reivindicações em várias áreas, como Saúde e Educação.

Luiza Dreyer, do Ocupa Cabral, explicou que o movimento desta quinta-feira não foi organizado por eles. "Estamos aqui para apoiar, não vamos ocupar a rua do governador de novo, porque tivemos objetos destruídos na terça-feira, e alguns foram confiscados, como o meu celular por exemplo", afirmou a jovem.

Motoristas de ônibus que passavam pela Delfim Moreira, fizeram um buzinaço e gritaram palavras de ordem, pedindo que o governador renunciasse. A via também foi fechada na altura do Posto 12 e policiais também seguiram para o trecho. O desvio foi feito pela Avenida Bartolomeu Mitre. O trânsito ficou lento na orla do Leblon e de Ipanema, no sentido São Conrado

O eletricista Daniel Freitas Filho, 26 anos, de Campina Grande, na Paraíba, é morador do Morro do Vidigal há sete meses. Ele discursou em frente aos PMs. "Nunca vi um PM que se coloca na frente de uma bala ganhar um salário tão baixo. Não estamos aqui para entrar em confronto com a lei, não somos animais. Deixem o vandalismo para os políticos", disse.

Um princípio de confusão ocorreu quando chegou ao local Eduardo de Oliveira, do movimento Somos o Brasil. Ele já se reuniu com Sérgio Cabral em evento considerado armado pelos manifestantes. Ele foi reconhecido e cercado pelos presentes. Eduardo só não foi agredido devido a intervenção dos PMs.

Por volta das 20h30, mais de 20 integrantes do grupo anarquista Black Bloc bloquearam o outro sentido da Avenida Delfim Moreira. Os manifestantes distribuíram panfletos anunciando que outra passeata está marcada para às 17h desta sexta-feira, na Praça Nossa Senhora da Paz, em Ipanema.

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