Rio - O comandante da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro, afirmou, durante entrevista coletiva na manhã desta quinta-feira no Palácio Guanabara, que não terá como fazer uma negociação sem um líder do movimento, ao ser questionado sobre os protestos que ocorrem há um mês no Rio de Janeiro. "Hoje nós vamos ter que negociar virtualmente, sem líder não há diálogo", afirmou. A cúpula da Segurança Pública teve uma reunião de emergência no Palácio Guanabara após os protestos que deixaram rastro de destruíção no Leblon e em Ipanema.
Sobre os excessos cometidos por parte da polícia e dos manifestantes, o secretário de segurança pública José Mariano Beltrame enfatizou mais uma vez que os mesmos não serão tolerados, nem nos protestos e "nem em lugar nenhum".
O coronel Pinheiro Neto, chefe do Estado-Maior da PM, informou que o acordo que foi feito entre polícia e manifestantes, de não usar o gás no protesto, não deu certo. "Estamos analisando novos procedimento técnicos para descobrir como agir".
Já a chefe de Polícia Civil Martha Rocha afirmou que a polícia continua investigando, mas que as prisões pelos crimes que ocorreram nos últimos protestos de vandalismo, formação de quadrilha e incitação ao crime, dano, desacato e lesão corporal preveem fiança. Ela alegou também que cabe a mídia ajudar a investigar os culpados. Beltrame também foi enfático ao afirmar que o planejamento para a visita do Papa Francisco, para a Jornada Mundial da Juventude, que ocorrerá na próxima semana na cidade, já está pronto.
"O planejamento para a visita do Papa está pronto. Ele tem um protocolo. A gente sabe o que vai acontecer na agenda desta autoridade. A questão da manifestação é diferente, a PM está adaptando, porque não há uma agenda coordenada. A gente está atento, mas tem que ver quando vai acontecer, se isso vai acontecer, porque a gente não tem esta informação"
Complementando o que Beltrame disse, o comandante da PM, coronel Erir afirmou "durante a Copa das Confederações, quem foi ao estádio, só soube do que houve nas ruas quando chegou em casa". O comentário foi uma menção ao que pode ocorrer na Jornada Mundial da Juventude, sobre os possíveis protestos durante a próxima semana.
A reunião de emergência com a cúpula da segurança pública do estado foi convocada pelo governador Sérgio Cabral após protestos realizados na noite de quarta-feira no Leblon.
Clima ficou tenso durante protesto
Por volta das 22h de quarta-feira, durante manifestação que ocorria nas imediações do Leblon, um princípio de tumulto ocorreu quando uma emissora de TV foi expulsa pelos manifestantes. Outro momento de tensão aconteceu quando um homem que parecia drogado ou alcoolizado tentou derrubar a grade da via Aristídes Espínola, onde mora o governador Sérgio Cabral, que foi fechada desde 17h30 por policiais militares.
Um jovem identificado apenas como Anderson foi detido durante o protesto e provocou revolta nas pessoas. Elas afirmam que ele foi preso e levado para o presídio de Japeri, na Baixada Fluminense. A comissão de direitos humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foi até o Tribunal da Justiça do Rio (TJ-RJ), nesta quinta, para protocolar o pedido de hábeas corpus do detido. Segundo a polícia, ele foi preso sob a acusação de formação de quadrilha, quando PMs revistaram a mochila do rapaz e encontraram dois morteiros.
Ainda na noite desta quarta, um rapaz foi retirado do local pelos próprios ativistas, sob acusação de ser agente do serviço reservado da PM (P2) e miliciano. Mais cedo, manifestantes queimaram um boneco que representava Cabral que estava preso à uma placa de trânsito. Em seguida, índios da Aldeia Maracanã fizeram uma pajelança no trecho. Questionado sobre a maré de azar do governador, o cacique Uratau, da etnia Guajajara, disse que "Cabral mexeu com ancestrais e índios de todo o Brasil ao fechar o Museu do Índio. O prédio é simbólico para todos nós", afirmou.
O cenário de destruição se estendeu por pelo menos quatro quarteirões. A polícia chegou a usar um caminhão pipa com jatos d'água em um grupo, que exclamou: "Levem essa água para a Baixada!". Após cerca de uma hora, eles marcharam até a residência do secretário de Segurança José Mariano Beltrame, na Rua Redentor, em Ipanema.
Um grupo seguiu para a Rua Visconde de Pirajá, a principal de Ipanema, no início da madrugada. Alguns apedrejaram quatro agências do Banco Itaú, uma do HSBC e uma do Bradesco, apenas no trecho entre a Avenida Henrique Dumont e a Praça Nossa Senhora da Paz. Uma loja da Toulon também foi depredada e as roupas foram distribuídas para os mendigos.