Rio - Três vítimas e quatro testemunhas de acusação do processo que apura o acidente com o bondinho de Santa Teresa, em agosto de 2011, foram ouvidas nesta quinta-feira, em audiência realizada na 39ª Vara Criminal. São réus no processo Gilmar Silvério de Castro, José Valladão Duarte, Cláudio Luiz Lopes do Nascimento, Zenivaldo Rosa Corrêa e João Lopes da Silva, respectivamente motorneiro, coordenador de manutenção e operação, chefe de manutenção da garagem e assistentes de manutenção dos bondinhos.
Na denúncia, os funcionários da empresa Central foram acusados do acidente, ocorrido quando um bonde descarrilou e tombou ao descer uma das ladeiras do bairro, deixando seis mortos e mais de 40 feridos. Um dos réus, Gilmar, não compareceu, assim como seus advogados, embora tenha sido intimado, e por isso o processo foi desmembrado em relação a ele, sendo nomeada uma defensora pública para defendê-lo.
Os primeiros ouvidos foram os dois peritos do Instituto de Criminalística Carlos Éboli (ICCE) que vistoriaram o bonde envolvido no acidente e outros bondes que atendem à região. Eles explicaram como funciona o sistema de frenagem dos veículos e disseram que, na perícia, ficou claro que, em vários deles, há uma mistura de peças novas com antigas, inclusive recuperadas com solda, o que, no longo prazo, poderia interferir no sistema de freios. A pedido do Ministério Público, houve análise de diversas fotos, com as respectivas explicações técnicas a respeito do funcionamento das peças que compõem o sistema de frenagem dos bondes.
Batida em ônibus
Em seguida, começaram a ser ouvidas as vítimas do acidente. Uma advogada que andava de bonde pela primeira vez contou que embarcou no Largo dos Guimarães e, lá, houve troca de motorneiro. Havia muita gente em pé, inclusive ela, que, como estava na parte de trás, foi uma das primeiras a conseguir sair.
Um delegado da Polícia Federal disse que estava com a ex-esposa e os dois filhos no primeiro vagão, ao lado do motorneiro – Nelson Correia da Silva –, que havia acabado de entrar. Ele perdeu a filha de 12 anos no acidente e relatou em detalhes o momento em que o veículo começou a acelerar em uma descida, enquanto o motorneiro tentava desesperadamente fazê-lo parar.
Dois motorneiros que trabalhavam no dia da tragédia também prestaram depoimento. Eles confirmaram que, pouco antes do descarrilamento, o bonde 10 se envolvera em um acidente com um ônibus da linha 206. Na Estação Carioca, foi dada ordem para que o bonde fosse recolhido à oficina. O veículo, então, saiu do local conduzido por Nelson, e levava também Gilmar, que não tinha autorização para embarcar passageiros.
No trajeto, Nelson desceu para fazer o boletim de ocorrência do acidente com o ônibus, tendo Gilmar assumido a direção do bonde, com a obrigação de levá-lo até a oficina. Minutos depois, ao visualizar o veículo voltando, lotado, Nelson foi ao seu encontro para ver o que tinha acontecido, e assumiu a condução.
A defesa dos réus apresentou uma relação com 21 testemunhas. Elas serão ouvidas no dia 24 de setembro, às 13h, quando também serão interrogados os acusados.