Rio - "Os atos de vandalismo organizados na cidade do Rio estão tendo como motivação a atuação de organizações internacionais que estão cada vez mais estimulando o quebra-quebra", declarou o governador Sérgio Cabral, durante entrevista coletiva na manhã desta sexta-feira. Cabral avaliou os protestos ocorridos ao longo das últimas semanas na Zona Sul, no entanto, não apontou que tipo de organização estaria atuando em apoio aos manifestantes.
Em razão dos recentes acontecimentos envolvendo atos de vandalismo, segundo ele, orquestrados por grupos organizados que estariam causando danos físicos de pessoas e destruindo patrimônios públicos e privados, o governador ressaltou a necessidade da criação da Comissão Especial de Investigação de Atos de Vandalismo em Manifestações Públicas.
Segundo Cabral, a comissão tem por fim organizar e promover maior eficiência na investigação e na tomada de providências para a prevenção de novos atos de vandalismo e punição de práticas criminais perpetradas. Farão parte desta comissão o Ministério Público, as polícias Civil e Militar e a Secretaria de Segurança do estado.
A presidência da comissão caberá a um dos representantes do Ministério Público, que será indicado pelo procurador-geral de Justiça. O secretário chefe da Casa Civil acompanhará os trabalhos da comissão, podendo solicitar informações necessárias para a tomada de decisões pelo governador do estado.
Caberá também à comissão realizar investigações sob a prática de atos de vandalismo no que diz respeito a requisitar informações, realizar diligências e praticar quaisquer atos necessários à instauração de procedimentos criminais com a finalidade de punição.
'Manifestações têm caráter diversos'
Em relação aos abusos cometidos pela polícia ao longo das manifestações, o governador ressaltou a importância da comissão, já que o Ministério Público e outros representantes de órgão fiscalizadores da Polícia Civil e da Polícia Militar, como as corregedorias, vão estar atuando nas investigações.
O governador considera que "essas manifestações que ocorrem há cerca de um mês e meio têm caráter diversos". "Já vi isso no passado, não é novidade que haja confronto, mas dessa forma que é feito no Brasil, nunca aconteceu", enfatizou ele.
Cabral admite que os processos pelos quais estão sendo analisadas tanto a reação dos manifestantes, quanto a reação da polícia, são um aprendizado. "Tenho me reunido com líderes comunitários, líderes das organizações do estado, no sentido de aperfeiçoar a relação entre a sociedade e a polícia".
Presidenta Dilma oferece ajuda
De acordo com Cabral, a presidenta Dilma Rousseff fez uma ligação oferecendo ajuda e se mostrando muito solidária com o que vem acontecendo nas ruas do Rio de Janeiro. "Disse à presidenta, que neste momento, esta ajuda não se faz necessária".
Sobre a reunião que o governador terá com o papa no Palácio da Guanabara, na próxima segunda-feira, Cabral afirmou que não foi detectada a necessidade de mudar o local por conta dos protestos. Ele acrescentou que, até o momento, a segurança dos líderes não estaria ameaçada
O governador afirma que continuará residindo no Leblon, mesmo com a onda de protestos na rua Aristides Espínola, onde ele mora.
Especialistas fazem críticas
Especialistas criticam a comissão criada por Cabral e as declarações do governador sobre supostas influências de organizações internacionais. “É um precedente perigoso, pois criminalizam antecipadamente um movimento legítimo e comparam manifestantes mais exaltados a bandidos”, opinou o professor de sociologia da UFF Guilherme Vargas, argumentando que as insinuações sobre infiltrações internacionais “só acirram ânimos”.
Márcio Donnici, advogado criminalista que atuou na época da Ditadura e hoje acompanha manifestações ao lado de colegas da OAB-RJ, também reprova a comissão.
“Manifestantes radicais são minoria absoluta. Se o governador tivesse convocado professores e médicos, a segurança iria melhorar”, ironizou, garantindo que o MP perderá a “função de fiscalizar”. Para o cientista político da Uerj Ignácio Cano, a comissão só será válida se “não generalizar” quem faz protestos por justas causas.
Autuados por incitação à violência
A Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática autuou dois jovens pelo crime de incitação à violência em redes sociais. Ambos negam intenção criminosa.
O administrador da página Anonymous Zona Norte, Carlos Eduardo Dezir Barbosa, técnico de informática, teria publicado “material ensinando como se fazer bomba de tinta para atingir viseiras de PMs e viaturas”, de acordo com o delegado da DRCI, Gilson Perdigão. Já Claudevan Alves dos Santos, o ‘Siamês’, teria publicado vídeos e comentários que incentivariam a violência contra a corporação.