Rio - Após 12 anos de mediação de conflitos e desenvolvimento de ações sociais no Complexo do Alemão, na Penha, o grupo cultural AfroReggae foi expulso do conjunto de favelas por ordem do tráfico, segundo o coordenador da ONG, José Júnior. A determinação para que deixassem a região foi dada quinta-feira por traficantes. A informação foi divulgada pela revista ‘Veja’ e Júnior falou, em entrevista coletiva, que o recado chegou por meio de um líder comunitário.
“Disseram que tínhamos que fechar porque senão iriam explodir o prédio e matar muita gente”, contou. Ele acusa o pastor Marcos Pereira, líder da Assembleia de Deus dos Últimos Dias, que está preso, de ser o mandante. Segundo Júnior, o pastor, preso em Bangu por acusação de estupro de duas fiéis da Igreja, também estaria por trás do incêndio na pousada mantida pelo AfroReggae, que ocorreu na madrugada de terça-feira. O local seria inaugurado dia 5 de agosto, para receber universitários do Brasil e do exterior que participariam de intercâmbio social.
“Se os 40 jovens já estivessem aqui poderiam ter sido mortos no incêndio criminoso”, diz Júnior. A redação do jornal comunitário ‘Voz da Comunidade’ também foi atingida pelas chamas.
Júnior afirma que tomou a decisão contra a sua vontade, mas priorizando a segurança dos 23 funcionários e dos 350 jovens e crianças atendidos no núcleo do Alemão. “Os funcionários ficaram com medo. E, para não colocar vidas inocentes em risco, decidimos fechar os três espaços no Alemão”, afirmou o coordenador da ONG, que tem andado 24 horas acompanhado por seguranças armados em um veículo blindado. “O pastor Marcos é um psicopata, um gigolô de traficantes. A maior mente criminosa do Rio”, acusou Júnior.
Transferência para outros núcleos
Funcionários da ONG no Complexo do Alemão serão transferidos depois do feriado da Jornada Mundial da Juventude para os outros núcleos do AfroReggae em Vigário Geral, Parada de Lucas, Nova Iguaçu, Cantagalo e Vila Cruzeiro, que fica no Complexo da Penha, vizinho ao Alemão).
José Júnior acusou o pastor Marcos de querer desestabilizar o governo às vésperas da chegada do Papa e ter comandado o tiroteio que ocorreu na Corrida da Paz, em maio.
“Não acho que tenha sido coincidência. Muitas coisas estão acontecendo no sentido de fragilizar o governo. Ele (pastor Marcos) tem uma relação política”, acrescentou.
José Júnior disse ainda que “se o narcotráfico fosse uma empresa, o pastor seria o presidente do conselho”. O coordenador da ONG garantiu que o trabalho de inclusão social por meio da arte, que vem sendo feito há 21 anos, vai continuar. “É possível que as ameaças cheguem aos outros núcleos. Mas não vamos parar”, prometeu ele.
José Júnior terá reunião com o comandante-geral da PM
O comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro Costa Filho, entrou em contato com o coordenador da ONG e marcou uma reunião para segunda-feira no Quartel-General da Polícia Militar para tratar do assunto.
José Júniro denunciou que vem sofrendo ameaças de morte desde março do ano passado, quando acusou publicamente o pastor Marcos de comandar a onda de ataques a ônibus incendiados no Rio de Janeiro, em 2006.
Ele voltou a dizer que se for assassinado, o culpado será o pastor que está preso em Bangu. “O AfroReggae nunca teve esse tipo de problema. Tudo começou após as denúncias sobre o pastor”, disse.
Segundo ele, bandidos que querem se entregar à Justiça estão sendo ameaçados por ordem do religioso. Júnior afirmou que não vai reabrir os espaços, mesmo com a presença da UPP. “A ameaça não é blefe. Não teria condições de garantir a segurança de todos”, lamenta ele, que dará queixa amanhã na 22ª DP.
Pastor investigado por quatro crimes
O pastor Marcos foi preso em 2 de maio, acusado de estupro. Ele é investigado pela Polícia Civil também por lavagem de dinheiro, associação para o tráfico e quatro homicídios. Um dos assassinatos seria o de uma jovem que teria presenciado orgias promovidas por ele em apartamento, avaliado em R$ 8 milhões, em Copacabana.Júnior o acusa de ter influência no Comando Vermelho, facção que dominava o Alemão antes da instalação da UPP. A defesa do pastor nega tudo.