Por tamyres.matos

Rio - A dinâmica das manifestações do Rio de Janeiro tem seguido um padrão desde quando estouraram com os protestos contra o aumento nos preços e a má qualidade do serviço dos transportes públicos na cidade em junho. Os participantes se reúnem no local combinado através do Facebook. Palavras de ordem são proferidas e o percurso começa a ser traçado, sem nenhum tipo de ocorrência violenta. Após o período de passeata, disseminam-se os focos de confusão.

Policiais acusam manifestantes de atacar com pedras e coquetéis molotov e disparam balas de borracha e lançam bombas de efeito moral em direção à multidão. Integrantes do protesto acusam PMs de truculência e de terem agentes provocadores "disfarçados" de manifestantes incitando o tumulto para poder agir contra alvos imediatamente taxados de vândalos e baderneiros.

PMs prendem manifestante durante confronto na Rua Pinheiro Machado%2C em LaranjeirasUanderson Fernandes / Agência O Dia

Na última segunda-feira, dia da cerimônia de recepção ao Papa Francisco no Palácio Guanabara, sete pessoas foram detidas pela Polícia Militar e levadas até a 9ª DP (Catete) após o tumulto nos arredores da sede do poder executivo estadual. Entre as acusações, incitação à violência, porte de artefato incendiário, desacato, formação de quadrilha. Todos acabaram liberados logo depois, menos o jovem Bruno Ferreira, preso acusado de ser o responsável por lançar o primeiro coquetel molotov contra os policiais e levado para Bangu II.

Advogados da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) conseguiram a liberação de Bruno após diversos vídeos publicados mostrando o momento exato no qual o artefato é lançado na direção dos policiais. A princípio, a PM afirmou que o rapaz seria o responsável por começar os ataques contra os PMs.

De acordo com a Polícia Civil, a Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática (DRCI) capturou as imagens postadas nas redes sociais. "Os vídeos foram encaminhados à 9ª DP (Catete), responsável pelo inquérito, que solicitará perícia, com o objetivo de verificar a qualidade e eventual edição. Por meio de ofício, a 9ª DP informará à 21ª Vara Criminal sobre a perícia, já que o caso foi concluído e encaminhado à Justiça", diz a nota da Civil.

Durante o protesto, a PM postou em seu Twitter um vídeo no qual aparecia o exato momento no qual um explosivo é atirado em direção aos policiais. O link deste vídeo chegou a ser removido do Youtube, no entanto, em resposta às acusações, foi publicada uma nova versão que desmentiria a participação de homens do Serviço Reservado (P2) nos ataques.

Imagem de PMs atingidos por coquetel molotov foi capturada por fotojornalista que afirma ter sido agredido por policiaisReprodução Internet

Internautas usaram vídeos do mesmo momento para destacar as características do responsável pelo lançamento do coquetel molotov, que seria um policial. Além disso, há outros vídeos que apontam a presença de homens mascarados que seriam da P2 nas confusões e depois a aproximação destes do restante dos policiais.

A PM reconhece o uso de infiltrados e não nega que, em alguns momentos, eles atuem mascarados, tal qual os manifestantes. No entanto, todas as acusações de envolvimento com atos de violência são negadas. Segundo a polícia, estes agentes atuam para identificar os responsáveis por atos de vandalismo e outros crimes durante as manifestações.

Fotojornalista Yasuyoshi Chiba é ferido por PMs durante protesto na Zona Sul do RioUanderson Fernandes / Agência O Dia

Ao saber das acusações, que foram abordadas até mesmo pelo conceituado The New York Times, o relações-públicas da PM, coronel Frederico Caldas, se disse "enojado" e afirmou que considera um absurdo imaginar que um policial possa agredir um colega de profissão. Após o tumulto de segunda, cinco manifestantes e dois policiais militares ficaram feridos, mas todos já receberam alta.

Ainda durante a confusão de segunda, foi publicado no Twitter oficial da corporação uma imagem de um grupo de policiais cujos escudos foram atingidos por um coquetel molotov. A curiosidade é que o mesmo fotojornalista que fez o registro acusa policiais de agressão.

"Vi um manifestante cair no chão. Os policiais o agarraram e o levaram. Fotografava a cena quando fui bruscamente empurrado por outros policiais. Então levantei os braços com minha câmera para mostrar que era fotógrafo e que tinha intenções pacíficas, mas um policial de uniforme e escudo me acertou a cabeça com o cassetete", disse o fotógrafo japonês Yasuyoshi Chiba, da AFP.

Acompanhe uma sequência de vídeos sobre os fatos da última segunda:


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