Por thiago.antunes

Rio - O núcleo do grupo cultural AfroReggae na Favela Vila Cruzeiro, na Penha, Zona Norte do Rio, foi atacado na tarde desta quinta-feira por um grupo de traficantes. Segundo o coordenador da ONG, José Júnior, que divulgou a notícia através do Twitter, a fachada do local ficou destruída. 

Em outra postagem na rede social, Júnior afirmou que o local vai continuar funcionando. "Nao vms fechar ! Esses atentados fazem parte da estratégia dos covardes q querem mostrar o q nao tem: força !!!!!!", escreveu. 

Em nota, a assessoria das UPPs confirmou que policiais da UPP Parque Proletário trocaram tiros com criminosos que passaram de moto atirando contra o prédio da ONG AfroReggae que fica localizada na Praça São Lucas, no Parque Proletário. "A fachada do prédio foi alvejada por diversos tiros mas ninguém ficou ferido. Os policiais da UPP estavam na frente da Ong reforçando a segurança do prédio quando duas motos passaram com dois ocupantes cada e efetuaram os disparos. Os policiais reagiram e seguiram em perseguição ao bandidos que fugiram em direção ao morro da Chatuba, na Penha. Os policiais das UPPs da região estão fazendo cerco para localizar os criminosos".

A ação ocorreu apenas um dia depois da sede do AfroReggae ser reaberta na Favela da Grota, no Complexo do Alemão, também na Penha, nesta quarta-feira. A ONG retomou as atividades 15 após um incêndio que destruiu parte de sua pousada na comunidade. Mas poucas horas antes da cerimônia, a hospedagem foi novamente alvo de pelo menos nove tiros de fuzil.

'Tentaram nos intimidar', diz coordenador

Na ocasião, José Júnior descreveu a situação como um retrocesso. "Tentaram nos intimidar para que a gente não reabrisse hoje. Mas seria um retrocesso. Se eu disser que não estamos com medo, vou estar mentindo. Só que o processo de pacificação não pode voltar atrás. E o AfroReggae não pode compactuar com isso”.

O governador Sérgio Cabral estava tenso durante a cerimônia. E pediu a compreensão dos moradores da comunidade e de toda a população: “A UPP não é perfeita. Se o Amarildo sumiu, vamos atrás do Amarildo. Se o AfroReggae fechou, vamos reabrir. A quem interessa desmoralizar um projeto que não é do meu governo, mas da sociedade? A gente tem que lutar para melhorar o projeto, e não para desmoralizá-lo”.

Aliança entre AfroReggae e Governo do Estado do Rio é selada em reuniãoEstefan Radovicz / Agência O Dia

De acordo com os moradores vizinhos à sede do AfroReggae, os tiros desta madrugada teriam sido disparados por traficantes ligados ao pastor Marcos Pereira, preso acusado de estupro e ligação com o tráfico, após ter sido denunciado por José Junior.

“A matemática é simples: grana. Duas ONGs faturavam na favela. A do Júnior e a do Pastor. Se um caiu por causa do outro, a represália não tardaria”, contou um morador.

"Nós não vamos sair daqui. Isso foi uma demonstração de fraqueza e não de força. Eles (os traficantes) queriam intimidar para não abrir hoje. Nós temos o apoio do governador e do prefeito Eduardo Paes", disse José Junior.

Repasse de R$ 3,5 milhões

A prefeitura divulgou nesta quarta no Diário Oficial, repasse de R$ 3,5 milhões ao AfroReggae. A despesa foi despachada pelo secretário municipal de Cultura, Sérgio Sá Leitão. Até a noite de ontem, a Secretaria de Cultura não detalhou o destino da verba. No Diário Oficial, consta que o apoio financeiro é para fins educativos, culturais e sociais.

Wagner Moraes da Silva, 20 anos, acusado de ter incendiado a pousada do AfroReggae, morreu ontem no Hospital Pedro II, onde estava internado sob custódia, após ter 30% do corpo queimado. Ele havia dito à polícia que tentou apagar o incêndio, e era investigado por suposta ligação com o tráfico.

Reinauguração da ONG do AfroReggae teve a presença do governador Sérgio Cabral%2C o vice Luiz Fernando Pezão e o secretário de Segurança José Mariano BeltrameEstefan Radovicz / Agência O Dia

'Movimento é contra líder do AfroReggae', diz Beltrame

O secretário José Mariano Beltrame acredita que os ataques de facções criminosas não sejam contra as UPPs instaladas no Complexo, mas contra o coordenador do AfroReggae. "Nós não podemos esquecer do que tínhamos aqui. A ação do tráfico aqui. A polícia daqui não sai, só aumenta. O movimento é mais contra ele, contra a sua história, mais do que contra a UPP", explicou.

O governador Sérgio Cabral afirmou que a política de segurança já foi acertada e acrescentou que quer aperfeiçoar ainda mais as UPPs.

José Júnior disse que vai passar a andar escoltado por seguranças, pois se sente ameaçado desde que denunciou o pastor Marcos Pereira. "Eu não estou seguro desde fevereiro de 2012, quando denunciei o pastor Marcos Pereira. Já estamos numa guerra. Ja está declarado que há uma guerra e querem me matar. Eu tenho receio pelos inocentes", afirmou.

José Júnior afirmou que tem o apoio do prefeito e do governadorEstefan Radovicz / Agência O Dia

Segundo o coronel das UPPs Paulo Henrique de Moraes, os tiros foram disparados da Favela Nova Brasília, que fica há dois quilômetros da pousada do Complexo do Alemão, na Zona Norte. O autor dos disparos ainda não foi identificado, mas a polícia segue investigando os ataques contra o AfroReggae.

As aulas de música, de dança e outras atividades que o AfroReggae coordena serão retomadas nesta quarta-feira. A pousada, que continua fechada, não vai atrapalhar o serviço social do grupo.

Morre homem suspeito de atear fogo na sede do AfroReggae

O suspeito de atear fogo no prédio do AfroReggaee, Wagner da Silva, morreu na madrugada desta quarta feira. Ele estava internado no Hospital Pedro II, em Santa Cruz e tinha queimaduras graves pelo corpo.

Wagner chegou a ser indiciado pela polícia como autor do incêndio que destruiu a redação do jornal A Voz da Comunidade e parte da pousado da ONG. O incêndio foi na madrugada do dia 16 de julho. Alguns objetos chegaram a ser furtados na ocasião.

Garantia de segurança

No dia 23, o prefeito Eduardo Paes chegou a se reunir com José Júnior para oficializar a intenção da prefeitura em assumir as dependências da ONG do grupo cultural. Segundo o coordenador do AfroReggae, traficantes os expulsaram da comunidade no dia do incêndio criminoso na pousada e no jornal Voz da Comunidade, forçando o AfroReggae a encerrar suas atividades no local.

Também no dia 23, o governador Sérgio Cabral assegurou que garantiria a segurança da ONG, caso a equipe retomasse às atividades.

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