Por thiago.antunes

Rio - "Todo ataque ao AfroReggae e que nos coloca com a imagem arranhada tem envolvimento do pastor Marcos Pereira e do Comando Vermelho. Ontem mesmo (quarta-feira) tentaram quebrar a fachada. Hoje às 17h50 recebi o telefonema de um morador informando que dois traficantes em uma moto alvejaram nossa fachada de vidro, que ficou completamente destruída. Soube que foram mais de 30 tiros." A declaração é do coordenador da ONG, José Júnior, após o núcleo do grupo cultural na Favela Vila Cruzeiro, na Penha, ter sido atacado na tarde desta quinta-feira.

"Mesmo com esses ataques, nós não vamos desistir do núcleo e ele não será fechado", afirmou. Mais cedo, Júnior escreveu sobre o atentado no Twitter. 

Pela rede social, o coordenador do AfroReggae também garantiu o funcionamento da unidade. "Nao vms fechar ! Esses atentados fazem parte da estratégia dos covardes q querem mostrar o q nao tem: força !!!!!!", postou.

Em nota, a assessoria das UPPs confirmou que policiais da UPP Parque Proletário trocaram tiros com criminosos que passaram de moto atirando contra o prédio da ONG AfroReggae que fica localizada na Praça São Lucas, no Parque Proletário. "A fachada do prédio foi alvejada por diversos tiros mas ninguém ficou ferido. Os policiais da UPP estavam na frente da Ong reforçando a segurança do prédio quando duas motos passaram com dois ocupantes cada e efetuaram os disparos. Os policiais reagiram e seguiram em perseguição ao bandidos que fugiram em direção ao morro da Chatuba, na Penha. Os policiais das UPPs da região estão fazendo cerco para localizar os criminosos".

A ação ocorreu apenas um dia depois da sede do AfroReggae ser reaberta na Favela da Grota, no Complexo do Alemão, também na Penha, nesta quarta-feira. A ONG retomou as atividades 15 após um incêndio que destruiu parte de sua pousada na comunidade. Mas poucas horas antes da cerimônia, a hospedagem foi novamente alvo de pelo menos nove tiros de fuzil.

José Júnior afirmou que tem o apoio do prefeito e do governadorEstefan Radovicz / Agência O Dia

'Tentaram nos intimidar', diz coordenador

Na ocasião, José Júnior descreveu a situação como um retrocesso. "Tentaram nos intimidar para que a gente não reabrisse hoje. Mas seria um retrocesso. Se eu disser que não estamos com medo, vou estar mentindo. Só que o processo de pacificação não pode voltar atrás. E o AfroReggae não pode compactuar com isso”.

O governador Sérgio Cabral estava tenso durante a cerimônia. E pediu a compreensão dos moradores da comunidade e de toda a população: “A UPP não é perfeita. Se o Amarildo sumiu, vamos atrás do Amarildo. Se o AfroReggae fechou, vamos reabrir. A quem interessa desmoralizar um projeto que não é do meu governo, mas da sociedade? A gente tem que lutar para melhorar o projeto, e não para desmoralizá-lo”.

Aliança entre AfroReggae e Governo do Estado do Rio é selada em reuniãoEstefan Radovicz / Agência O Dia

De acordo com os moradores vizinhos à sede do AfroReggae, os tiros desta madrugada teriam sido disparados por traficantes ligados ao pastor Marcos Pereira, preso acusado de estupro e ligação com o tráfico, após ter sido denunciado por José Junior.

“A matemática é simples: grana. Duas ONGs faturavam na favela. A do Júnior e a do Pastor. Se um caiu por causa do outro, a represália não tardaria”, contou um morador.

"Nós não vamos sair daqui. Isso foi uma demonstração de fraqueza e não de força. Eles (os traficantes) queriam intimidar para não abrir hoje. Nós temos o apoio do governador e do prefeito Eduardo Paes", disse José Junior.

Repasse de R$ 3,5 milhões

A prefeitura divulgou nesta quarta no Diário Oficial, repasse de R$ 3,5 milhões ao AfroReggae. A despesa foi despachada pelo secretário municipal de Cultura, Sérgio Sá Leitão. Até a noite de ontem, a Secretaria de Cultura não detalhou o destino da verba. No Diário Oficial, consta que o apoio financeiro é para fins educativos, culturais e sociais.

Wagner Moraes da Silva, 20 anos, acusado de ter incendiado a pousada do AfroReggae, morreu ontem no Hospital Pedro II, onde estava internado sob custódia, após ter 30% do corpo queimado. Ele havia dito à polícia que tentou apagar o incêndio, e era investigado por suposta ligação com o tráfico.

Você pode gostar