Por tamyres.matos

Na tarde do dia 18 de julho, quando as ruas e os restaurantes de Santa Teresa estavam cheios de turistas, muitos deles estrangeiros, um grupo de assaltantes, já conhecido pelos moradores do bairro, iniciou um arrastão pela Rua Hermenegildo de Barros. Chegaram a invadir uma casa, mas um morador percebeu a ação e chamou a polícia. Ao notar a aproximação do carro da PM — que tem uma base no bairro —, os ladrões fugiram, deixando cair no chão facas e um machadinho com as quais ameaçavam os moradores.

Longe de ser incomum, a cena é cada vez mais frequente no bairro que já foi sinônimo de tranquilidade. As ladeiras bucólicas de Santa Teresa são hoje cenários propícios ao crime. Desde dezembro, os roubos a transeuntes vêm crescendo. Foram 11 em dezembro, 13 em janeiro, 14 em fevereiro. Saltaram para 21 em março, 22 em abril e chegaram a 24 em maio. São dados oficiais do Instituto de Segurança Pública (ISP).

Com os rostos encobertos por medo dos bandidos%2C que já são seus ‘velhos conhecidos’%2C moradores pedem mais segurança nas ruas de Santa TeresaJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

Apesar das estatísticas, o delegado Eduardo Baptista, titular da 7ª DP (Santa Teresa), considera o bairro seguro: “A violência não subiu aqui, Santa Teresa é tranquilo em comparação com outros bairros”. Segundo Baptista, a responsabilidade pelo policiamento é da Polícia Militar e da Delegacia de Atendimento ao Turista (Deat). Mesmo assim, o delegado mantém turmas de ronda da 7ª DP pelo bairro.

Os moradores, contudo, não desfrutam da mesma sensação de segurança que o delegado Baptista. O comerciante Paulo Gonçalves, 36 anos, já foi assaltado várias vezes e, com ajuda de outros moradores, passou a colocar cartazes e panfletos nas áreas com maior índice de violência. Nos postes estão várias alertas do tipo: “Cuidado: área de assaltos”. Para Gonçalves, a maioria dos turistas vítima de assaltos não registra queixa nas delegacias. E muitos moradores acabam fazendo o mesmo, com medo de represálias dos bandidos.

“Violência não se combate com violência, mas com educação e esporte, para os mais novos saírem do mundo do crime”, defende o comerciante, para quem o perfil dos assaltantes é de jovens de até 20 anos, que conhecem bem o bairro e sabem traçar rotas de fuga com a chegada da polícia.

Nas barbas da Polícia Militar

Nem a proximidade de um posto da PM, que fica na mesma rua, a 50 metros do local, impediu que bandidos armados fizessem um arrastão no Bar do Mineiro, um dos mais tradicionais da cidade, na noite de 7 de junho. O crime virou um ícone do clima de insegurança no bairro.

Bandidos levaram carteiras e celulares dos clientes, muitos deles estrangeiros, e mais R$ 500 do caixa. A ação durou menos de dois minutos, e os bandidos fugiram num Corolla prata pela Rua Paschoal Carlos Magno, antes que o primeiro carro da PM chegasse, dez minutos depois.

Uma tranquilidade quebrada por casos de repercussão nacional

27 DE ABRIL DE 2001. Considerado o crime mais violento da história recente do bairro, o assassinato da fonoaudióloga Márcia Maria Lyra, de 43 anos, comoveu o país. Os bandidos renderam Márcia quando ela chegava do trabalho em sua casa, às 18h, e lá permaneceram até as 22h. Beberam, saíram para fazer saques com cartões roubados e atacaram a filha de Márcia, de 13 anos, que foi estuprada e esfaqueada diante da mãe. Márcia tentou defendê-la, foi também estuprada e depois morta a facadas. Em 2002, o assassino foi condenado a 40 anos de cadeia.

26 DE OUTUBRO DE 2010. Dez homens invadiram de madrugada a casa da economista Yolanda Fonseca, de 57 anos, e mantiveram a família dela refém por duas horas. Beberam muito e fugiram com dinheiro, celulares e máquinas fotográficas.

21 DE JULHO DE 2011. A casa de Maria Lúcia Ferraro, de 45 anos, foi invadida por três homens que a amarraram enquanto reviravam a casa. Mesmo imobilizada, Maria conseguiu pedir socorro e foi resgatada por PMs, que chegaram a trocar tiros com os assaltantes. Mas eles fugiram.

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