Rio - Em vez de passageiros, marcas de tiro, lixo, restos de drogas, pichações e material de obras largados. Este é o cenário de estações do BRT Transoeste de Campo Grande a Santa Cruz, que deveriam ter sido inauguradas no início deste ano, mas estão em total abandono. A empresa Sanerio, responsável por fazer as obras, orçadas em R$ 84 milhões, teve o contrato cancelado pela prefeitura por não ter entregue 15 das 30 estações que o trecho prevê. Ela deixou um rastro de materiais espalhados pela via. Segundo a Secretaria Municipal de Obras, a construtora Mascarenhas Barbosa Roscoe foi contratada em caráter emergencial — sem licitação — para retomar os trabalho.
Enquanto isso, impera o descaso com o que já foi construído com o dinheiro público empenhado nas estações-fantasma da Avenida Cesário de Melo. Além das pichações, lixo e marcas de tiros no interior das estruturas — na primeira visita ao local pela reportagem, traficantes circulavam armados pelo local e, na quarta-feira, um funcionário rodoviário urinava em uma estação —, materiais caros abandonados, já pagos, estão sendo furtados.
Segundo a fornecedora de portas elétricas das estações, 25 correias que custam R$ 70 cada, 25 baterias, de R$ 400 e três placas controladoras, de R$ 2 mil, já foram roubadas. A empresa, assim como a que forneceu a iluminação, retirou todo o equipamento instalado, por temer novos saques e por não ter recebido o pagamento pela Sanerio. “Estamos retirando todo o material que já tínhamos posto nas estações, porque, assim, o prejuízo do calote será menor. Além disso, estão roubando tudo. Daqui a pouco, não sobrará nem a telha. Vai ficar só a base”, disse um funcionário.
Outro fornecedor disse que o local, à noite, também tem servido de dormitório para moradores de rua e como ponto de venda de drogas para traficantes e usuários.
Mesmo sem ter posto nenhum tipo de segurança nas estações, o secretário de Obras considerou o ato de recolher os materiais como “furto” por parte das empresas, e disse que tem prestado queixa na polícia contra isso. “Eles estão cometendo um crime e devem ser processados. Não me interessa se a construtora deu calote no fornecedor, eles que se resolvam na Justiça”, comentou.
R$ 2 milhões a mais para fazer a obra
Segundo o secretário municipal de Obras, Alexandre Pinto, a empresa que entrará no canteiro abandonado na semana que vem terá que entregar as estações, além de alargar uma pista, até dezembro. A Mascarenhas Barbosa Roscoe terá R$ 21 milhões, R$ 2 milhões a mais do que seria repassado à Sanerio, pelo orçamento de 2011, para concluir a obra.
Ela foi escolhida emergencialmente porque a segunda colocada na licitação de 2011, a Andrade Gutierrez, que deveria assumir a função, recusou o serviço “por compromissos com outras obras”. A terceira, Delta, não pode assumir contratos com a administração pública por ser considerada inidônea pela Controladoria-Geral da União (CGU).