Por tamyres.matos

Rio - Relatos de violência policial e desrespeito aos direitos humanos foram colhidos pelo secretário-geral da Anistia Internacional, Salil Shetty, em visita à Favela da Maré, na segunda-feira. Numa reunião com lideranças locais e moradores, Salil avaliou que não há melhor forma de conhecer a realidade do Brasil do que visitar uma comunidade carente como a Maré.

“Eu não consigo imaginar um policial tendo a coragem de chutar a porta da casa de um morador do Leblon sem a devida autorização para isso. Mas é o que acontece aqui na Maré”, comparou Salil.

Salil Shetty (à esquerda) colocou a Anistia à disposição de moradoresDivulgação

HISTÓRICO DE VIOLÊNCIA

Para ele, o número de homicídio cometidos por policiais no Brasil é espantoso.
“Os moradores precisam se organizar, se reunir, denunciar. Sabemos que é complicado e que muitas vezes os crimes são arquivados por falta de evidências, mas a Anistia Internacional pode ajudar a cobrar investigações e a fazer com que os culpados sejam punidos”, explicou.

O conjunto de favelas da Maré, na Zona Norte, tem histórico de operações violentas por parte da polícia, a última delas na noite de 24 de junho, que terminou com a morte de 10 pessoas na Nova Holanda — entre elas, um sargento do Batalhão de Operações Especiais (Bope) e nove moradores da comunidade. Alguns deles não tinham passagem pela polícia.

No dia 2 de maio, policiais militares também foram acusados de entrar de forma truculenta na favela, invadir casas e cometer abusos contra os moradores. Muitos tiveram suas casas reviradas, sem qualquer mandado de busca e apreensão, com perdas materiais.

Máquina fotográfica no vaso sanitário

Fotógrafo e morador da Maré, Bira Figueiredo, que teve sua casa invadida por homens do Batalhão de Choque neste ano, participou da reunião com Salil Shetty. Bira contou que, além de ter gavetas e armários revirados, seu equipamento fotográfico profissional foi jogado no vaso sanitário.

Ainda segundo ele, esses abusos foram denunciados em várias instâncias do governo, mas nada foi feito até agora pelas autoridades para apurar e punir os responsáveis. Os complexos da Maré e do Lins são os primeiros da fila para receber novas UPPs (ainda não há data). Para o novo comandante da PM, coronel Luís Castro, será preciso empregar efetivo de 1,5 mil homens na Maré.

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