Rio - Em unidade de saúde planejada para salvar vidas, cenas que dão arrepio. No setor de tratamentos de quadros complexos, no Hospital Municipal Pedro II, em Santa Cruz, cadáveres enrolados em sacos plásticos dividiam espaço com pacientes em estado grave.
A situação digna de filmes de terror, foi descoberta por parentes na noite do último domingo. Depois de esperarem muitas horas por informações médicas (algumas famílias, por mais de 24 horas), parentes de pacientes invadiram a unidade.
“Minha avó chegou ao hospital às 5h30, com falta de ar e dor no tórax. Às 20h30, entrei na Sala Vermelha (como é conhecido o setor), em busca de informações. Tudo o que encontrei, no entanto, foi o cadáver dela em cima de uma maca e envolto em um saco, que parecia de lixo”, denunciou Gracieth Santos.
FALHA
A direção do Hospital Pedro II informou que a avó de Gracieth, Maria José Baptista, não resistiu a um enfarte agudo no miocárdio e morreu às 15h de domingo. A falta de informações à família sobre a morte e a permanência por mais cinco horas do corpo no local foram atribuídas a uma “falha de comunicação” pela unidade, que integra a rede municipal de Saúde.
O hospital admite um segundo óbito ocorrido no domingo. As pessoas que entraram no local garantem, porém, terem visto um terceiro corpo. E relataram terem sentido um forte cheiro.
Ao perceber que as pessoas registravam imagens do local, seguranças teriam passado a agir com truculência para retirá-las de lá. “Fui empurrada contra a porta e tive minha boca machucada. Sou mulher e ando de bengalas. Foi uma covardia”, disse a dona de casa Marinalva de Oliveira, de 60 anos.
Segundo ela, José Antônio Filho, de 48 anos, com quem é casada, foi transferido para o Hospital Pedro II para se submeter a transfusões de sangue, e só fez um pedido quando a viu: “Ele implorava por água e um prato de comida, coisas que ele disse não ter visto em 24 horas. Nesse lugar, deixam que o doente apodreça vivo”, reclamou a dona de casa.
A direção do Hospital Pedro II informa que tomará providências para que fatos como esses não se repitam e se coloca à disposição dos familiares para prestar mais informações sobre o atendimento na unidade.
‘Agressão à dignidade humana’
Segundo o delegado da 36ª DP (Santa Cruz), uma queixa havia sido registrada até ontem, por suposta omissão de socorro. Contudo, o número de representações deve aumentar. Gracieth Santos disse que ainda não havia ido à delegacia por falta de tempo: “Estou envolvida com o enterro da minha avó, mas quero que o óbito seja investigado”.
As condições da unidade causam indignação entre especialistas: “Mortos e pacientes terminais mantidos sob o mesmo teto são uma agressão à dignidade humana. Além do natural aumento do risco de infecções hospitalares entre os doentes, a situação retrata o descaso da saúde pública com a vida e com o lado psicológico dos pacientes”, sentencia o infectologista Marco Aurélio Safadi.
Reportagem: Gabriel Sabóia




