Por nara.boechat

Rio - Sob o teto do Estado do Rio, dois oficiais da PM curtem, há quatro anos, a vida dos reis tão desejada por milhões de seres humanos. Recebem os salários todos os meses mesmo sem trabalhar um dia sequer. Investigados por envolvimento em assassinato ligado ao jogo do bicho, o capitão Adriano Magalhães da Nóbrega e o tenente João André Ferreira Martins são agraciados ainda com os mesmos benefícios de quem rala o mês inteiro atrás dos criminosos no Rio. Uma bolada: Adriano fatura R$ 7,1 mil, enquanto João coloca no bolso R$ 6,4 mil sem fazer esforço.

Martins (camisa preta) e Nóbrega (listrada) já passaram pelo BopeJadson Marques / Agência O Dia

Entre as gratificações pagas pela PM aos oficiais, ambos com passagem pela turma de elite do Batalhão de Operações Especiais (Bope), uma chama a atenção: o auxílio moradia. Exatamente isso. Mesmo com os agentes afastados por suposta participação no crime organizado, o Estado continua propiciando o conforto da dupla, que mora em áreas privilegiadas do Rio — como Recreio dos Bandeirantes e Ilha do Governador. Só esta ‘ajudinha’ extra custa aos cofres do Estado a expressiva quantia mensal de R$ 1,3 mil para Adriano, e R$ 1,2 mil, a João.

Justiça lenta

O cenário esdrúxulo é a combinação da lentidão da Corregedoria Geral Unificada em investigar os atos dos policiais militares e a conhecida morosidade do Tribunal de Justiça em julgar o processo, encaminhado há dois anos (em 5 de julho de 2011) pela Secretaria de Segurança. No documento, o sindicante decide pela exclusão dos policiais pelo notório envolvimento com a máfia da contravenção. Mas, como são oficiais da PM, têm direito por lei à análise do caso pela Seção Criminal do TJ.

Entre as histórias dos dois policiais, a de Martins é a que causa mais perplexidade. Em 15 anos de PM, o oficial só trabalhou a metade. Afastado do serviço desde 2009 pela ligação nas mortes do jogo do bicho, ele já foi submetido a outra investigação, em 2003. Por participar da sessão de tortura a um morador do Morro da Coroa, no Catumbi, ficou três anos longe do trabalho. Mesmo condenado a cinco anos e três meses de cadeia e a perda da função pública pelo crime, recorreu da decisão e ganhou o direito de manter-se na ativa até que todos os recursos judiciais estejam esgotados.

Na Guerra do Batom

Formados na mesma turma (2000) do curso de operações especiais da PM, os amigos Adriano Nóbrega e João Martins integram, segundo as investigações da Subsecretaria de Inteligência, o exército do contraventor Alcebíades Garcia, o Bid, e têm participação ativa na Guerra do Batom — como é conhecida a briga entre os herdeiros do bicheiro Waldemir Paes Garcia, o Maninho, assassinado em 2004.

Os dois PMs são réus na tentativa de homicídio e no assassinato de Rogério Mesquita, e foram presos em duas grandes operações policiais desencadeadas em 2011: a Dedo de Deus — contra a cúpula da contravenção do Rio — e a Tempestade no Deserto, justamente para deter os envolvidos com a quadrilha de Shanna Harouche Garcia — filha de Maninho e que disputa com os irmãos e o tio o controle do jogo na Zona Sul e Tijuca.

Auxílios inflam rendimentos

As gratificações são o fermento nos salários de Adriano Nóbrega e João Martins. Além do auxílio moradia, os oficiais têm direito, apesar de não aparecer para trabalhar um dia sequer; ao adicional por habilitação (curso de especialização no valor de R$ 987 (Adriano) e R$ 888 (João).

Outra bocada é o benefício por ‘regime especial de trabalho militar’. Ou seja: mesmo distante do batente, eles faturam R$ 1,8 mil (Adriano) e R$ 1,6 mil (João) pelo tal do ‘trabalho militar’. A lotação dos dois é na Diretoria Geral de Pessoal (DGP) — conhecida na PM como a ‘geladeira’, onde o policial aguarda lotação.

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