Rio - Após mais uma noite (terça-feira) de quebradeira nas imediações do Palácio Guanabara, promovida por radicais e possíveis integrantes do grupo Black Bloc, comerciantes do bairro resolveram partir para a reação por conta própria, uma vez que consideram que a polícia não tem conseguido manter a situação do (outrora) pacato bairro sob controle. Eles estão se organizando para contratar uma empresa de segurança privada para proteger seu patrimônio. A ideia é que os seguranças privados patrulhem as ruas das Laranjeiras e Pinheiro Machado.
Além disso, eles estão encomendando câmeras de segurança para gravar imagens de depredação. “Vamos colocar câmeras particulares na rua, porque as da CET-Rio e da prefeitura não estão sendo usadas para identificar os vândalos. Com as nossas gravações, levaremos as imagens direto para o Ministério Público, e nós mesmos faremos as denúncias”, disse Augustin Seixas, dono de uma padaria próxima ao palácio.
Dona de um bazar na Rua das Laranjeiras, Roberta Guimarães recolhia, pela segunda vez, os estilhaços da sua vitrine. “Quebraram e roubaram todos os produtos da vitrine, que eram os mais caros. Tive um prejuízo de R$ 1 mil só para recolocar a vidraça. Já é a segunda vez que isso acontece”.
Vendedor de uma loja na mesma rua, Luciano Francisco da Silva, 36, concorda que chegou a hora de contratar uma empresa de segurança privada. “A polícia não está preocupada com os lojistas. A imprensa consegue filmar arruaceiros sem dificuldades, mas a polícia não chega perto e não prende ninguém. Estamos sofrendo na mão deste grupo violento, e nenhum integrante é preso, mesmo com diversos vídeos pela internet que permitem a identificação”.
Na Rua Pinheiro Machado, Manoel Santana, dono de uma lanchonete diz que não ficará de fora. “Queremos que a segurança privada olhe pelo nosso comércio, já que o estado nos abandonou. A gente gasta consertando, pega empréstimo, e no dia seguinte vê tudo quebrado de novo. É um absurdo, e mais absurda ainda a omissão da polícia”.
Em meio aos prejuízos, comerciante diz que preço do vidro até subiu de R$ 150 para R$ 750, com a alta da demanda para a reposição de fachadas e vitrines depredadas.
Ação de encapuzados atinge área cada vez maior
A noite de terça-feira foi a gota d’água para moradores e comerciantes do bairro. As cenas de depredação, que partiram de grupos de pessoas encapuzadas, se estenderam até o Cosme Velho. O Túnel Rebouças chegou a ser fechado. O bairro amanheceu ontem com vidros de agências bancárias quebrados, pontos de ônibus depredados, entre outros estragos.
Para o advogado criminalista Rafael Borges, do escritório Nilo Batista, Advogados e Associados, diversas ações configuram crimes. “Nos danos ao patrimônio privado, depende da iniciativa do ofendido para que uma ação penal seja requerida. Já nos danos ao patrimônio público, o próprio Ministério Público poderia ajuizar uma ação contra os radicais identificados em vídeos”.
Presidente da Associação de Moradores de Laranjeiras, Maria Glória Figueiredo de Souza, não entende porque a polícia tem deixado os baderneiros à vontade. “Tem que prender e mostrar o rosto de cada um”, comentou.
Estudante é espancada por policiais
Enquanto radicais agem praticamente sem uma resposta firme da polícia, percorrendo as ruas com porretes, escudos e com os rostos cobertos por camisas, uma cena gravada em vídeo postado no You Tube mostra uma estudante de cinema sendo espancada por PMs. Rani Castro, 19 anos, aparece nas imagens sendo perseguida numa rua da Lapa, derrubada no chão e atingida por golpes de cassetete, socos e chutes.
A estudante de cinema estava fazendo um documentário sobre as manifestações quando foi agredida pelos policiais militares. Um deles chegou a usar um spray de gás pimenta contra ela. Outros PMs que estavam próximo à cena chegaram logo em seguida e impediram que a agressão continuasse. O vídeo havia sido acessado por mais de 60 mil internautas até a noite desta quarta.
“A polícia se preocupa em pegar os manifestantes pacíficos, enquanto deixa esse bando de idiotas quebrarem tudo livremente”, disse a comerciante Roberta Guimarães.
O governador Sérgio Cabral falou sobre os protestos na cidade. Ele disse que o direito de manifestação tem que ser respeitado, mas que o governo estadual não vai tolerar baderna.