Rio - Se um dia ela foi abandonada, hoje a cadela Francisca é celebridade canina disputada. ‘Abençoada’ pelo Papa Francisco, a vira-lata que subiu no palco onde o Pontífice rezou a última missa da JMJ — e, por isso, recebeu tal nome —, na Praia de Copacabana, está no centro de polêmica entre a prefeitura e protetores de animais. Desamparada desde 18 de julho, ela foi resgatada pela Secretaria Especial de Promoção e Defesa dos Animais (Sepda) — e levada para a fazenda-modelo, em Guaratiba —, no último dia 22, quando ganharia uma família. Chica ainda está esperando mais 8 filhotes.
“É uma história meio macabra, meio Janete Clair. A cadela ficou abandonada um tempão. Recebi a denúncia e fui resgatá-la. E logo nesse dia iam buscá-la ”, declarou o secretário da Sepda, Cláudio Cavalcanti.
Mas a esteticista Iris Caetano, 37 anos, rebate. Ela acompanhou o caso: levava ração para a cadela, e fez campanha no Facebook para sua adoção. Iris conta que quando conseguiu a adotante — a diarista Teresa Santos, 43 — tentou levar Chica. Mas seguranças do desmanche do palco do evento — onde a vira-lata ficou — a mandaram voltar em outro horário.
“Tentei levá-la, mas ela é uma cadela assustada, deve ter sido muito maltratada. Não quis forçar, pra não machucá-la. Quando consegui a adotante fui lá de novo, de manhã. Mas os homens falaram pra eu voltar à noite. Quando voltei, o secretário já a tinha levado”.
DISPUTA POR ADOÇÃO
Apaixonada pela cadela, Teresa lamentou a coincidência: “Estou triste. Nem durmo direito. Depois disso, liguei várias vezes pra Sepda, mas cada hora diziam uma coisa”.
No dia 29 de agosto (quinta), Teresa e Iris foram à fazenda-modelo, onde passaram por entrevista para adoção. “Nos deram esperança de que Teresa ficará com ela”, disse Iris. Mas há mais três pessoas na fila.
Segundo o secretário, a cadela chegou à fazenda-modelo debilitada e anêmica. Veterinários fizeram ultrassonografia e descobriram que ela estava prenha de oito filhotes. “Ela está na minha sala recebendo todo cuidado. Os canis são coletivos, e devido ao jeito dela, assim é mais seguro. Todo animal é tutelado pelo Estado, e ela só poderá ser adotada quando se recuperar, parir e amamentar”.
Polêmica entre Sepda e militantes
Militante pela defesa de animais, a veterinária Andréa Lambert critica a Sepda. “Há cachorros abandonados que a secretaria não resgata. O cuidado é porque foi a cadela do Papa. Se ela está fraca, é melhor que fique com adotante. Um lar é sempre melhor que abrigo”. Ela acusa a Sepda de omissão. Uma audiência pública que havia sido marcada para terça-feira (dia 3), na Câmara dos Vereadores, com o secretário, foi cancelada. “Ele não nos escuta”, queixa-se.
Luta por mudanças
O decreto 37326, de 28 de junho de 2013, motivou protestos contra o prefeito Eduardo Paes e a Sepda. O decreto determina a castração de animais com dois meses e limita as feiras de adoção.
Para derrubá-lo, o vereador Cesar Maia (DEM) criou projeto de Decreto Legislativo (publicado no DO da Câmara, no dia 1º de julho de 2013), que susta o do executivo. Não há previsão para ser votado.
Em julho, após denúncias contra a fazenda-modelo, o Conselho Regional de Medicina Veterinária multou em R$ 6 mil o local, por falta de veterinário responsável.