Rio - Anderson Gomes, de 21 anos, deu ontem os primeiros passos na passarela como modelo. O objetivo? Dar um futuro melhor para a família, que ainda não superou o sumiço do patriarca, o ajudante de pedreiro Amarildo Souza, desaparecido há mais de dois meses. Criado na Favela da Rocinha, local onde mora e o pai desapareceu, a estreia foi ao lado de casa, no Shopping Fashion Mall, em São Conrado.
“Nunca poderia imaginar que começaria minha carreira ao lado de casa”, afirmou Anderson, entusiasmado antes de o evento começar. “Irei aproveitar essa chance com unhas e dentes para melhorar a vida da minha família”, resumiu o rapaz.
O evento contou com a presença de familiares de Anderson. Elizabete Gomes, mulher de Amarildo e mãe de Anderson, disse estar muito feliz com o sucesso repentino do filho, mas não escondeu a saudade do marido. “A ferida do desaparecimento continua aberta e muito viva. Queria muito que Amarildo estivesse vivo para ver onde o filho dele está chegando. Espero que essa carreira melhore a nossa situação”, disse Elizabete, esperançosa.
O desfile foi organizado em comemoração aos 20 anos do Instituto Zuzu Angel de moda. Responsável pela carreira de Anderson, Sérgio Matos, da agência 40 Graus, disse que o filho de Amarildo é um ‘diamante a ser lapidado’: “Quero que ele sonhe, mas saiba que essa carreira é muito difícil”, contou Sérgio. Para ele, é hora de Anderson aproveitar a visibilidade que infelizmente lhe foi dada por uma tragédia. “Quinze minutos de fama não devem ser suficientes”.
A Polícia Civil não sabe o que ocorreu com Amarildo, e PMs da UPP Rocinha são suspeitos de ter matado o pedreiro.
Documentário na internet
Em 22 minutos e 13 segundos, o cineasta carioca Rômulo Cyríaco, 29, reuniu depoimentos de familiares do auxiliar de pedreiro no documentário ‘Eu, Um Amarildo’, visto por mais de 3 mil pessoas até esta segunda-feira à noite, no YouTube e no Vimeo.
Nas imagens, filmadas em agosto, familiares relatam quem era Amarildo no dia a dia e como foram os últimos momentos dele na comunidade. “Deixei eles falarem o que estavam pensando com naturalidade, sem determinar nada”.