Rio - Usado na Guerra do Vietnã para tentar inibir o uso de opiáceos (derivados do ópio, como a morfina e a heroína) entre os militares americanos, o teste antidroga virou uma espécie de espião caseiro e abriu polêmica. À venda na internet por R$ 380, o kit doméstico que revela o uso de substâncias ilícitas permite que o exame seja feito à revelia dos filhos, o que divide opiniões. Basta uma mecha de cabelo ou pelos para que em duas semanas os pais tenham laudo que atesta se houve o consumo de 12 tipos de drogas nos últimos três meses.
O leque de ‘flagras’ é extenso. Vai de cocaína a maconha, passando por remédios para emagrecer, heroína, morfina e ecstasy. “Quem nos procura, geralmente, são pais que já sabem que o filho consome ou estão desconfiados. Acontece também muito com casais. Geralmente é a mulher que faz o teste no namorado ou marido. Em caso de resultado positivo, o laudo faz uma classificação de levíssimo a pesadíssimo do uso da droga detectada”, explicou Eduardo Bloch, diretor da empresa Psychemedics Brasil.
A empresa vende no país, em média, 60 testes por mês via internet. A análise é feita num laboratório da Califórnia, nos Estados Unidos. O exame, chamado de PDT — sigla em inglês de Personal Drug Test —, pode ser feito de forma sigilosa. O kit chega ao endereço do comprador num envelope descaracterizado. Vem junto com um formulário, onde o solicitante pode escrever apenas o primeiro nome da pessoa testada. O resultado chega por carta, mas há ainda a opção de envio por e-mail.
O teste, no entanto, levanta a discussão sobre possíveis prejuízos para a relação familiar, caso o filho descubra que foi submetido ao exame sem saber. Para Maria Valésia Vilela, psicóloga e membro da Academia de Ciências de Nova York, é preciso analisar cada caso. “Se o adolescente é rebelde e violento, justifica o pai fazer uso desse kit. Mas precisa ter cuidado porque o jovem pode ser rotulado de usuário sendo que apenas experimentou a droga. Isso cria um sentimento de injustiça”, explica.
A comerciante Márcia Teixeira, 48 anos, mãe de três filhos — 28, 25 e 19 —, é mais rigorosa na avaliação . “Não vejo problema em fazer o teste. As pessoas podem até dizer que é invasão de privacidade, mas a mãe tem o direito e, com certeza, a intenção é sempre ajudar”.
Laudo denuncia maconha consumida 3 meses antes
O rastreio do consumo de drogas é tão preciso que é capaz de mostrar se a pessoa fumou dois cigarros de maconha nos 90 dias anteriores ao teste. Também flagra se a pessoa cheirou dois papelotes de cocaína no mesmo período. No caso dos emagrecedores, basta que o consumo tenha sido de um grama. O diretor da Psychemedics Brasil, Eduardo Bloch, afirmou que, apesar de o exame ter 100% de confiabilidade e ser reconhecido pela FDA (espécie de Anvisa americana), ele não pode ser usado judicialmente, caso a coleta do material seja feita escondida da pessoa submetida ao teste.
“Quando é comprado na internet, ele não tem validade oficial. Como não tem uma terceira parte como testemunha, ele não pode ser usado perante o juiz. Por isso, quando alguém diz que vai usar como prova numa separação de casal, orientamos a procurar pessoalmente um dos nossos laboratórios.”