Rio - Terminou em confusão a reunião do prefeito Eduardo Paes, neste domingo, com cerca de 250 moradores da Vila Autódromo, na Barra. O tumulto ocorreu porque muitas pessoas da comunidade não conseguiram entrar no auditório, no Riocentro, onde foi apresentado o plano de habitação para remoções. Só foram convidados para o encontro famílias que residem nas ruas que terão desapropriações. Durante bate-boca, uma pessoa teria cuspido no prefeito.
A proposta do município é levar as famílias que moram na beira da Lagoa de Jacarepaguá, e nas áreas que darão acesso ao Parque Olímpico e a uma estação do BRT Transolímpica, para o conjunto habitacional Parque Carioca, na Estrada dos Bandeirantes, a um quilômetro da Vila. Mas a ideia, no entanto, é contestada.
“Não quero me mudar. Vai ser a terceira vez que isso acontece. Já me tiraram da Ilha dos Caiçaras, no Leblon, na década de 60, e da Cidade de Deus, por causa da Linha Amarela. Não aguento mais remoções. É preciso uma saída para quem quer ficar ”, desabafou o presidente da Associação de Moradores da Vila Autódromo, Altair Guimarães.
Há pelo menos dois anos, moradores e prefeitura tentam entrar em acordo sobre a necessidade de retirar famílias da comunidade. Para Fabrício Leal, professor adjunto do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, o município deveria investir na urbanização da Vila, e não fazer remoções. Uma das alegações é que a restruturação do bairro ficaria muito abaixo dos R$ 105 milhões que serão investidos para a construção do Parque Carioca.
“Elaboramos um plano junto aos moradores. Seriam necessários cerca de R$ 15 milhões para trazer melhorias de saneamento básico, pavimentação e em habitações que estão em condições muito precárias. Isso tudo seria feito sem tirar ninguém da comunidade”, afirmou Leal. Segundo a prefeitura, as famílias só serão reassentadas quando os novos apartamentos estiverem prontos. A previsão é que isso ocorra em fevereiro de 2014.
Manifestantes temem vila fantasma
O receio de parte dos moradores é que, com as mudanças de famílias para o conjunto popular, a Vila Autódromo se transforme num lugar abandonado. Isso forçaria outras pessoas a aceitarem a proposta da prefeitura para se mudar o que, a longo prazo, daria fim à comunidade.
“Já não temos infraestrutura aqui. Com menos gente, vai piorar muito”, afirmou Pierre Braga, 34, que mora com a mulher e a sogra. O município informou que oferece, além de apartamento no Parque Carioca, indenização para quem não quiser ir morar no condomínio, que terá 900 apartamentos de dois e três quartos.
O prefeito disse, em nota, que vem tentando o diálogo. “Temos nos reunido para tentar um acordo. Por isso, hoje (ontem) convidamos famílias que vivem nas áreas onde serão necessários reassentamentos, para explicar a proposta e propor opções”, explicou.