O leilão realizado terça-feira pelo cantor Caetano Veloso e a ex-mulher dele Paula Lavigne, em benefício da família de Amarildo de Souza, arrecadou R$ 250 mil. Desse total, R$ 60 mil serão doados à mulher do pedreiro, Elisabete de Souza, para comprar uma casa na Rocinha, já escolhida por ela. O restante do dinheiro será entregue ao Instituto de Desenvolvimento e Direitos Humanos (IDDH), ONG que fará estudo sobre os mais de cinco mil desaparecidos no Rio.
Amarildo sumiu em 14 de julho na Rocinha, após ser abordado por PMs da Unidade de Polícia Pacificadora da favela. Dez policiais, entre eles o major Edson Santos, ex-comandante da UPP, estão presos, sob acusação de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver.
Anderson de Souza, filho de Amarildo, esteve no leilão. Um vídeo produzido por Paula Lavigne sobre o caso foi exibido. Um dos itens leiloados foi um quadro do cartunista Carlos Latuff, ‘Por uma cultura de paz’, que mostra um negro, pregado a uma cruz, fuzilado por PM. A obra foi arrematada por R$ 11 mil pela desembargadora Kenarik Boujikian Felippe, de São Paulo. O cineasta Andrucha Waddington pagou R$ 20 mil por um poema de Caetano Veloso, que fala de um operário assassinado em sua comunidade, uma referência a Amarildo.
Além de Amarildo, a Divisão de Homicídios investiga o paradeiro de outro morador levado para a UPP nas mesmas condições, conforme O DIA revelou ontem. A delegacia quer saber quem é e onde está esse morador, já que sumiu o boletim com informações sobre a ocorrência.
O deputado estadual e presidente da Comissão de Direitos Humanos da Alerj, Marcelo Freixo (PSOL), vai procurar a DH para tratar do caso. Embora afastado do comando, o major Edson monitorava os depoimentos sobre Amarildo na DH. As informações eram repassadas pelo então subcomandante da unidade, o tenente Luiz Felipe de Medeiros. Ele falava com o major antes até de informar ao novo comando sobre as intimações.
A medida era para que advogados acompanhassem os PMs e assim evitar que algum deles revelasse a trama. Em escutas, o major foi flagrado oferecendo até viatura para buscar testemunhas e advogados.
Major Edson diz à testemunha que pagou para colaborar com versão da PM, que vai ajudá-la e diz para ela procurar New- land, soldado que o ajudou a coagir testemunha. Antes ela troca torpedos com ele e pede fraldas.
OUÇA A GRAVAÇÃO
Testemunha: Boa tarde
Major: Ô, desculpa aí. Eu pensei (risos) que era um amigo meu que está passando por necessidade. Cara, amanhã eu vou falar lá com o pessoal da assistência e peço pro Newland passar pra você. Aí, pode deixar que eu não vou esquecer não. Desculpa mesmo.
T: Não, não esquenta a cabeça não. Valeu
M: Valeu. Obrigado. Fica com Deus
T: Valeu. Obrigado
M: Qualquer coisa tu pode falar com o Newland, tá.
T: Posso falar direto com ele então, né?
M: Pode falar com ele, tá bom.
T: Tá tranquilo, então. Uma boa tarde
M: Valeu. Um abraço. Boa tarde.