Rio - Coveiros que trabalham no cemitério de Irajá, na Baixada Fluminense, que é administrado pela Santa Casa de Misericórdia entraram em greve na manhã desta quinta-feira. Apenas dois corpos que estavam sendo velados durante toda a madrugada puderam ser enterrados pela manhã. Um enterro precisou ser transferido para outro cemitério.
De acordo com o presidente do Sindicato dos Empregados em Instituições Beneficentes, Religiosas e Filantrópicas, Sérgio Antônio, os coveiros contratados com carteira assinada estão sem receber seus salários há três meses. Já outra metade de coveiros que não possuem a carteira assinada estão recebendo em dia, mas também reclamam de anos sem garantias trabalhistas.
"Temos funcionários que saíram de férias em abril e até hoje não receberam o salário das férias. Todos estão com três meses de salário atrasados, além dos descontos em seus contracheques que não estão sendo repassados ao INSS; estão indo para Santa Casa. É um trabalho insalubre e escravo, muitos estão tendo que pedir dinheiro emprestado para sobreviver. A Santa Casa alega que está com problemas financeiros para pagar os funcionários, mas todo dia tem enterro, então é uma desculpa para lesar o trabalhador de carteira assinada", disse o líder do sindicato. Ele afirma que o problema atinge todos os cemitérios da cidade, com maior gravidade no cemitério do Caju, onde já existiriam 60 coveiros sem carteira assinada, 40 no cemitério São João Batista e 20 no cemitério de Irajá.
É o caso de Adilson Silva, de 45 anos, que há 14 anos trabalha como coveiro sem a carteira assinada. "Abri uma ação trabalhista contra a Santa Casa, e ganhei. Estou aguardando o dinheiro sair. Trabalho aqui esse tempo todo sem carteira assinada, benefícios e garantia de aposentadoria. É um absurdo", disse ele, que há 14 anos nunca saiu de férias.
Já o coveiro Neris de Souza Pacheco, que há 29 anos trabalha no cemitério de Irajá, diz estar passando por dificuldades financeiras maior do que os contratados sem a carteira. "O que estão fazendo é covardia. Eles ficam sem pagar a gente, e colocam pra trabalhar a outra metade que não tem carteira assinada ameaçando demiti-los a qualquer momento. Estou vivendo nos últimos três meses com dinheiro emprestado de familiares", reclama ele, que escuta da Santa Casa que o dinheiro dos enterros estão sendo direcionados aos hospitais. "E nós, a gente não conta?", questiona.
O problema não atinge somente os coveiros. Marlene dos Santos, de 58 anos, e encarregada pela limpeza do cemitério reclama que não tem férias há 8 anos e 5 meses. Ela está processando a Santa Casa.
Procurada, a administração da Santa Casa de Misericórdia alegou que estaria muito ocupada para atender a reportagem.