Rio - O ser humano traz um mundo dentro de si. A complexidade do indivíduo, associada à história de vida, faz de cada um de nós seres reativos, ora agindo conforme os instintos, ora conforme a educação, e (por que não?) ora conforme a fé. Talvez não haja nada mais difícil do que buscar equilibrar nosso temperamento vigiando as atitudes que tomamos, de forma que, a partir delas, sejam ressaltados os pontos fortes positivos da nossa identidade. Razão, emoção e espiritualidade, aliadas, são, sem dúvida, nosso melhor caminho para alcançar esse objetivo.
Nos últimos dois meses, aprendemos mais sobre o Pai-Nosso. Agora, convido você a um novo desafio: refletir melhor sobre suas atitudes à luz da belíssima ‘Oração de São Francisco’. Como, de acordo com historiadores, seu verdadeiro nome é ‘Oração da Paz’, minha proposta é que você se deixe conduzir por essa súplica a Deus para que a paz aconteça, primeiramente, no seu interior.
Conforme os registros, esta oração surgiu em 1912 e popularizou-se a partir da sua publicação no periódico ‘L’Osservatore Romano’, em 1916 — momento em que ocorria a Primeira Guerra Mundial (1914-1916) e em que, por toda a parte, faziam-se orações pela paz. No entanto, seu autor não parece ser São Francisco de Assis, já que em seus quase 500 manuscritos examinados ela não foi encontrada. A atribuição da autoria ao santo começou a acontecer através de um impresso da oração junto à sua imagem, em Reims, na França, após o término da guerra, por iniciativa do capuchinho padre Benoit, que, no cartão, acrescentou a seguinte frase: “Essa oração resume os ideais franciscanos e, ao mesmo tempo, representa uma resposta às urgências de nosso tempo”. Profunda, a oração abraça não apenas os ideais franciscanos, mas também os nossos, os de todos os cristãos.
Seu início já reporta a séria verdade sobre nós mesmos: “Senhor, fazei-me um instrumento de vossa paz.” Só chama Jesus de Senhor aquele que é cheio do Espírito Santo (I Coríntios 12,3), ou seja, um filho de Deus. E aquele que se dirige assim a Deus, se compromete com o desejo de estar a serviço Dele, que Lhe reconhece ser superior em autoridade e poder. Assim, ao iniciarmos a oração, nos colocamos diante de Cristo com a humildade de quem acredita que é bom ter a liderança Dele na nossa vida.
A paz, como nos anos em que a oração surgiu, continua sendo absolutamente necessária. E pedir para ser instrumento de paz é o mesmo que aceitar ser canal para que a paz aconteça ao nosso redor. Mas já parou pra pensar que nossas atitudes podem ou não colaborar para que haja tranquilidade e harmonia? A verdade é que, pela fé, nossas ações podem transformar as realidades em que estamos inseridos, se buscarmos manter nosso temperamento em equilíbrio, para que haja paz. Eu quero viver essa constante vigilância sobre o meu proceder para ser promotor da paz. E você, aceita essa aventura, que dura a vida toda? ‘Tamu junto’!
Padre Omar é o Reitor do Santuário do Cristo Redentor do Corcovado. Faça perguntas ao Padre Omar pelo e-mail padreomar@padreomar.com. Acesse também www.padreomar.com e www.facebook.com/padreomarraposo