Rio - Um dossiê de informações entregue pelo delegado Ruchester Marreiros à Secretaria de Segurança acusa o Ministério Público (MP) de vazamento de dados sobre a operação Paz Armada, que investigou o tráfico de drogas na Rocinha, e critica o trabalho da promotora Marisa Paiva. A denúncia também descreve irregularidades na conduta do delegado titular da 15ª DP (Gávea), Orlando Zaccone. A ação visava a prender 57 criminosos, em 13 de julho. Um dia depois, o pedreiro Amarildo de Souza, 47, foi detido por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
Dez PMs — entre eles o major Edson Santos, ex-comandante da UPP — que atuaram na Paz Armada estão presos acusados de torturar, matar e esconder o corpo de Amarildo. Segundo relato de Ruchester à Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança, o pai de Vinicius Pessoa Pedroni, o Guissa, acusado de envolvimento com o tráfico de drogas, ficou sabendo da operação Paz Armada uma semana antes do início das prisões. Isso porque ele trabalharia como vigilante e motorista no Ministério Público. Segundo o órgão, as denúncias de Ruchester foram enviadas oficialmente ao MP em forma de relatório e investigadas. Na apuração, foi constatado que o pai de Guissa não faz parte do quadro de funcionários. O Ministério alega ainda que não têm fundamento as acusações feitas pelo delegado.
O suposto vazamento da ‘Paz Armada’ de dentro do MP também foi relatado em depoimento de um PM ao órgão, que apura a prática de tortura contra moradores de policiais subordinados ao major Edson. O policial trabalhou como agente infiltrado no tráfico de drogas para reunir informações sobre os criminosos. Ruchester foi afastado da 15ª DP depois de responsabilizar traficantes pelo desaparecimento e morte de Amarildo, quando o titular Orlando Zaconne apontava para a participação de PMs. Procurado pelo DIA, Ruchester não foi localizado.
Lista de acusações é extensa
Entrega de celulares de forma irregular na Paz Armada, quebra de sigilo funcional, com repasse de informações e proteção à mulher de Amarildo, Elizabete Gomes, que resultaram em ameaça de morte de traficantes ao PM infiltrado. Essas são as acusações do delegado Ruchester Marreiros contra o titular da 15ª DP (Gávea), Orlando Zaccone.
Ruchester diz que ele atrapalhou a operação. “Se atrapalhar é buscar a verdade, vou atrapalhar sempre”, disse Zaccone, negando as irregularidades. A ameaça contra o PM é suspeita de ter sido forjada no inquérito da Divisão de Homicídios, que concluiu o caso Amarildo. Ruchester e
Promotora é criticada
Por ser contra a ação chamada de controlada, aquela em que o PM se faz de aliado de criminosos, a promotora Marisa Paiva, que atuou na operação Paz Armada, também foi atacada pelo delegado Ruchester Marreiros. Ele questiona o fato de a promotora não aceitar o trabalho do PM infiltrado e reclama que fora alertado por ela sobre a conduta do major Edson, então comandante da UPP. Contesta ainda o fato de Marisa o ter mandado parar de produzir provas.
“Era contra mesmo. O PM fardado recebendo dinheiro do tráfico. As pessoas viam isso e não sabiam da operação. Nenhum chefe do tráfico foi preso”, afirmou Marisa. Ela classificou a operação de uma ‘mistureba’ sem efeito prático algum.