Por adriano.araujo

Rio - Um dossiê de informações entregue pelo delegado Ruchester Marreiros à Secretaria de Segurança acusa o Ministério Público (MP) de vazamento de dados sobre a operação Paz Armada, que investigou o tráfico de drogas na Rocinha, e critica o trabalho da promotora Marisa Paiva. A denúncia também descreve irregularidades na conduta do delegado titular da 15ª DP (Gávea), Orlando Zaccone. A ação visava a prender 57 criminosos, em 13 de julho. Um dia depois, o pedreiro Amarildo de Souza, 47, foi detido por policiais militares da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).

Dez PMs — entre eles o major Edson Santos, ex-comandante da UPP — que atuaram na Paz Armada estão presos acusados de torturar, matar e esconder o corpo de Amarildo. Segundo relato de Ruchester à Subsecretaria de Inteligência da Secretaria de Segurança, o pai de Vinicius Pessoa Pedroni, o Guissa, acusado de envolvimento com o tráfico de drogas, ficou sabendo da operação Paz Armada uma semana antes do início das prisões. Isso porque ele trabalharia como vigilante e motorista no Ministério Público. Segundo o órgão, as denúncias de Ruchester foram enviadas oficialmente ao MP em forma de relatório e investigadas. Na apuração, foi constatado que o pai de Guissa não faz parte do quadro de funcionários. O Ministério alega ainda que não têm fundamento as acusações feitas pelo delegado.

Operação Paz Armada foi desencadeada na Rocinha com objetivo de cumprir 58 mandados de prisão contra integrantes do tráfico de drogasCarlos Moraes / Agência O Dia

O suposto vazamento da ‘Paz Armada’ de dentro do MP também foi relatado em depoimento de um PM ao órgão, que apura a prática de tortura contra moradores de policiais subordinados ao major Edson. O policial trabalhou como agente infiltrado no tráfico de drogas para reunir informações sobre os criminosos. Ruchester foi afastado da 15ª DP depois de responsabilizar traficantes pelo desaparecimento e morte de Amarildo, quando o titular Orlando Zaconne apontava para a participação de PMs. Procurado pelo DIA, Ruchester não foi localizado.

Lista de acusações é extensa

Entrega de celulares de forma irregular na Paz Armada, quebra de sigilo funcional, com repasse de informações e proteção à mulher de Amarildo, Elizabete Gomes, que resultaram em ameaça de morte de traficantes ao PM infiltrado. Essas são as acusações do delegado Ruchester Marreiros contra o titular da 15ª DP (Gávea), Orlando Zaccone.

Ruchester diz que ele atrapalhou a operação. “Se atrapalhar é buscar a verdade, vou atrapalhar sempre”, disse Zaccone, negando as irregularidades. A ameaça contra o PM é suspeita de ter sido forjada no inquérito da Divisão de Homicídios, que concluiu o caso Amarildo. Ruchester e

Delegado Ruchester Marreiros entregou documento à Secretaria de Segurança%2C que descreve irregularidades na conduta de Orlando ZacconeEduardo Naddar

Promotora é criticada

Por ser contra a ação chamada de controlada, aquela em que o PM se faz de aliado de criminosos, a promotora Marisa Paiva, que atuou na operação Paz Armada, também foi atacada pelo delegado Ruchester Marreiros. Ele questiona o fato de a promotora não aceitar o trabalho do PM infiltrado e reclama que fora alertado por ela sobre a conduta do major Edson, então comandante da UPP. Contesta ainda o fato de Marisa o ter mandado parar de produzir provas.

“Era contra mesmo. O PM fardado recebendo dinheiro do tráfico. As pessoas viam isso e não sabiam da operação. Nenhum chefe do tráfico foi preso”, afirmou Marisa. Ela classificou a operação de uma ‘mistureba’ sem efeito prático algum.

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