Por adriano.araujo

Rio - Noite de sábado. Há pedestres distraídos e turistas que fotografam a fachada iluminada do Theatro Municipal. Mas cenas próximo à Câmara de Vereadores cenas chamam atenção na Cinelândia. A paisagem é alterada pela presença de dezenas de jovens de rostos cobertos e das projeções que anunciam, na parede frontal da Casa, a promoção do primeiro ‘casamento Black Bloc’ já visto. O evento, que aconteceria mais tarde ainda naquela noite, serviria para marcar o dia em que completou dois meses de ocupação na porta da sede do Legislativo carioca.

A celebração começou nas primeiras horas da tarde, quando o grupo acampado nas escadarias da Câmara Municipal fez um churrasco em frente à porta principal do prédio. Por volta das 17h, pessoas que apoiam a ocupação entregaram brinquedos para que os integrantes do Black Bloc pudessem distribuí-los entre as crianças que celebravam seu dia ali perto, na Lapa.

Grupo iniciou preparativos do casamento com projeção em tecido claro pendurado na parede da CâmaraUanderson Fernandes / Agência O Dia

À medida que a noite se aproximava, os manifestantes de preto montaram caixas de som de onde era emitida a variada trilha sonora da festa: rock, reggae, samba, forró e funk eram os estilos mais comuns.

Noiva de preto

O ‘casamento’ começou logo em seguida. Os noivos — Gabriel e Rosângela — passaram por um caminho de velas formado nas escadarias até um altar improvisado em frente a uma das portas da Casa. Ambos chegaram até lá ao som de uma versão instrumental de ‘Nothing else matters’, do Metallica. A cerimônia — chamada pelos presentes de ‘Anarcocasamento’ — foi celebrada por um homem de cabelos grisalhos que usava um alto-falante e se identificou como juiz de paz. Após jurarem fidelidade eterna, o noivo, com parte do rosto coberto por uma bandana, e a noiva, vestida de preto, se beijaram e selaram a união.

Adesão e visita ao site são proporcionais à violência

Pesquisa que acompanhou as páginas dos Black Blocs nas redes sociais nos últimos três meses, realizada pelo Instituto Igarapé, constatou que, quando as ações policiais nas manifestações foram mais violentas, aumentou a movimentação nos sites desses grupos.

Segundo o estudo, entre os dias 18 e 20 de junho, quando ocorreram manifestações que reuniram milhares de pessoas contra o reajuste das passagens de ônibus e subiu de três para sete casos de incidentes envolvendo brutalidade policial, aumentou de cerca de 500 para 2.500 o número de comentários na rede sobre os black blocs. Já no dia 21 de julho, quando a polícia adotou postura menos violenta, os comentários mencionando o grupo caíram para cerca de mil. Nesse período, as incidências de violência policial variaram de uma para duas.

Grupo distribuiu brinquedos e doces durante a tarde a criançasUanderson Fernandes / Agência O Dia

Outra constatação da pesquisa foi que as atividades dos black blocs nas ruas começaram tarde, e só depois dos primeiros casos divulgados de violência policial. O instituto coletou 74.087 posts, 160.106 comentários e 1,45 milhão de likes em 42 dos perfis do Facebook que garantem estar representando os mascarados em vários locais do país.


Você pode gostar