Por adriano.araujo

Rio - Por meio da assessoria de imprensa da Polícia Civil, agentes da 15ª DP informaram que um grupo de policiais militares da UPP da Rocinha esteve na delegacia para relatar terem sido insultados e xingados por Emerson, filho do pedreiro desaparecido Amarildo Dias de Souza, enquanto trabalhavam na organização e segurança da procissão de Nossa Senhora Aparecida que foi realizada na favela.

Ainda segundo os policiais, ao tentarem levá-lo até a delegacia, Emerson teria fugido e deixado a mochila com documentos. Após o fim do relato dos policiais militares, o caso foi registrado como desacato. Por serem considerados de menor potencial ofensivo, os envolvidos nos dois registros — tanto o de Emerson quanto o que foi feito pelos PMs — serão encaminhados ao Juizado Especial Criminal.

Na foto Emerson mostra marca de agressão deixada pelo suposto policialAlessandro Costa / Agência O Dia

Emerson diz ter sido agredido por PM 

Emerson Gomes da Silva, de 20 anos, prestou queixa, na noite de sábado, contra o policial militar Lopes Atanazo, da Unidade de Polícia Pacificadora da Rocinha. Segundo ele, o PM o teria agredido quando voltava do trabalho. O caso foi registrado na 15ª DP (Gávea) como abuso de autoridade.

O jovem afirmou que, por volta das 19h30 de sábado, seguia para a casa — após trabalho num restaurante que fica no Parque Lage —, quando foi abordado pelo agente na Estrada da Gávea.
“Ele se aproximou e disse que queria me levar para outro lugar, um beco, e conversar comigo. Respondi que eu não iria de jeito nenhum. Fiquei com medo de ele tentar fazer comigo o mesmo que já fizeram com meu pai”, disse.

Ainda de acordo com Emerson, o PM insistiu, afirmando que ele estava cometendo desacato à autoridade. O jovem contou que o militar tentou agarrá-lo à força e começou a agredi-lo, mas ele resistiu e fugiu. Depois de chegar em casa, Emerson entrou em contato com um advogado que o orientou a ir até uma delegacia para registrar o que havia ocorrido.

Emerson afirmou que, em outubro do ano passado, esse PM o teria levado preso à 15ª DP por porte de maconha. “Só que foi tudo forjado. Ele colocou a maconha em um dos bolsos da minha calça e quis me incriminar, dizendo que eu era traficante. Tanto que não fiquei preso. Desde então, ele começou a me perseguir”, afirmou o filho de Amarildo, que, logo após sair da delegacia, mostrou marcas de contusões e arranhões nos braços e no peito.

O crime de abuso de autoridade é um delito cujas penas preveem pagamento de multa, detenção de 10 dias a seis meses, além de perda de cargo público por até três anos para o agente público que o cometer.

Três meses de investigações e buscas

O desaparecimento de Amarildo, 47 anos, completa hoje três meses. Ele sumiu após ser levado para a sede da UPP da Rocinha por policiais. A Divisão de Homicídios da Polícia Civil encaminhou no dia 1º deste mês ao Ministério Público do Rio, a conclusão do inquérito sobre o caso. O documento indicia dez policiais militares lotados à época na UPP, entre eles, o ex-comandante da unidade, major Edson dos Santos. Todos vão responder pelos crimes de tortura seguida de morte e ocultação de cadáver.

Policiais e bombeiros seguem em busca do corpo de Amarildo na RocinhaAndré Luiz Mello / Agência O Dia

O advogado da família de Amarildo, João Tancredo, disse o pedreiro foi levado para a sede da UPP, onde foi torturado e morto.

Na semana passada, uma festa com leilão arrecadou R$ 250 mil e R$ 60 mil é destinado à família da vítima, que já escolheu uma casa para comprar com a quantia. Emerson foi um dos modelos que desfilou no Intercoiffure Regional do Rio, evento de beleza no Shopping Fashion Mall, em São Conrado.

Você pode gostar