Por thiago.antunes

Rio - Mais cinco policiais militares serão denunciados e podem ir para a cadeia, e um outro oficial da PM será investigado por envolvimento na tortura e morte do pedreiro Amarildo de Souza, de 47 anos. Novas revelações bombásticas sobre o caso foram feitas por um policial que era lotado na Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Rocinha. Em quase oito horas de depoimento na 8ª Delegacia de Polícia Judiciária Militar (DPJM), que começou às 16h de domingo, o militar revelou detalhes de como Amarildo teria sido morto na noite de 14 de julho, após ser capturado durante a operação Paz Armada, cujo objetivo era prender traficantes.

Dez PMs, entre eles o major Edson Santos, ex-comandante da UPP, já estão presos. De acordo com a testemunha, por volta das 19h30 no dia da prisão do pedreiro, o tenente Luiz Felipe de Medeiros, ex-subcomandante da UPP Rocinha, preso, determinou que os homens que não eram de confiança dele ficassem ‘trancados’ no contêiner da sede da unidade. Enquanto isso, do lado de fora, Amarildo era submetido a sessão de choques e socos, e asfixiado com saco na cabeça, praticada por Medeiros e seus subordinados. Durante quase 40 minutos, os policias, ‘detidos’ na sede, puderam ouvir gritos e gemidos.

Policiais voltaram nesta segunda à Rocinha para fazer buscas ao corpo%3A em vãoAlexandre Brum / Agência O Dia

Corpo levado por cinco

Os agressores perguntavam o tempo todo onde estavam as armas do tráfico. Quando Amarildo, que era epilético, desfaleceu, os policiais começaram a gritar ‘deu merda’. O corpo teria sido carregado por Medeiros e outros quatro policiais para a mata. A testemunha não soube dizer onde estava o major Edson, mas garantiu que nada era feito sem o consentimento do oficial.

Promotores do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado do Ministério Público vão denunciar os novos acusados. “Houve reviravolta. O aditamento da denúncia será feito à Justiça”, disse o procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira. A 8ª DPJM vai ouvir pelo menos mais seis policiais que estavam de serviço no dia do sumiço.

O policial responsável pelas novas denúncias será retirado do estado e vai integrar o Programa de Proteção à Testemunha. Outras três pessoas que contribuíram com as investigações estão sob proteção.

Mulher e filhos de Amarildo no Dia dos Pais%3A ajudante de pedreiro desapareceu na noite de 14 de julho Alessandro Costa / Agência O Dia

MP vai investigar denúncia de vazamento de informação

O procurador-geral de Justiça, Marfan Vieira, determinou ontem que seja investigada a acusação do delegado Ruchester Marreiros de que houve vazamento de informações da operação Paz Armada de dentro do Ministério Público (MP). O policial será convocado a prestar depoimento no órgão.

“O fato é grave e será instaurado procedimento”, disse Marfan. Como O DIA publicou domingo com exclusividade, Ruchester fez dossiê de informações e enviou à Secretaria de Segurança e ao MP. Nele, informou que o pai do acusado de envolvimento com o tráfico Vinicius Pessoa Pedroni, o Guissa, obteve informações da operação uma semana antes do início das prisões porque trabalharia como motorista e vigilante do MP.

O delegado criticou o trabalho da promotora Marisa Paiva e descreveu irregularidades na conduta do delegado Orlando Zaccone, titular da 15ª DP (Gávea), que nega. Ruchester era adjunto da unidade, quando foi deflagrada a Paz Armada, dia 13 de julho, que visava prender 57 suspeitos. Um dia depois, Amarildo foi preso por policiais da UPP Rocinha.

Nova busca pelo corpo perto da UPP

Policiais da Divisão de Homicídios (DH) estiveram nesta segunda-geira à tarde na sede da UPP da Rocinha, onde fizeram perícia e novas buscas numa mata na tentativa de encontrar algum vestígio que leve ao corpo de Amarildo. Em vão. 

Uma área atrás do contêiner do comando da UPP, que funciona como depósito de mesas e cadeiras, foi periciada a pedido do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público (MP), que investiga o caso desde sexta-feira. Ali, os peritos jogaram luminol (reagente que identifica sangue). O local é pequeno.

“Ali ainda não havia sido periciado, por isso fomos até lá. A área também dá acesso direto à mata. Estamos trabalhando a partir das novas informações sobre o caso”, explicou a promotora do Gaeco, Carmem Eliza.

Cães ajudam na procura

A mata atrás dos contêineres da UPP, por onde o corpo de Amarildo pode ter sido retirado da Rocinha, também foi vasculhada ontem com a ajuda de cães farejadores do Corpo de Bombeiros, a exemplo do que aconteceu sexta-feira. Nada foi encontrado. O trabalho durou cinco horas: das 14h30 às 19h30. “Viemos complementar o trabalho de sexta-feira porque os cães tiveram que parar naquele dia”, explicou a delegada Elen Souto.

Essa foi a terceira ida da DH à favela em busca do corpo de Amarildo. A 15ª DP (Gávea), que iniciou as investigações sobre o caso, também já esteve na Rocinha e num depósito de lixo no Caju. Buscas já aconteceram ainda no lixão em Seropédica, na Baixada.

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