Rio - O delegado Orlando Zaccone, da 15ª DP (Gávea), afirmou que conversou, na tarde desta quarta-feira, com o Rodrigo Azoubel, na clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio, onde o jovem de 18 anos está internado. Ele foi baleado nos dois antebraços durante a noite desta terça-feira na manifestação dos profissionais da educação, nas ruas do Centro. O jovem alegou que não ouviu o barulho de tiro. A origem dos disparos ainda é desconhecida.
Sobre os ferimentos, Zaccone disse que se não fosse os estudantes de medicina que o ajudaram, Azoubel poderia ter morrido. "A gente tem que agradecer muito aos estudantes de medicina que prestaram os primeiros socorros e se não fossem eles, Rodrigo poderia estar morto, devido ao intenso sangramento", disse. O delegado afirmou que o caso será transferido para a 5ª DP (Mem de Sá).
Segundo boletim médico, o jovem foi operado e segue estável. Ele permanecerá internado por mais uma semana, onde deverá ser submetido à outra cirurgia para a fixação da fratura. O procedimento foi realizado pela equipe do Dr. Carlos Eduardo Essinger, ortopedista e traumatologista.
O rapaz é filho de Roberto Azoubel da Mota Silveira, doutor em Literatura pela Pontíficia Universidade Católica do Rio (PUC-RJ), e de Flávia Lacerda, diretora da Rede Globo. Em seu perfil no Facebook, Rodrigo aparece em várias fotos usando máscara de gás como disfarce.
Presidente da OAB condena atitude da PM
Sobre os ferimentos à bala, o presidente da Comissão de Direitos Humanos da Ordem do Advogados do Brasil (OAB-RJ), Marcelo Chalreo, alegou que recebeu várias denúncias de que vários pojéteis de balas de arma de baixo calibre foram recolhidos na região da Cinelândia.
"Vamos nos interar desses fatos para tomar as providências cabíveis, que podem ser várias. Posso adiantar que esse tipo de conduta, a princípio, deve ser creditado às forças de segurança. Quem participa de manifestação não pode ser tratado à bala", disse ele.
Chalreo também condenou a atitude de policiais da Corregedoria da Polícia Militar que foram à clínica onde o rapaz está internado para procurar os projéteis. Porém, nada foi encontrado, já que as balas atravessaram o corpo da vítima.
"Uma atitude lamentável e reprovável da Polícia Militar, porque o recolhimento de projéteis dificultaria as investigações. Não é o papel da corregedoria vir ao hospital antes da Polícia Civil para impedir a investigação. Isso só traz mais suspeita sobre a atitude da PM", comentou.
Praça de guerra nas ruas do Centro
De acordo com a Polícia Militar, 182 pessoas foram detidas na noite desta terça-feira, após confrontos com entre PMs e manifestantes nas ruas do Centro, no fim da manifestação sem incidentes que reuniu cerca de 10 mil profissionais de Educação, no Dia dos Professores. Eles foram levados para dez delegacias da cidade. Pelo menos 12 pessoas ficaram feridas. No fim, a polícia desocupou as escadarias e a frente da Câmara dos Vereadores, ocupadas desde julho.
Pelo menos cinco micro-ônibus da PM foram usados para levar 156 detidos para a 22ª DP (Penha), 32ª DP (Taquara), 25ª DP (Engenho Novo), 29ª DP (Madureira) e 37ª DP (Ilha do Governador). Para esta última, segundo policiais do Batalhão de Choque, foram levados 27 manifestantes, sendo cinco menores. Eles integrariam o grupo que acampava na Cinelândia. A mãe de um deles, que não se identificou - disse nem saber se o filho tinha participado do protesto. Com o grupo, segundo a PM, foram apreendidas luva, máscara de gás, atadura e uma bandeira com o símbolo do Anarquismo.
Na 25ª DP, 39 pessoas ainda estão detidas, sendo uma mulher conhecida como Sininho, a líder do movimento Ocupa Câmara, e sete menores. Todos eles serão indiciado por formação de quadrilha com agravante de aliciamento de menores.
Os manifestantes serão levados para o Instituto Médico Legal (IML) e de lá serão encaminhados para o centro de triagem da Polinter, em São Gonçalo. Os menores também seguirão para o IML e, em seguida, serão encaminhados para a Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente. Há ainda 24 detidos na 29ª DP (Madureira) e 49 na 22ª DP (Penha).
Em frente à delegacia, várias pessoas estão tentando falar com seus filhos, parentes e amigos para descobrir por quais crimes eles serão indiciados.
Rita Silveira, mãe de Denis Menezes Silveira, contou que o jovem havia sido convocado pelos profissionais de educação do Centros Integrados de Educação Pública (Ciep) Sérgio Carvalho, em Campo Grande, na Zona Oeste, para participar do ato dos professores. Ele foi com a mãe ao protesto e foi detido pois estava no local no momento da confusão. A mãe tenta saber o motivo que o filho será indiciado.
"Fomos defender a causa dos professores e meu filho foi preso por engano. Onde estão os professores agora que não estão aqui prestando apoio a quem foi defender a causa deles?",
indagou ela.