Rio - O advogado Luiz Peixoto Siqueira Fialho, da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB-RJ), voltou atrás sobre a sua afirmação de que os depoimentos que estariam sendo assinados pelos PMs na delegacia teriam sido adulterados. Ele afirmou que a delegada da 25ª DP (Engenho Novo) teria explicado que os depoimentos não foram copiados.
Inicialmente ele havia dito que "as pessoas foram presas sem cometer crime nenhum", mas depois afirmou não ter certeza da má fé dos PMs. "Não tenho condições de afirmar sobre crimes, isso só pode ser feito em juízo", alegou.
Os 39 detidos que foram levados na madrugada desta quarta-feira para a 25ª DP (Engenho Novo), dentre eles uma mulher conhecida como Sininho, a líder do movimento Ocupa Câmara, e sete menores, ainda estão no local e serão indiciados por formação de quadrilha com agravante de aliciamento de menores. Eles foram detidos durante confrontos entre policiais e manifestantes após protesto dos profissionais da Educação nas ruas do Centro.
Os manifestantes serão levados para o Instituto Médico Legal (IML) e de lá serão encaminhados para o centro de triagem da Polinter, em São Gonçalo. Os menores também seguirão para o IML e, em seguida, serão encaminhados para a Delegacia de Proteção da Criança e do Adolescente. Há ainda 24 detidos na 29ª DP (Madureira) e 49 na 22ª DP (Penha).
Em frente à delegacia, várias pessoas estão tentando falar com seus filhos, parentes e amigos para descobrir por quais crimes eles serão indiciados.
Rita Silveira, mãe de Denis Menezes Silveira, contou que o jovem havia sido convocado pelos profissionais de educação do Centros Integrados de Educação Pública (Ciep) Sérgio Carvalho, em Campo Grande, na Zona Oeste, para participar do ato dos professores. Ele foi com a mãe ao protesto e foi detido pois estava no local no momento da confusão. A mãe tenta saber o motivo que o filho será indiciado.
"Fomos defender a causa dos professores e meu filho foi preso por engano. Onde estão os professores agora que não estão aqui prestando apoio a quem foi defender a causa deles?",
indagou ela.
Confusão termina com mais 200 detidos
No total, 208 pessoas teriam sido detidas. Pelo menos cinco micro-ônibus da PM foram usados para levar 156 detidos para a 22ª DP (Penha), 32ª DP (Taquara), 25ª DP (Engenho Novo), 29ª DP (Madureira) e 37ª DP (Ilha do Governador). Para esta última, segundo policiais do Batalhão de Choque, foram levados 27 manifestantes, sendo cinco menores. Eles integrariam o grupo que acampava na Cinelândia. A mãe de um deles, que não se identificou - disse nem saber se o filho tinha participado do protesto. Com o grupo, segundo a PM, foram apreendidas luva, máscara de gás, atadura e uma bandeira com o símbolo do Anarquismo.
Na 25ª DP, um cinegrafista da TV Record teria dito algumas palavras que não agradaram os profissionais detidos e os mascarados dos Black Blocs, um tumulto se formou e ele acabou sendo autuado.
Os outros cerca de 50 detidos foram encaminhados para 5ª DP (Mém de Sá), 6ª DP (Cidade Nova), 12ª DP (Copacabana), 17ª DP (São Cristóvão) e 19ª DP (Tijuca). Alguns deles eram menores. Na unidade de Madureira, todas as 29 pessoas foram liberadas. O OAB não soube informar o motivo da pulverização dos detidos em tantas delegacias. A Polícia Ciivl ainda não se manifestou sobre o fato.
Praça de guerra no Centro
Policiais do Batalhão de Choque (BPChq) dispersaram, por volta das 22h30 desta terça-feira, manifestantes que entraram em confronto com PMs por volta das 20h quando os policiais tentavam desobstruir a Avenida Rio Branco, uma das vias do Centro que ficou fechada para o protesto pacífico dos professores em favor da Educação, na altura da Cinelândia.
A confusão ocorreu depois da manifestação sem incidentes, que reuniu entre 5 mil e 10 mil profissionais no Dia dos Professores, em passeata da Candelária até o local do confronto. Na ação, os policiais usaram bombas de efeito moral e gás lacrimogênio.
O ato foi oficialmente encerrado às 20h, pelo sindicato da categoria, mas cerca de 500 mascarados continuaram na região. Por volta das 23h30, os policiais do Choque fizeram um cordão de isolamento no entorno, incluindo a Câmara Municipal, e revistaram cerca de 80 pessoas que permaneceram no local. A ação, no entanto, foi marcada por truculência. Vários ativistas que ainda protestavam de forma pacífica tiveram mochilas revistas e foram colocados em ônibus da corporação. Algumas barracas em frente à Casa foram destruídas.
Radicais usaram como escudos chapas de aço que bancos e outros estabelecimentos instalaram para proteger as fachadas. O Batalhão de Choque lançou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral na Rio Branco. Os ativistas usaram fogos de artifício e recuaram pelas vias que levam ao Aterro do Flamengo e à Lapa — ali a maioria dos bares e restaurantes fechou antes das 21h, o que não é comum.
Grupos mais agressivos voltaram à Cinelândia em ações em pontos separados, mas simultâneas, para continuar enfrentando a polícia. Na confusão, bancos e lojas voltaram a ser depredados. Fogueiras foram acesas no meio das pistas: sacos de lixo e lixeiras foram queimados. Havia vários focos de incêndio. Os bombeiros tiveram que ser acionados. Carros da polícia, entre ônibus e viaturas, foram depredados, e um deles chegou a ser incendiado.
Várias vias do Centro, como a Avenida Presidente Wilson e a Rua Primeiro de Março, ficaram interditadas. As estações de metrô da Cinelândia foram fechadas, por precaução. Vários mascarados foram detidos e levados para delegacias. Orelhões foram incendiados, placas arrancadas, pontos de ônibus destruídos. Pedras foram jogadas em direção aos PMs e nas janelas do Cine Odeon.
À tarde, durante a passeata dos professores, houve um princípio de tumulto quando um homem acusado de ser serviço reservado da PM (P2) foi expulso do ato.