Rio - Mais de 200 pessoas foram detidas na noite desta terça-feira, após confrontos com a PM no Centro do Rio, no fim da manifestação sem incidentes que reuniu cerca de 10 mil profissionais de Educação, no Dia dos Professores. Eles foram levados para dez delegacias da cidade. Pelo menos 12 pessoas ficaram feridas. Os números são da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). No fim, a polícia desocupou as escadarias e a frente da Câmara dos Vereadores, ocupadas desde julho.
A assessoria da Clínica São Vicente, na Gávea, Zona Sul do Rio, confirmou há pouco que uma pessoa deu entrada baleada na unidade no fim da noite desta terça-feira. Segundo o hospital, ela foi submetida a uma cirurgia e passa bem. A unidade não confirmou a informação de que a vítima teria dito que foi ferida no tumulto no Centro do Rio. Ainda não se sabe a identificação do paciente.
No total, 208 pessoas teriam sido detidas. Pelo menos cinco micro-ônibus da PM foram usados para levar 156 detidos para a 22ª DP (Penha), 32ª DP (Taquara), 25ª DP (Engenho Novo), 29ª DP (Madureira) e 37ª DP (Ilha do Governador). Para esta última, segundo policiais do Batalhão de Choque, foram levados 27 manifestantes, sendo cinco menores. Eles integrariam o grupo que acampava na Cinelândia. A mãe de um deles, que não se identificou - disse nem saber se o filho tinha participado do protesto. Com o grupo, segundo a PM, foram apreendidas luva, máscara de gás, atadura e uma bandeira com o símbolo do Anarquismo.
Na 25ª DP, um cinegrafista da TV Record teria dito algumas palavras que não agradaram os profissionais detidos e os mascarados dos Black Blocs, um tumulto se formou e ele acabou sendo autuado.
Os outros cerca de 50 detidos foram encaminhados para 5ª DP (Mém de Sá), 6ª DP (Cidade Nova), 12ª DP (Copacabana), 17ª DP (São Cristóvão) e 19ª DP (Tijuca). Alguns deles eram menores. Na unidade de Madureira, todas as 29 pessoas foram liberadas. O OAB não soube informar o motivo da pulverização dos detidos em tantas delegacias. A Polícia Ciivl ainda não se manifestou sobre o fato.
De acordo com um oficial do BPChoque, pelo menos 10 PMs teriam ficado feridos nos embates com manifestantes e mascarados nos bairros da Lapa, Centro e Glória. Dois deles seriam motoristas de dois micro-ônibus da corporação destruídos. Um foi agredido a pauladas e outro atingido por uma pedrada. Outras 13 viaturas teriam sido danificadas. A Polícia Militar ainda se pronunciou oficialmente sobre os danos e os incidentes.
Durante toda a madrugada desta quarta-feira, advogados da Ordem dos Advogados do Brasil e do Instituto de Defensores de Direitos Humanos (DDH) acompanharam os detidos nas delegacias.
Destruição, desocupação e limpeza no Centro
Um mutirão de limpeza tomou contou de ruas próximas a Cinelândia, no Centro, durante a madrugada, após o confronto entre PMs e mascarados. Equipes da Comlurb limpavam calçadas e recolhiam destroços do embate e das depredações de prédios, bancos e estabelecimentos comercias. Caminhões e retroescavadeiras foram usados.
Na Cinelândia, policiais militares detiveram manifestantes acampados desde julho em frente a Câmara dos Vereadores. Após a expulsão, os policiais destruíram o acampamento montado. Às 4h, funcionários da companhia de limpeza usavam jatos d´água e produtos para apagar as pichações da fachada da Casa Legislativa Municipal. A PM e a Guarda Municipal ocupam o local.
Os sinais da depredação, porém, ainda eram visíveis. Pelo menos quatro agências bancárias foram atacadas, além de uma lanchonete e uma loja de aparelhos de radiocomunicação. Um banco foi depredado na Glória.
Praça de Guerra no Centro
Policiais do Batalhão de Choque (BPChq) dispersaram, por volta das 22h30 desta terça-feira, manifestantes que entraram em confronto com PMs por volta das 20h quando os policiais tentavam desobstruir a Avenida Rio Branco, uma das vias do Centro que ficou fechada para o protesto pacífico dos professores em favor da Educação, na altura da Cinelândia.
A confusão ocorreu depois da manifestação sem incidentes, que reuniu entre 5 mil e 10 mil profissionais no Dia dos Professores, em passeata da Candelária até o local do confronto. Na ação, os policiais usaram bombas de efeito moral e gás lacrimogênio.
O ato foi oficialmente encerrado às 20h, pelo sindicato da categoria, mas cerca de 500 mascarados continuaram na região. Por volta das 23h30, os policiais do Choque fizeram um cordão de isolamento no entorno, incluindo a Câmara Municipal, e revistaram cerca de 80 pessoas que permaneceram no local. A ação, no entanto, foi marcada por truculência. Vários ativistas que ainda protestavam de forma pacífica tiveram mochilas revistas e foram colocados em ônibus da corporação. Algumas barracas em frente à Casa foram destruídas.
Radicais usaram como escudos chapas de aço que bancos e outros estabelecimentos instalaram para proteger as fachadas. O Batalhão de Choque lançou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral na Rio Branco. Os ativistas usaram fogos de artifício e recuaram pelas vias que levam ao Aterro do Flamengo e à Lapa — ali a maioria dos bares e restaurantes fechou antes das 21h, o que não é comum.
Grupos mais agressivos voltaram à Cinelândia em ações em pontos separados, mas simultâneas, para continuar enfrentando a polícia. Na confusão, bancos e lojas voltaram a ser depredados. Fogueiras foram acesas no meio das pistas: sacos de lixo e lixeiras foram queimados. Havia vários focos de incêndio. Os bombeiros tiveram que ser acionados. Carros da polícia, entre ônibus e viaturas, foram depredados, e um deles chegou a ser incendiado.
Várias vias do Centro, como a Avenida Presidente Wilson e a Rua Primeiro de Março, ficaram interditadas. As estações de metrô da Cinelândia foram fechadas, por precaução. Vários mascarados foram detidos e levados para delegacias. Orelhões foram incendiados, placas arrancadas, pontos de ônibus destruídos. Pedras foram jogadas em direção aos PMs e nas janelas do Cine Odeon.
À tarde, durante a passeata dos professores, houve um princípio de tumulto quando um homem acusado de ser serviço reservado da PM (P2) foi expulso do ato.
Policiais sem identificação no uniforme detêm mascarados
A manifestação dos professores começou por volta de 17h, depois de eles se concentraram na Candelária, onde um forte aparato policial foi montado. Entre os cerca de 10 mil manifestantes, que carregam faixas, bandeiras e cartazes com as reivindicações, havia uma boa quantidade de estudantes, além de professores e membros de partidos políticos de esquerda.
A Avenida Rio Branco foi interditada para a passagem dos ativistas, bem como a Avenida Presidente Vargas, na altura da Igreja da Candelária. O trânsito teve que ser desviado para a Avenida Passos. Inicialmente, os black blocs estavam em pequeno número. Mas, às 20h, ao fim do ato organizado pelo sindicato dos professores, eles já eram centenas.
No confronto, nenhum policial estava identificado. Um grupo de oito mascarados foi detido na Avenida Churchill, perto da sede do Ministério Público Estadual, por tentativa de lesão corporal: eles foram acusados de ameaçar jogar pedras nos PMs, que os policiais alegaram ter encontrado com eles, além de morteiros espalhados pelo chão. Em outro local, uma menina foi agredida por policiais. Um jovem de 22 anos estava com um furo no braço, e disse ter sido baleado. Ele foi encaminhado para o Souza Aguiar. Os ativistas informaram que um rapaz teria sido atropelado por uma moto no Aterro do Flamengo e encontra-se em estado grave. Ainda não há informações sobre sua identificação e estado de saúde.