Rio - Policiais do Batalhão de Choque (BPChq) dispersaram, por volta das 22h30 desta terça-feira, manifestantes que entraram em confronto com PMs por volta das 20h quando os policiais tentavam desobstruir a Avenida Rio Branco, uma das vias do Centro que ficou fechada para o protesto pacífico dos professores em favor da Educação, na altura da Cinelândia.
A confusão ocorreu depois da manifestação sem incidentes, que reuniu entre 5 mil e 10 mil profissionais no Dia dos Professores, em passeata da Candelária até o local do confronto. Na ação, os policiais usaram bombas de efeito moral e gás lacrimogênio.
O ato foi oficialmente encerrado às 20h, pelo sindicato da categoria, mas cerca de 500 mascarados continuaram na região. Por volta das 23h30, os policiais do Choque fizeram um cordão de isolamento no entorno, incluindo a Câmara Municipal, e revistaram cerca de 80 pessoas que permaneceram no local. A ação, no entanto, foi marcada por truculência. Vários ativistas que ainda protestavam de forma pacífica tiveram mochilas revistas e foram colocados em ônibus da corporação. Algumas barracas em frente à Casa foram destruídas.
Mais de 40 pessoas foram detidas e encaminhadas para a 5ª (Mem de Sá), 6ª (Cidade Nova) e 17ª DP (São Cristóvão).Outros dois ônibus municipais foram parados para que ativistas fossem encaminhados para as delegacias. Membros da Comissão de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) foram acionados e acompanharam o procedimento dos policiais.
Alguns manifestantes se sentaram no chão e impediram que os veículos saíssem, mas foram contidos pelos PMs. Carros da Comlurb chegaram 23h40 para retirar pedaços de pau, lixo e outros dejetos das pistas. Foram liberadas ao tráfego de veículos a Rua Pinheiro Machado, em ambos os sentidos, as Avenidas Beira Mar e Presidente Wilson, altura da Avenida Rio Branco, e o acesso da Avenida General Justo para a Avenida Marechal Câmara no sentido Aterro do Flamengo.
Cenário de guerra
Radicais usaram como escudos chapas de aço que bancos e outros estabelecimentos instalaram para proteger as fachadas. O Batalhão de Choque lançou bombas de gás lacrimogêneo e de efeito moral na Rio Branco. Os ativistas usaram fogos de artifício e recuaram pelas vias que levam ao Aterro do Flamengo e à Lapa — ali a maioria dos bares e restaurantes fechou antes das 21h, o que não é comum.
Grupos mais agressivos voltaram à Cinelândia em ações em pontos separados, mas simultâneas, para continuar enfrentando a polícia. Na confusão, bancos e lojas voltaram a ser depredados. Fogueiras foram acesas no meio das pistas: sacos de lixo e lixeiras foram queimados. Havia vários focos de incêndio. Os bombeiros tiveram que ser acionados. Carros da polícia, entre ônibus e viaturas, foram depredados, e um deles chegou a ser incendiado.
Várias vias do Centro, como a Avenida Presidente Wilson e a Rua Primeiro de Março, ficaram interditadas. As estações de metrô da Cinelândia foram fechadas, por precaução. Vários mascarados foram detidos e levados para delegacias. Orelhões foram incendiados, placas arrancadas, pontos de ônibus destruídos. Pedras foram jogadas em direção aos PMs e nas janelas do Cine Odeon.
À tarde, durante a passeata dos professores, houve um princípio de tumulto quando um homem acusado de ser serviço reservado da PM (P2) foi expulso do ato.
Policiais sem identificação no uniforme detêm mascarados
A manifestação dos professores começou por volta de 17h, depois de eles se concentraram na Candelária, onde um forte aparato policial foi montado. Entre os cerca de 10 mil manifestantes, que carregam faixas, bandeiras e cartazes com as reivindicações, havia uma boa quantidade de estudantes, além de professores e membros de partidos políticos de esquerda.
A Avenida Rio Branco foi interditada para a passagem dos ativistas, bem como a Avenida Presidente Vargas, na altura da Igreja da Candelária. O trânsito teve que ser desviado para a Avenida Passos. Inicialmente, os black blocs estavam em pequeno número. Mas, às 20h, ao fim do ato organizado pelo sindicato dos professores, eles já eram centenas.
No confronto, nenhum policial estava identificado. Um grupo de oito mascarados foi detido na Avenida Churchill, perto da sede do Ministério Público Estadual, por tentativa de lesão corporal: eles foram acusados de ameaçar jogar pedras nos PMs, que os policiais alegaram ter encontrado com eles, além de morteiros espalhados pelo chão. Em outro local, uma menina foi agredida por policiais. Um jovem de 22 anos estava com um furo no braço, e disse ter sido baleado. Ele foi encaminhado para o Souza Aguiar. Os ativistas informaram que um rapaz teria sido atropelado por uma moto no Aterro do Flamengo e encontra-se em estado grave. Ainda não há informações sobre sua identificação e estado de saúde.
Câmara de Vereadores fechou às 13h
Mesmo sendo dia de atividade no plenário, a Câmara dos Vereadores foi fechada às 13h. O expediente foi interrompido e não foram realizadas sessões. De acordo com a assessoria do vereador Jorge Felippe (PMDB), presidente da Casa, a medida foi tomada pela mesa diretora para facilitar o retorno dos funcionários, que poderiam ser prejudicados pelo protesto.
As ruas do entorno da Câmara também foram fechadas. O vereador César Maia (DEM) estava a caminho da casa quando foi orientado a retornar: “Fiquei decepcionado e não entendi a medida”. Já Eliomar Coelho (PSOL) usou uma rede social para protestar. “Estado de exceção é isso. Não teremos nem o expediente normal do Legislativo”. Para impedir novas tentativas de incendiar o local, como as que ocorreram na semana passada, a Câmara instalou mais extintores, reforçou as portas com barras de ferro e colocou uma tela entre as grades.
Telegrama da Prefeitura agita assembleia
O envio pela prefeitura de telegramas a profissionais de educação da rede municipal, alertando quanto aos riscos de exoneração e demissão em casos de excessos de faltas, começou a causar impacto no ânimo dos grevistas. Em assembleia ontem, no Club Municipal, na Tijuca, cerca de 30% dos cinco mil presentes pediam pela volta aos trabalhos, quadro diferente do visto nas últimas reuniões, quando houve consenso pela manutenção da greve. “Trata-se de um terrorismo contra a classe. O resultado é o medo”, opinou Marta Moraes, coordenadora-geral do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio (Sepe-RJ).
O Sepe afirma que tem como prioridade retomar o diálogo com a prefeitura pelo Plano de Cargos, Salários e Carreira proposto. O documento pede aumento de 19% do piso inicial da categoria e reajustes de 15% entre os níveis. Desta forma, o salário inicial para a maior parte da categoria que cumpre jornada de 40 horas seria de até R$ 4.372,53; e o máximo chegaria a R$ 25.031,96. Entre os pleitos pedagógicos estão o limite de seis tempos diários de aulas, o fim da multidisciplinaridade e a dedicação de um terço da carga horária ao planejamento de aulas.