Rio - A rotina de atos públicos segue movimentando as ruas do Centro do Rio. Nesta quinta-feira, um novo protesto reuniu aproximadamente 100 pessoas que marcharam pela libertação dos presos na manifestação do Dia dos Professores. O ponto de chegada do protesto foi, novamente, a Cinelândia. E um novo ato está marcado para as 14h desta sexta-feira.
"A polícia disparou com armas de fogo em manifestantes, prendeu mais de 100 pessoas, muitas delas por estarem sentadas nas escadarias da Câmara. Manifestantes do Ocupa Câmara foram presos, alguns perderam seus pertences, documentos, suas barracas e foram expulsos da frente da Câmara dos Vereadores, acabando com o acampamento que lá esteve por mais de 2 meses", diz o texto do Facebook que chama para o protesto desta sexta.
Nova lei e série de prisões
Setenta das 190 pessoas detidas nos confrontos que ocorreram após a manifestação dos professores, na terça-feira à noite, foram autuadas com base na nova lei de organização criminosa — criada depois que os protestos se tornaram mais frequentes e que prevê penas mais duras, para crimes como dano ao patrimônio público, formação de quadrilha, roubo e incêndio. Outras 14 pessoas foram presas por delitos como tentativa de furto e lesão corporal.
Os detidos foram levados para oito delegacias espalhadas pela cidade. Os autuados seguiram para o sistema penitenciário. Menores apreendidos — 20 dos 84 presos — foram encaminhados para o Degase. Perguntada se a nova lei facilitou o trabalho das autoridades de segurança, a chefe de Polícia Civil, delegada Martha Rocha, disse que “a polícia está buscando cada vez mais uma forma mais eficaz de enfrentar essa questão”. Disse ainda que “os delegados estão agindo de acordo com essa nova lei”.
Na 25ª DP, para onde foram levadas 39 pessoas (32 maiores de idade autuados por formação de quadrilha e sete menores), choveram críticas quanto à ação da polícia. A falta de apoio de lideranças do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação (Sepe) aos manifestantes presos também não passou em branco.
“Saímos de casa para um ato pela educação e, em decorrência desse apoio, prisões foram realizadas injustamente. É lamentável que nenhum representante do Sepe esteja aqui prestando solidariedade”, disse a promotora de eventos Rita Silveira.
Ela e o filho Denys Jacauna, de 20 anos, foram ao ato a convite de professores do Ciep Sérgio Carvalho, em Campo Grande, onde o jovem estuda. Ambos passavam pela Câmara dos Vereadores quando ele foi levado pelos policiais. O Sepe alega que os “atos conflituosos” foram iniciados após o fim da manifestação do sindicato.
A abordagem policial também foi criticada pelos detidos. “Os PMs não estavam devidamente identificados. Fomos retirados de lá com truculência. Lembro de ter ouvido o barulho de tiros antes de deixar o local”, contou o estudante Ciro Oiticica. Outros presos relataram terem sofrido abuso também no ônibus que os levou para a delegacia. Os vidros teriam sido fechados e os celulares desligados à força. Policiais teriam feito ameaças.
Larissa Azevedo, membro do Instituto de Defesa de Direitos Humanos (DDH), que está cuidando dos casos de detenção dos manifestantes, declarou que os pedidos de relaxamento das prisões e de liberdade provisória dos presos serão feitos hoje.
Professores criticados por aceitar apoio de black blocs
Martha Rocha, chefe de Polícia Civil, criticou os professores e entidades que aceitaram o apoio dos black blocs. “Sou professora primária e da Academia de Polícia desde 1988. Buscar melhoria para essa classe é fundamental, mas eu não posso aceitar o apoio desse grupo”.
Setores da sociedade civil, porém, contestaram a ação policial. Em nota, a Escola de Comunicação da UFRJ informou que ‘repudia veementemente a atuação abusiva de policiais ao prenderem arbitrariamente um grupo de pessoas que estavam na na Cinelândia, entre as quais um estudante do Curso de Comunicação, Ciro Brito Oiticica, que cobria o conflito’.
Já o presidente do Sindicato dos Lojistas do Comércio do Rio, Aldo Gonçalves, calcula prejuízo de R$ 130 milhões por dia, quando há manifestações no Centro. Os protestos podem ganhar explosões de cores e purpurina, após a criação do Pink Bloc, grupo formado por homossexuais, que recebeu este nome em referência ao Black Bloc.