Rio - Acusados por moradores da Favela de Manguinhos de espancar e matar Paulo Roberto Menezes, de 18 anos, seis policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local deixaram ontem a prisão administrativa.
A alegação da PM para conceder a liberdade foi que o laudo preliminar da Polícia Civil apontou que a causa da morte não foi espancamento. Porém, os envolvidos no caso — que negam as agressões e afirmam que o jovem foi vítima de mal súbito — estão afastados de suas funções até o fim das investigações. O rapaz foi enterrado ontem à tarde, no Cemitério de Inhaúma. Depois do funeral, pelo segundo dia seguido, um protesto na comunidade foi marcado pela hostilidade.
“A gente tinha acabado de sair do bar. Eu ainda falei para ele que era melhor esperar mais um pouco, porque os policiais estavam por ali. Ele disse que a gente não devia nada a ninguém e que por isso ele ia passar por onde quisesse”, contou um adolescente, de 15, que estava com Paulo na hora da abordagem policial:
“Foi aí que levaram ele para o Beco da Esperança. Puxaram pelo pescoço e começaram a xingar. Ele não baixou a cabeça, não. Aí, começaram a dar tapas na cara dele e depois bateram com a cabeça dele na parede. Ele caiu com a cabeça no chão e já ficou por lá deitado. Só então eles viram que fizeram merda”, contou o menor.
A PM afirmou que o jovem estava em companhia de três amigos em atitude suspeita. Ao notar a aproximação dos PMs, Paulo Roberto teria fugido e caído. A comerciante Fátima Pinho Menezes, mãe de Paulo, contou que o filho foi morto por retaliação dos policiais.
Fizeram de maldade. Ele já estava ameaçado, mas sempre respondia. Não tinha medo de nada. E por isso foi assassinado na covardia”, acredita ela.
Agentes da 21ª DP (Bonsucesso) realizaram perícia no Beco da Esperança e recolheram material genético para apurar se as marcas de sangue encontradas em um muro do local eram realmente do jovem. “A gente não tem a menor dúvida do que aconteceu. Quando eu cheguei lá, os policiais não queriam deixar eu ver meu filho. Eles estavam apavorados porque sabiam que a coisa tinha fugido do controle. Meu filho estava todo machucado. O último suspiro dele foi nos meus braços”, concluiu, desolada, a mãe do rapaz.
Revolta antes e depois do sepultamento
Moradores do Complexo de Manguinhos depredaram uma viatura da PM na entrada da comunidade na tarde de ontem, após o sepultamento. O policiamento foi reforçado. Cerca de 100 pessoas acompanharam o funeral. Pela manhã, também houve protesto e ruas de acesso à comunidade foram fechadas.
Na quinta-feira, uma manifestação contra a morte do jovem terminou com Juliane Karoline dos Santos, de 17 anos, baleada na perna. A menina foi atendida e passa bem. De acordo com a 21ª DP (Bonsucesso), os PMs que estavam de plantão na UPP e o comandante daquela unidade já foram ouvidos, além da mãe da vítima, familiares e testemunhas. O delegado aguardo os resultados dos laudos da perícia. “Todos os procedimentos investigativos estão sendo tomados”, diz ele.