Por cadu.bruno

Rio - Acusados por moradores da Favela de Manguinhos de espancar e matar Paulo Roberto Menezes, de 18 anos, seis policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local deixaram ontem a prisão administrativa.

A alegação da PM para conceder a liberdade foi que o laudo preliminar da Polícia Civil apontou que a causa da morte não foi espancamento. Porém, os envolvidos no caso — que negam as agressões e afirmam que o jovem foi vítima de mal súbito — estão afastados de suas funções até o fim das investigações. O rapaz foi enterrado ontem à tarde, no Cemitério de Inhaúma. Depois do funeral, pelo segundo dia seguido, um protesto na comunidade foi marcado pela hostilidade.

Viatura é atacada em ManguinhosFernando Souza / Agência O Dia

“A gente tinha acabado de sair do bar. Eu ainda falei para ele que era melhor esperar mais um pouco, porque os policiais estavam por ali. Ele disse que a gente não devia nada a ninguém e que por isso ele ia passar por onde quisesse”, contou um adolescente, de 15, que estava com Paulo na hora da abordagem policial:

“Foi aí que levaram ele para o Beco da Esperança. Puxaram pelo pescoço e começaram a xingar. Ele não baixou a cabeça, não. Aí, começaram a dar tapas na cara dele e depois bateram com a cabeça dele na parede. Ele caiu com a cabeça no chão e já ficou por lá deitado. Só então eles viram que fizeram merda”, contou o menor.

A PM afirmou que o jovem estava em companhia de três amigos em atitude suspeita. Ao notar a aproximação dos PMs, Paulo Roberto teria fugido e caído. A comerciante Fátima Pinho Menezes, mãe de Paulo, contou que o filho foi morto por retaliação dos policiais.

Parentes se emocionam no enterro do jovem PauloFernando Souza / Agência O Dia

Fizeram de maldade. Ele já estava ameaçado, mas sempre respondia. Não tinha medo de nada. E por isso foi assassinado na covardia”, acredita ela.

Agentes da 21ª DP (Bonsucesso) realizaram perícia no Beco da Esperança e recolheram material genético para apurar se as marcas de sangue encontradas em um muro do local eram realmente do jovem. “A gente não tem a menor dúvida do que aconteceu. Quando eu cheguei lá, os policiais não queriam deixar eu ver meu filho. Eles estavam apavorados porque sabiam que a coisa tinha fugido do controle. Meu filho estava todo machucado. O último suspiro dele foi nos meus braços”, concluiu, desolada, a mãe do rapaz.

Revolta antes e depois do sepultamento

Moradores do Complexo de Manguinhos depredaram uma viatura da PM na entrada da comunidade na tarde de ontem, após o sepultamento. O policiamento foi reforçado. Cerca de 100 pessoas acompanharam o funeral. Pela manhã, também houve protesto e ruas de acesso à comunidade foram fechadas.

Na quinta-feira, uma manifestação contra a morte do jovem terminou com Juliane Karoline dos Santos, de 17 anos, baleada na perna. A menina foi atendida e passa bem. De acordo com a 21ª DP (Bonsucesso), os PMs que estavam de plantão na UPP e o comandante daquela unidade já foram ouvidos, além da mãe da vítima, familiares e testemunhas. O delegado aguardo os resultados dos laudos da perícia. “Todos os procedimentos investigativos estão sendo tomados”, diz ele.

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