Rio - Desde junho, os brasileiros têm assistido à gradual ebulição do movimento Black Bloc nas ruas. Mas esse grupo não é novidade em outros países. Para o filósofo anarquista americano John Zerzan, que inspira esse tipo de ideologia nos Estados Unidos desde os anos 80, ‘apenas atos concretos podem desafiar o sistema dominante, e não gestos aprovados, como votar ou segurar um cartaz’. O jornalista Ari Paul, que já cobriu a ação dos ‘mascarados’ em diversas nações, acredita que eles são um movimento artístico, sem plataforma política. Em entrevistas exclusivas ao DIA, os dois tentam responder à pergunta que mais intriga os brasileiros no momento: afinal, o que querem os black blocs?
A conexão pública de Zerzan com os ‘mascarados’ americanos começou nos protestos contra a Organização Mundial de Comércio, em Seattle, 1999. Ele explica que não é líder, pois não existem anarquistas líderes. Publicou sete livros sobre o assunto e ministra palestras pelo mundo afora. “Os black blocs, em geral, acreditam na resistência, no lugar do simples protesto simbólico. Eles não querem reproduzir ou aceitar as ‘regras do jogo’”, defende.
O filósofo não acredita que depredações ou vandalismo prejudiquem a agenda positivo de um protesto pacífico. “Qual é a eficácia de um protesto educado? Nenhuma! Então é irrelevante se o ‘bom nome’ do protesto legal é de alguma forma prejudicado”, ataca.
Segundo o anarquista, o tipo de mudanças políticas desejadas pelos black blocs varia, mas, de modo geral, anarquistas querem o fim da dominação e da opressão, e da sistemática destruição da biosfera. “Querem liberdade e autenticidade, o que não é possível na civilização tecnológica”.
Para Ari Paul, o Black Bloc é um movimento artístico, não político. “Em muitos casos, eles não têm demandas políticas. Não se engajam em outros movimentos sociais nem articulam bem a ideia de que tipo de sociedade querem. Quando marcham juntos de preto em cenas de caos, a ideia é criar imagem de destruição, violência e conflito com o Estado, quase como uma performance artística ao vivo, destinada a expor o horror do capitalismo. Não vi isso tudo inspirar muitos a se unirem à causa”.
Escritor duvida que participantes no Brasil sejam todos anarquistas
Zerzan diz que não conhece todos os black blocs atuantes no Brasil. “Tenho amigos que participam dos protestos, e eles certamente são anarquistas, mas duvido que todos os participantes sejam”, aposta.
Ari Paul cobriu os ‘mascarados’ no movimento Ocupem Wall Street nos EUA, que denunciava os excessos do mundo financeiro. Segundo ele, depois que milhares de ativistas se reuniram em Chicago em maio de 2012 para protestar contra a conferência da Otan, alguns black blocs brigaram com a polícia:
“A mídia exagera a participação do grupo. A imagem da violência, mais atrativa para câmeras, deu a telespectadores a impressão de que black blocs eram maioria. Isso tira o apoio popular. Ainda bem que muitos americanos não se influenciaram e avaliaram o movimento pelas questões levantadas”.
De acordo com Paul, os anarquistas na Grécia e no Sul da Europa são mais organizados. São envolvidos em outras formas de ativismo político, como ajudar imigrantes e desempregados, e ocupar prédios abandonados.