Rio - Irritado com um manifestante que reclama que ele teria atirado spray de pimenta em seu rosto durante uma manifestação, o policial militar faz um desabafo: “Eu gosto de vagabundo. O vagabundo atira em mim e eu atiro no vagabundo. Aqui, o cara taca pedra em mim e eu não posso fazer nada. Eu gosto do bandido. Eu gosto do Beira-Mar. Eu gosto do Uê. Eu gosto dos caras”. Em seguida, ele é retirado de perto do rapaz por um outro PM.
Beira-Mar e Uê, são, respectivamente, os traficantes Luiz Fernando da Costa e Ernaldo Pinto de Medeiros. Beira-Mar, acusado de vários homicídios e de tráfico internacional de drogas, é um dos criminosos mais perigosos do país e está no presídio federal de Catanduvas, no Paraná.
Uê foi um dos maiores atacadistas de drogas do Rio. A mando de Beira-Mar, ele foi morto e teve o corpo carbonizado durante uma rebelião em 11 de setembro de 2002 no presídio de segurança máxima Bangu 1, em Gericinó.
A discussão entre o PM e o jovem aconteceu dia 15 durante o protesto do Dia do Professor, no Centro. O rapaz alega que estava apenas filmando e fotografando a quando teria sido atingido.
A cena foi postada no dia seguinte ao protesto no Facebook da Mídia Independente Coletiva. O vídeo tem duração de uma hora e dez minutos. O bate-boca acontece diante de dezenas de PMs que observam. Nas imagens, o rapaz chama o PM de “sargento Melo”, que confirma a identidade fazendo um sinal positivo com a cabeça.
O vídeo começa com o rapaz reclamando da atitude do PM. O militar diz para ele acionar a Corregedoria e a Ouvidoria da Polícia Militar, mostrando o nome e a patente pregados na farda.
A conversa continua, e o policial diz que eles estão numa guerra, além de chamar a manifestação de “palhaçada”. O rapaz discorda do PM e diz que estava apenas filmando o protesto e lutando pelos direitos dele.
Na discussão, o jovem mostra a câmera várias vezes para o policial. Ao mesmo tempo, diz que o PM poderia ter estragado seu equipamento, molhado pelo spray.
A assessoria de imprensa da PM informou que enviou as imagens à Corregedoria da corporação, e a conduta do policial será analisada. O material servirá também para confirmar a identidade do militar.
Sete menores já foram liberados
Sete adolescentes, dos 18 detidos nos protestos de terça-feira, foram liberados ontem. Quatro ainda estão com situação pendente e sete serão apresentados ao juiz hoje. Eles foram levados para o Centro de Socioeducação Professor Gelso de Carvalho Amaral, na Ilha do Governador, no setor de triagem.
O habeas corpus foi conseguido pela Defensoria Pública do Rio. Para Fábio Schwartz, defensor responsável pelo caso, não faz sentido manter os adolescentes presos e liberar os maiores de idade. “Todos os menores são estudantes. Nenhum tem passagem pelos juizados”, acrescenta ele.
Colaborou Stephanie Tondo