Por adriano.araujo

Rio - Agentes da Força Nacional de Segurança lançaram bombas de gás lacrimogênio e avançaram em direção aos manifestantes na manhã desta segunda-feira, provocando correria entre as cerca de 300 pessoas que estão no protesto contra o leilão do Campo de Libra, o primeiro do pré-sal brasileiro, que acontecerá no Hotel Windsor, na Barra da Tijuca, Zona Oeste. Pelo menos sete pessoas ficaram feridas após serem atingidas por balas de borracha.

Banhistas que estavam na praia ficaram em pânico e correram assustados com crianças e cadeiras nas mãos. A confusão teria começado após a grade de contenção ser derrubada. Alguns manifestantes estavam pendurados nelas antes do tumulto, mas negam que as tenham derrubado.

A área do hotel está isolada na manhã desta segunda-feira para impedir a entrada de manifestantes contra a realização do leilão do Campo de Libra, o maior certame de petróleo da História do País, com reservas entre 8 e 12 bilhões de barris. A operação está marcada para as 14h.

Black blocs, petroleiros em greve e movimentos sociais que apoiam a paralisação prometem protestar na região. O grupo que está no local grita palavras de ordem contra o leilão e está com faixas e cartazes. Um carro de som também é utilizado pelo grupo, formado por integrantes da CUT, representantes de um movimento sem-teto e de partidos políticos.

Uma barreira de oficiais faz a segurança na frente do hotel. Ao todo, 1.100 homens reforçam a segurança na região, entre militares – do Exército e da Marinha – , policiais federais e estaduais, guardas municipais e funcionários públicos.

Cerca de 200 manifestantes protestam na manhã desta segunda-feira na Avenida Chile, no Centro, em frente à sede da Petrobras.

Segurança reforçada no entorno do Hotel WindsorAlessandro Costa / Agência O Dia

O cinturão de segurança montado pelo Exército para garantir o leilão na Barra vai muito além do policiamento feito pelos militares e a Força Nacional. O megaesquema envolve o emprego de pelotão das polícias Militar e Rodoviária Federal em pontos estratégicos, como ponte Rio-Niterói, prédios da Petrobras e da Agência Nacional do Petróleo (ANP).

Além disso, há reforço de agentes da Polícia Civil em delegacias e apoio da Polícia Federal e do Corpo de Bombeiros. Foram mobilizados ao todo 1.200 homens.

Na semana passada, os detalhes da operação foram repassados em reuniões até com integrantes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). Os trajetos dos ônibus de outros estados que chegam ao Rio foram mapeados. Na Rio-Niterói, a Polícia Rodoviária Federal revistará coletivos. Nos acessos, a responsabilidade será da PM.

No Windsor, foi montado um centro de informações do Exército com linha direta para o Centro Integrado de Comando e Controle, da Secretaria de Segurança. Para fechar o cerco a manifestações violentas, homens do Batalhão de Choque estão baseados no terminal Alvorada, na Barra.

Manifestantes que se excederem podem ser enquadrados na Lei da Ordem, 117/2004. Por se tratar de crime federal, os condenados ficam impedidos de prestar concursos públicos.

A área ofertada deve render à União, a estados e municípios R$ 900 bi em royalties. Das 11 empresas credenciadas, quatro são da China e as demais estão divididas entre Brasil, Japão, Colômbia, Malásia, França, Índia, e uma Anglo-holandesa.

Segurança é reforçada no entorno de hotel na Barra da TijucaJosé Pedro Monteiro / Agência O Dia

Primeira rodada de licitações

O Campo de Libra localiza-se no lado fluminense da Bacia de Santos, em área superior a 1.500 km². O pregão é a primeira rodada de licitações do pré-sal, que tem potencial de óleo recuperável de até 12 bilhões de barris por ano. Também demandará de 12 a 18 plataformas, e de 60 a 90 barcos de apoio, com investimento aproximado de US$ 180 bi (R$ 390,4 bi).

Os petroleiros são contra por considerar que se trata de uma quase privatização do petróleo nacional, porque a Petrobras ficará só com 30% do óleo extraído.

As recentes denúncias de espionagem feitas pelo governo norte-americano à estatal colocaram ainda mais lenha na fogueira. Movimentos sindicais afirmam que o país está ‘entregando seu ouro negro à especulação internacional’.

‘Os black blocs são muito bem-vindos’, diz sindicalista

Os black blocs já confirmaram presença na manifestação organizada por entidades sindicais contra o leilão de Libra. Para o secretário-geral do Sindicato dos Petroleiros do Rio (Sindipetro-Rio), Emanuel Cancella, eles são “muito bem-vindos”. O dirigente afirmou que todos os brasileiros que defendem a soberania nacional podem e devem participar do ato.

Na página dos mascarados na rede social, a chamada para o evento conta com 6.600 pessoas confirmadas. Eles pretendem fazer duas manifestações, às 10h e às 17h.

Cancella diz acreditar que a pressão popular pode fazer com que o governo suspenda o evento, a exemplo do que aconteceu quando se cogitou privatizar a Petrobras, há mais de 15 anos. “Também vão chegar ônibus de petroleiros vindos de outros estados”, disse, acrescentando que espera que não haja vandalismo.

Você pode gostar