Rio - Após quase quatro anos da pacificação no Morro do Pavão-Pavãozinho, famílias de Copacabana reviveram na madrugada desta quinta-feira os tempos que ficavam acuados dentro de casa com medo dos tiroteios na comunidade. Por mais de 40 minutos, policiais da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) trocaram tiros com traficantes, que chegaram a lançar granadas contra os PMs. Um suspeito foi ferido e levado para Avenida Nossa Senhora de Copacabana, na esquina com a Rua Sá Ferreira, onde morreu. Moradores contaram que Adaulto Nascimento Gonçalves, o Pitbull, teria voltado a chefiar a quadrilha de traficantes da favela.
Thomas Rodrigues Martins, de 32 anos, que, de acordo com os militares, integrava o grupo de seis bandidos que atirava contra os policiais, foi baleado. Levado de maca por moradores, ainda vivo, à Nossa Senhora de Copacabana, ele morreu antes da chegada do Corpo de Bombeiros. Apontado pela polícia como gerente do tráfico no Pavão-Pavãozinho, Thomas tinha três passagens pela polícia, por roubo, em 1999, tráfico de drogas, em 2004, e tráfico e porte de arma, em 2008.
Cerca de 50 pessoas tentaram fechar a via por alguns minutos, mas foram impedidos pela PM. Devido ao clima tenso, comércio amanheceu ontem de portas fechadas na região, mesmo depois de o comandante do 19º BPM (Copacabana), tenente-coronel André Luiz Belloni, ter garantido o reforço da segurança.
De acordo com a Polícia Civil, o caso foi registrado como homicídio decorrente de intervenção policial e está sendo investigado pela 13ª DP (Ipanema). Quatro policiais militares que estavam de plantão na UPP foram ouvidos, e os fuzis, apreendidos para confronto balístico. Foi realizada perícia na localidade onde ocorreu o confronto, conhecida como Quinta Estação.
A Polícia Civil também informou que testemunhas e moradores serão chamados para depor. Segundo relatos de quem vive e trabalha na favela, há alguns meses traficantes armados voltaram a circular no local. Segundo o subcoordenador geral das UPPs, coronel Cláudio Lima Freire, um programa de localização e o patrulhamento com ajuda de policiais das sete UPPs da Zona Sul trabalhará para achar o grupo armado da região, que teria fugido para o alto do morro, após o confronto. Um outro homem do grupo também teria sido ferido.
Reforço no policiamento
Moradores de Copacabana acordaram assustados e com parte do comércio na Rua Sá Ferreira e Avenida Nossa Senhora de Copacabana de portas fechadas por ordens do tráfico, depois de quatro anos. “É muito triste voltar a assistir essas cenas que haviam ficado no passado do bairro”, lamentou o advogado João Rodrigues, de 57 anos.
No morro, comerciantes também ficaram com medo de retaliações dos criminosos e evitaram trabalhar. “Estamos aqui para garantir a segurança deles, mas não podemos obrigá-los a abrir (as lojas)”, disse o comandante do 19º BPM (Copacabana), tenente-coronel André Luiz Belloni.
Policiais do 19º BPM (Copacabana), 23º BPM (Leblon) e de outras UPPs, como Vidigal e Chatuba, reforçaram o policiamento. O segurança de um hotel na Avenida Nossa Senhora de Copacabana disse que, com a troca de tiros, que começou por volta das 3h, a recepção do estabelecimento chegou a ser trancada. Uma moradora disse ter ficado assustada com a explosão de granada.
Inteligência da PM investiga possível volta de traficante
Segundo o subcoordenador geral das UPPs, coronel Cláudio Lima Freire, a equipe de inteligência das unidades pacificadores já analisa a hipótese de o traficante Pitbull, ex-chefe do tráfico do Morro do Pavão-Pavãozinho, estar de volta à comunidade. De acordo com o oficial, um fenômeno tem ameaçado as comunidades pacificadas, atualmente.
Como os traficantes expulsos de suas regiões estão ficando sem lugar para se abrigar, eles estão tentando voltar para as suas comunidades de origem para um possível restabelecimento do tráfico. “Eles tentam voltar porque é o seu reduto, pois já conhecem as pessoas e a área. Porém, com a UPP, agora temos uma realidade diferente. Se antes tinham seis policiais para monitorar a área, agora temos quase 50 para tomar conta e localizar os criminosos”, disse.
Ele afirma ainda que, por conta disso, a UPP realiza um trabalho de varredura e cumprimento de mandados de prisão. A UPP do Pavão-Pavãozinho foi inaugurada em dezembro de 2009. A unidade também atende no vizinho Morro do Cantagalo.
Pitbull pego com crachá do PAC
Adauto do Nascimento Gonçalves, o Pitbull, de 32 anos, teria voltado a dar as ordens no Pavão-Pavãozinho, segundo contaram ontem moradores da favela. O bandido é considerado foragido da Justiça desde o último dia 6 de julho, quando deixou o Instituto Penal Edgard Costa após receber o benefício de Visita Periódica ao Lar e não voltou mais.
Em abril de 2008, Pitbull foi preso em casa e, na ocasião, apresentou aos policiais um crachá de vigia das obras do Programa de Aceleração de Crescimento (PAC) que eram feitas na comunidade. Logo após ser preso, ele disse que abandonara o tráfico em 2007.