Rio - Condenados à prisão, mas livres para aumentar o patrimônio. Passados oito meses desde que foram sentenciados a penas de sete a 20 anos por formação de quadrilha e enriquecimento ilícito, os chefes da milícia de Rio das Pedras continuam soltos à espera do julgamento dos recursos no Tribunal de Justiça e com acesso franqueado à fonte de riqueza da comunidade.
Os moradores continuam obrigados a pagar a taxa de segurança, o ágio no botijão de gás e o pedágio das vans. Nem a especulação imobiliário escapa das garras dos paramilitares: só nos últimos seis meses, eles ergueram um prédio com lojas e quitinetes e tocam outro edifício, em ritmo feroz, com quatro pavimentos e lojas no térreo.
A primeira construção tem endereço nobre: ao lado da Associação de Moradores de Rio das Pedras, no coração da comunidade e com facilidade de comércio e transporte público. A obra foi concluída em junho e tem dois andares com quitinetes — cada um vendido a R$ 80 mil. Ela foi tocada a mando do subtenente reformado da PM Maurício Silva da Costa, o Maurição, apontado como o atual líder do grupo paramilitar.
O edifício com a obra em andamento também está em área privilegiada: na porta do asfalto e de frente para o Condomínio Floresta, na Estrada de Jacarepaguá. O prédio começou a ser erguido onde era uma casa do loteamento São Bartolomeu, comprada há alguns anos pelo cabo Marcus Vinicius Reis dos Santos, o Fininho. Como ele era proprietário de um trailer, localizado na porta do imóvel, resolveu fazer uma bela loja, para incrementar o negócio, e os quitinetes para aproveitar o espaço.
A construção está no quarto pavimento, mas os operários foram obrigados a parar na quinta-feira: como não há licenciamento, a prefeitura suspendeu os trabalhos e embargou a obra. O edifício ao lado da associação também é ilegal.
A lucrativa tática do empreendimento-relâmpago
Os empreendimentos imobiliários sempre foram importante fonte de dinheiro para a milícia de Rio das Pedras. Primeiro, eles venderam os terrenos grilados ou às margens da lagoa e do valão. Depois vislumbraram forma mais interessante de lucrar: construíam prédios com quitinetes e alugaram a preços populares. Com o avanço da investigação da polícia sobre os bens e patrimônio oculto, a milícia optou pelo papel de ‘empreiteiro’: constrói o edifício ilegalmente e o revende rápido, antes da chegada da prefeitura.
“Não temos o papel da polícia, de prender, mas sempre que há denúncia verificamos se a construção está regularizada. Quem souber de construção ilegal pode nos procurar”, anuncia o subprefeito da Barra e Jacarepaguá, Tiago Mohamed.
Poucas são as obras regularizadas em Rio das Pedras. O próprio prédio da associação de moradores e as lojas ao redor da praça foram construídos pelos milicianos. Nem o campo de futebol soçaite escapou: a área pública foi cercada e o campinho deu lugar a um estádio. Tudo “made in milícia”. Mas como um detalhe: quem quiser jogar tem que pagar uma taxa.