Rio - Enquanto pelo segundo dia consecutivo cerca de três mil estudantes ficaram sem aulas por causa da violência no Complexo da Maré, as autoridades de segurança não apresentaram ontem qualquer solução ou estratégia para garantir a segurança de alunos e professores. Em nota, a assessoria de imprensa da Secretaria de Estado de Segurança limitou-se a informar que a reportagem deveria procurar “a assessoria de imprensa da Polícia Militar”.
A PM, também por nota, afirmou que “o comando do 22º BPM (Maré) não foi procurado por representantes de nenhuma das escolas para denúncias, e se coloca à disposição para recebê-los”. As escolas públicas e as ligadas a projetos sociais não têm aulas regularmente na região desde o início do ano. “Em dias alternados, por causa de tiroteios, seja entre bandidos, ou da polícia contra traficantes, a unidade já ficou umas três semanas fechada. Isso influi na qualidade do ensino”, lamentou uma professora do Ciep Elis Regina.
Contradizendo a PM, a Secretaria Municipal de Educação, que confirmou em nota que 2.027 alunos voltaram a ficar sem aulas em sua rede no complexo — outros mil estudantes são de projetos sociais —, diz “que teve uma reunião com o comandante do 22º BPM (tenente coronel Walter Teixeira Júnior), que assumiu o compromisso de zelar pela segurança dos alunos da região, através de um plano de cooperação que evitará confrontos nos horários de entrada e saída das escolas”.
Nesta terça-feira, o DIA publicou com exclusividade foto da ONG Uerê, retratando o desespero de jovens deitados no chão da sala de aula no dia 17, para se protegerem de tiros. Granadas atingiram paredes da escola, que atende a 400 crianças com dificuldades de aprender por traumas causados pela guerra.
Diretores avaliam riscos diariamente
A Secretaria Municipal de Educação informou que as condições de segurança da região são avaliadas diariamente pelos diretores das unidades. Em caso de conflitos, eles são orientados a decidir sobre o funcionamento das unidades. A secretaria ressaltou ainda que conteúdo de aulas perdidas será reposto, mas não explicou quando e nem de que forma.
Críticas à ação da polícia na comunidade
A coordenadora da ONG Uerê, Yvonne Bezerra de Mello, assim como internautas, demonstrou indignação com a alegação da Polícia Militar de que não faz operações no Complexo da Maré no horário escolar. “Houve operações policiais nos dias 16, 22, 23 e 25. Nós fechamos a escola na parte da tarde nesses dias. Se as operações não constam dos boletins da PM, foram clandestinas?”, questionou Yvonne, ressaltando que no dia 17, o confronto foi entre facções rivais. “Foi mais de uma hora de terror”, disse.