Rio - Pelo menos 150 moradores de Bangu realizam uma passeata pelas ruas do bairro na manhã deste sábado. A manifestação é em homenagem ao menino Kayo da Silva Costa, de 8 anos, morto na última quinta-feira depois de um ataque ao Fórum de Bangu.
Os moradores iniciaram o protesto em frente à Igreja Santa Cecília e seguem em direção ao Fórum. Os pais de Kaio, muito abalados, não compareceram no protesto. Já o avô do menino, Joanir do Rosário levou dezenas de fotos de Kaio e formou um mosaico com as imagens no chão, no local onde o menino foi alvejado. Com a camisa do Vasco, (time de coração), e outra do Bangu, onde o garoto era aluno da escolinha de futebol, Joanir se emocionou.
"Infelizmente essa tragédia, que culminou com a morte de dois inocêntes, poderia ter sido evitada. Porque tem segurança reforçada no Rio, até para eventos como o Rock in Rio, e não em um Fórum com bandidos perigosos? Não sei se nossa dor vai passar", disse.
O tiroteio
Na última quinta-feira, quatro bandidos armados com fuzis chegaram em dois carros para resgatar um dos 24 presos que eram julgados em audiência. Libertar Alexandre Bandeira de Melo, o Piolho, um dos acusados de comandar o tráfico no Morro do 18, em Água Santa, na Zona Norte, era o objetivo do bando. Um dos policiais, identificado como Sargento Oliveira, levou um tiro no peito e morreu. Ele percebeu a movimentação dos criminosos e correu para avisar os seguranças do local. Em seguida, disparou contra os acusados e acabou sendo baleado nas escadas do Fórum. Outro PM que também estava na escada foi atingido na cabeça.
Na fuga, os criminosos se depararam com uma viatura da polícia e uma nova troca de tiros teve início. Uma senhora que estava dentro de um ônibus da linha 738 (Bangu-Marechal Hermes) foi alvejada na barriga.
PM morto era evangelizador de crianças
“Morreu cumprindo o dever dele, do qual era apaixonado”. O desabafo é de Antônio Generoso de Oliveira, 71 anos, pai do sargento Alexandre Rodrigues de Oliveira, 42 anos, durante o enterro do filho, ontem, no Cemitério Jardim da Saudade, em Sulacap. Cerca de 200 pessoas, entre familiares, amigos e colegas de farda compareceram ao cemitério.
O PM morreu ao trocar tiros com bando que invadiu o Fórum. Foi enterrado com honras militares e chamado de herói. Ficava na guarita na entrada da unidade. Ele estava há dez anos na PM e era lotado no fórum há pouco mais de um ano. O policial fazia parte de um grupo de evangelizadores de crianças na corporação.
Alvo dos criminosos, o juiz Alexandre Abrahão postou no Facebook um desabafo sobre a ação dos criminosos caso. “Gostaria de pedir a cada um de vcs (...) oração para a criança que foi executada (...) ao policial que faleceu, um verdadeiro herói, amigo e digno, que vi tombar na minha frente alvejado covardemente na cabeça (triste espetáculo que levarei até meus últimos dias)”. Ele pede ainda uma reflexão sobre o que se pode fazer pelo Brasil, alegando que a culpa é de todos. “Quanto a culpa? Simples! A culpa e nossa enquanto sociedade! Não percam tempo alegando que a culpa foi da falta disso ou daquilo (...).
Enterro de Kayo
O corpo foi sepultado na última sexta-feira, em Realengo. Em homenagem a Kayo Cabeludinho, como era chamado, companheiros do time sub-9 de futsal foram ao enterro com uniforme do Bangu.
“Ele era a segurança da defesa. Graças a ele, marcamos 80 gols e levamos apenas 10 ao longo da Rio Copa Futsal”, orgulhava-se o pequeno João Victor. O avô do menino, Juamir do Rosário, já havia prometido um churrasco comemorativo, caso a equipe vencesse a final do torneio, em dezembro. O título se tornou obsessão para os meninos, que pretendem dedicá-lo ao amigo morto. A continuidade nos treinos sempre fora condicionada ao bom desempenho escolar.
Plano incluía morte de juiz
Os bandidos que invadiram o Fórum, além do resgate de dois presos, pretendiam assassinar o juiz da 1ª Vara Criminal local, Alexandre Abrahão. As informações sobre o plano de execução do magistrado foram encaminhadas nesta sexta-feira à Secretaria de Segurança, à Divisão de Homicídios (DH) e à 34ª DP (Bangu). Há suspeitas de que a ordem teria partido do traficante Celso Luís Rodrigues, o Celsinho da Vila Vintém, preso no Complexo Penitenciário de Gericinó. Na ação, morreram o menino Kayo da Silva Costa, de 8 anos, e o sargento PM Alexandre Rodrigues de Oliveira. Os corpos foram sepultados ontem, em meio a comoção popular. A polícia recebeu informações de que a trama para matar Abrahão foi arquitetada na Vila Vintém.
Para isso, está sendo investigado que seria necessário que Alexandre de Melo, o Piolho, e Vanderlan Ramos da Silva, o Chocolate, fossem arrolados como testemunhas de Luiz Armando, o Dallas. Mas a defesa desistiu de ouvi-los. Nesta sexta-feira, após saber do plano dos criminosos, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, pediu à Justiça a transferência de Celsinho da Vila Vintém para presídio federal. Quinta-feira mesmo, ele já havia solicitado a retirada do Rio de Piolho e Chocolate.