Por thiago.antunes

Rio - O aumento do número de homicídios dolosos no mês de agosto, divulgado esta semana pelo Instituto de Segurança Pública (ISP), chama a atenção para uma estatística alarmante: a violência faz mais vítimas fatais no estado do que epidemias ou doenças graves. Nos últimos 10 anos, o instituto registrou 64.013 assassinatos no Rio, 3.060 só nos primeiros oito meses de 2013. Na última década, a dengue, uma das doenças que mais provocou surtos no estado, matou 703 pessoas, segundo a Secretaria Estadual de Saúde. A criminalidade também matou mais que a temida Aids: foram 39.128 vítimas do vírus HIV entre 1984 e 2010, também de acordo com a Saúde estadual.

“O número é superior ao de qualquer guerra declarada. E se for contar os casos de autos de resistência e de desaparecidos, como o pedreiro Amarildo de Souza, por exemplo, o número de mortos será ainda maior. É inaceitável”, afirma o deputado Marcelo Freixo, da Comissão de Direitos Humanos da Alerj. Ele credita o índice ao que chamou de fragilidade na fiscalização do tráfico de armas e no monitoramento de armas legais. “É preciso combater o tráfico de armas, que ainda é forte, com uma união das polícias e do Exército”, defende.

Zoraide guarda cápsulas recolhidas no local onde sua filha%2C a policial Ludmila%2C foi morta por traficantesAlexandre Vieira / Agência O Dia

Sérgio Oazen, que teve o filho Thiago Oazen, 19, assassinado em 2008 ao furar uma blitz, faz coro com o magistrado. “É hora dos políticos pensarem em mudanças nas leis para ver se essa violência diminui. Cada nova vítima me deixa ainda mais desanimado, são famílias que ficam desestruturadas para sempre. O Rio está entregue aos bandidos”, desabafou Sérgio. Um dos policiais que matou o rapaz foi condenado recentemente a 21 anos de prisão. “A criminalidade está muito elevada. Mata-se cada vez mais com requintes de crueldade. A impunidade é o principal fator do aumento da violência. As leis são frouxas”, criticou o juiz Fábio Uchoa, da 1ª Vara Criminal da Capital.

Pais de vítimas de violência cobram ação das autoridades

“Queria muito que a morte da minha filha fosse o último caso de violência, mas não será”, afirma Zoraide Vidal. Desde que a policial Ludmila Maria Mendes Fragoso foi brutalmente torturada e assassinada por traficantes, há sete anos, sua mãe abraçou a luta por Justiça de outras famílias que sentem a mesma dor. Ela ainda guarda as cápsulas recolhidas no local do crime.

“As autoridades precisam começar a se mexer para que as pessoas de bem sobrevivam. Os criminosos não têm medo da polícia, de nada. A esperança, para nós, não existe”, lamentou. “São como páginas de livros, um caso após o outro. Todos os dias vejo notícias de pessoas sendo mortas, está ficando insustentável. As providências só são tomadas muito tarde, depois que famílias são dilaceradas pela dor”, desabafou Luiz Gustavo, pai da estudante de Química Flávia da Costa Silva. No caso dele, a solução só chegou 10 meses após uma bala tirar a vida de sua filha, quando a jovem seguia para o trabalho num ônibus, perto do Complexo do Lins. A região foi ocupada pela polícia mês passado.

Tendência de queda revertida

O coordenador do Núcleo de Estudos da Cidadania e Violência Urbana da UFRJ, Michel Misse, destaca que, nos últimos anos, havia tendência de queda nos casos de homicídios dolosos, mas isso está mudando. De janeiro a agosto, foram 373 casos a mais que no mesmo período de 2012.
Segundo a Divisão de Homicídios, houve avanço de 30% nos índices de resoluções de casos de homicídios nos últimos dois anos.

Em 2010, a DH foi ampliada, com 10 delegados, 22 peritos e 200 agentes. O índice de solução de crimes passou de 3% para 27%, com 900 prisões. O delegado Rivaldo Barbosa afirma que o número vai aumentar coma a criação de unidades. “Cada delegado tem que apresentar no mínimo 10 casos resolvidos por mês”.

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