Por adriano.araujo

Rio - Perto de completar três anos da ocupação do maior quartel-general do tráfico do Rio, a operação policial que tomou o Complexo do Alemão ainda alimenta adrenalinas em quem viveu aqueles dias de tensão. A convocação no quartel, a entrada no território dominado pelo medo, a miséria quase haitiana de alguns redutos da comunidade, a libertação. Em ‘A Retomada do Complexo do Alemão’, da Editora Impetus, o leitor passa a conhecer, nas 304 páginas, o ponto de vista de três agentes públicos sobre o processo de pacificação.

Lançamento de livro sobre ocupação no Alemão será quinta -feiraDivulgação

Com uma linguagem fácil, fotos da agência O DIA e repleto de diálogos, o livro condensa o que a população viu nos jornais de uma forma mais humanizada e mostra que a fronteira entre o luxo e a miséria era delimitada pela opção ao crime. Um dos capítulos — são 22, no total — conta sobre a distribuição dos objetos que antes eram dos traficantes para os moradores mais miseráveis da favela. Uma geladeira doada para uma senhora de 60 anos, por exemplo, valia mais que o barraco dela com tudo que havia dentro. Um outro morador pediu aos policiais do Bope um ar-condicionado split. “Mas a parede da casa dele era tão fina, tão deteriorada, que não suportaria o peso do equipamento. Explicamos, e ele entendeu”, contou o sargento do Bope André Monteiro, que escreveu o livro com o procurador Rogério Greco e o policial federal Eduardo Maia.

A caça aos armamentos teve muita ajuda da comunidade. Durante a ocupação, vários moradores arrumaram maneiras de deixar bilhetes com dicas de locais de esconderijos de arsenal. Calcula-se que o preço médio de um fuzil repassado para a quadrilha de Luciano Martiniano da Silva, o Pezão, variava entre R$ 40 mil e RS 60 mil.

O lançamento do livro vai ocorrer na próxima quinta, dia 14, às 19 horas, na Livraria da Travessa , em Ipanema. O preço sugerido é de R$ 45.

Banquete em casa de traficante no meio da operação na Vila Cruzeiro

Uma geladeira abarrotada de alimentos para um refinado paladar e uma pequena tropa de militares do Bope com fome. O resultado dessa combinação foi um refeitório improvisado na casa que um dos traficantes do Complexo do Alemão abandonou quando as forças de paz começaram a entrar no conjunto de favelas.

A noite já se aproximava na Vila Cruzeiro quando parte da guarnição se mantinha camuflada entre as casas e a mata. A ocupação feita por etapas obrigava aquela equipe a passar toda madrugada ao relento. Sem comer a várias horas, eles encontraram uma luxuosa residência, com choperia, piscinas e pista de dança.

Ali, onde o tráfico, provavelmente, fazia a contagem do dinheiro e suas suntuosas festas, os militares preparam uma quase original paella espanhola. “... com direito a camarão, lula e outros fruto do mar; antes do prato principal, contudo, Bebezito (cozinheiro da tropa), preparou uma canja. (...) agíamos, é bom frisar, em estado de necessidade, comendo todo o estoque deixado pelo chefe de tráfico de drogas”.

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