Por bianca.lobianco

Rio - Policiais Militares do 14º BPM (Bangu) em ação conjunta com PMs do 39º BPM (Belford Roxo) prenderam dois homens, na manhã deste domingo. Um deles é acusado de participar do tiroteio em frente ao Fórum de Bangu, na Zona Oeste, onde o menino Kayo, de 8 anos, morreu durante troca de tiros entre bandidos e policiais. Na ocasião, um PM também foi morto e um outro ficou ferido durante uma tentativa de resgate de criminosos que estavam prestando depoimento no local no dia 31 de outubro.

Acusado de ser um dos autores da invasão do Fórum de Bangu%2C Panela foi preso no Morro do MachadoDiego Valdevino / Agência O Dia

Paulo Roberto Pinho Brandão, vulgo Panela ou PL, de 39 anos, e Marlício Douglas da Silva, vulgo Pretinho, de 33, foram encontrados na comunidade do Morro do Machado, em Belford Roxo, na Baixada Fluminense. Panela é o sucessor de Vanderlan Ramos da Silva, o Chocolate, o bandido que estava prestando depoimento no fórum no dia do resgate. Segundo a polícia, o acusado seria um dos autores da ação. Com ele, os PMs encontraram um fuzil americano que teria sido usado no dia do ataque. 

Os PMs estavam checando informações de que três traficantes conhecidos como Bebezão, Chelsea e  Pé de Vaca estariam se refugiando no Morro do Guache e no Morro do Machado. Os criminosos seriam braço direito de Scooby, chefe do tráfico do Morro dos Macacos, em Vila Isabel, e um dos bandidos identificados por câmeras de segurança no momento da invasão. Quando a polícia chegou ao local, somente os dois criminosos detidos estavam na casa. Não houve confronto, mas eles tentaram se esconder dos PMs.   

"Nosso foco era encontrar o Bebezão, o Chelsea e o Pé de Vaca, que são braço direito do Scooby e teriam participado do tiroteio em Bangu. Mas encontramos outros dois com o fuzil que teria sido usado na ação", disse o tenente Henrique, do 14º BPM. A polícia quer descobrir se o tiro que atingiu o menino Kayo veio da arma apreendida. 

"Nosso batalhão não vai descansar enquanto não prender todos os envolvidos da ação" disse o tenente.

Pretinho e Panela foram presos e negaram participação no ataque ao fórum. Com eles foi apreendida grande quantidade de entorpecentes. Os criminosos foram encaminhados para a 54ª DP (Belford Roxo). 

Fuzil e material entorpecente apreendidos na operaçãoDivulgação


Invasão do Fórum de Bangu leva juíza a pedir afastamento

Ainda muito abalada pela invasão ao Fórum de Bangu por criminosos com fuzis, no dia 4 de novembro a juíza da 2ª Vara Criminal de Bangu, Luciana Moco, pediu afastamento do cargo. A magistrada estava em audiência quando houve o tiroteio entre criminosos e PMs que faziam a segurança do lugar. Apavorada, escondeu-se debaixo da mesa.

Na ação, um policial e uma criança de oito anos foram mortos. O pedido foi feito nesta segunda-feira à presidente do Tribunal de Justiça, Leila Mariano, que classificou a ação dos bandidos como um problema de segurança pública, e não institucional.

A desembargadora questionou ainda os serviços de inteligência e de repressão do estado, que não detectaram o plano de invasão e nem impediram que 15 criminosos saíssem de Belford Roxo, na Baixada, fortemente armados, e fossem até Bangu. O plano, além de resgatar traficantes, incluía matar o juiz da 1ª Vara Criminal de Bangu, Alexandre Abrahão, como O DIA noticiou no dia 2 de novembro.

Criminosos estavam armados com fuzis durante tentativa de resgateDivulgação

Apesar das declarações, Leila disse que não queria apontar culpados. “Que fique claro que este atentado não é uma questão de segurança institucional. É, sim, uma questão de segurança pública. Onde estavam os órgãos de inteligência? Onde estavam os órgãos de repressão? Não queremos apontar culpados, o momento não é para isto, mas para uma união para a solução.”

A desembargadora defendeu a criação de um protocolo de ações para tentar minimizar os riscos das saídas de detentos para os fóruns. Para discutir as medidas a serem tomadas, Leila se encontra hoje com o governador Sergio Cabral, o secretário de Administração Penitenciária, Cesar Rubens Monteiro de Carvalho, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, e representantes do Ministério Público e da OAB.

“Vamos ter até que treinar os servidores e limitar o número de presos (em audiências)”, sugere Leila. Segundo ela, cerca de 500 audiências são realizadas por mês no estado.

A presidenta do TJ%2C Leila Mariano%3A críticas aos juízes%2C à OAB e à Secretaria de Administração PenitenciáriaCarlos Moraes / Agência O Dia

Detector de metais e mais policiais na segurança

No dia 3, primeiro dia útil de trabalho no fórum após tragédia, houve reforço da segurança no entorno. Policiais faziam rondas e ocupavam o local. Um detector de metais funcionava na entrada. Funcionários e cidadãos que entravam na casa recebiam flores, o que agradou à advogada Manoela Martins Santos: “É bom que recomecemos os trabalhos com boas energias”, disse.

A presença de presos nos fóruns não é questão só de segurança. Para a desembargadora Leila Mariano, presidente do TJ, a falta de estrutura da Seap tem provocado atrasos nas audiências devido à falta de transportes para detentos.

“Tivemos reunião com o secretário (Cesar Rubem Monteiro de Carvalho) em fevereiro, que prometeu para julho veículos especiais”.  “Muitas vezes os juízes não sabem da periculosidade do preso” A Seap alegou problemas na licitação dos veículos e informou que até dia 8 chegaria uma das 48 vans compradas e que cinco micro-ônibus seriam entregues dia 20.

Acesso fácil aos andares

Embora tenha tido o policiamento no entorno reforçado, ainda era fácil acessar todos os andares do Fórum de Bangu na manhã desta segunda-feira. A reportagem do DIA encontrou caminho aberto a todos os andares do local, sem se identificar ou ser incomodada. Depois de 15 minutos circulando e registrando imagens dos corredores da casa com telefone celular, seguranças e policiais militares intervieram, pedindo para que as imagens feitas fossem apagadas.

Em nota, o TJ informa que todos que entram no fórum passam por procedimento padrão da Diretoria Geral de Segurança Institucional, que inclui passagem por detectores de metais e, se necessário, até revista.

Edição: Bianca Lobianco




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