Por nara.boechat

Rio - Imagine se você encontra na praia uma pequena rocha que caiu do céu e que pode valer até R$ 3,5 milhões. Sem contar os fragmentos, espalhados pelas proximidades, e cujo grama é avaliado por especialistas em aproximadamente US$ 10 mil (R$ 23,3 mil). É o que pode acontecer aos frequentadores das badaladas praias de Angra dos Reis.

Batizado com um nome que faz referência à cidade — Angrito — o objeto astronômico tem apenas 1,5 quilo e é o novo xodó dos apaixonados por Astronomia. De cor violeta e crosta brilhante, é considerado um dos mais valiosos do mundo, por ser tão antigo quanto o Sistema Solar e seus 4,5 bilhões de anos.

Pesquisadora mostra fragmento de 70 gramas do Angrito%2C no Museu NacionalFernando Souza / Agência O Dia

O Angrito caiu, dividido em três partes, no mar, na beira da Praia de Bonfim e na Baía da Ilha Grande, há 144 anos. Dois pedaços estão desaparecidos e o terceiro, de 70 gramas, que vale em torno de R$ 1,6 milhão, foi doado ao Museu Nacional, no Rio de Janeiro, onde se encontra guardado a sete chaves.

Este mês, no encerramento do IV Encontro Internacional de Meteoritos e Vulcões, realizado pelo Instituto de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), os cerca de 90 participantes, entre pesquisadores e estudantes de geologia e astronomia, promoveram uma expedição à Praia do Bonfim. “A caça ao tesouro celeste (se referindo ao Angrito), na verdade, é uma campanha pela Astronomia e sua importância para a Humanidade. Mas vai que alguém o ache”, comenta a astrônoma e pesquisadora do Museu Nacional Elizabeth Zucolotto.

Desta vez, os “expedicionários celestes” não encontraram nada em Angra, mas deixaram moradores e turistas eufóricos e curiosos. “Agora presto mais atenção em pequenas rochas escuras. Pelo que vi, encontrar um meteorito ou fragmento desse tipo seria melhor que ganhar na Mega-Sena”, disse o pescador Paulo Silva, de 49 anos.

Angrito é o elo perdido na formação do sistema solar

No dia 30 de janeiro de 1869, a queda do Angrito, em frente à Igreja do Bonfim, foi testemunhada por Joaquim Carlos Travassos — médico, político e pioneiro do Espiritismo no Brasil — e dois de seus escravos. Conta-se que os escravos conseguiram recuperar, duas partes, a dois metros de profundidade. Uma se encontra atualmente no Museu Nacional. Ela foi doada pelo juiz Ermelino Leão, que a tinha ganhado de Travassos. A outra, de 6 quilos, foi dada pelo médico a um sogro seu, em 1888. Dela, ninguém sabe o paradeiro.

Área de buscaArte O Dia

A peça que está no museu chegou a ser roubada em 1997, mas acabou sendo recuperada das mãos de um pirata de meteoritos que embarcava para os Estados Unidos.

“Pelo encaixe estudado dos dois pedaços recuperados, há a certeza de que o terceiro ainda se encontra no mar”, afirma Elizabeth Zucolotto. Ela explica que o Angrito está entre os dez mais raros do mundo e deu nome a uma classe de meteoritos a qual até recentemente era o único representante. “Por isso é um dos mais cobiçados entre pesquisadores e colecionadores. É o primeiro que saiu do interior de um planeta. É o elo perdido na formação do sistema solar.”

Média de três amostras por semana

Desde que as caças a objetos extraterrestres começaram a ser incentivadas no final da década passada, o Museu Nacional passou a receber dez vezes mais amostras de rochas de todo o país para análises.

“Recebo, em média, três por semana. Há uns cinco anos, não passava de uma por mês. De cada mil rochas, uma é meteorito”, revela Elizabeth Zucolotto.

No Brasil, existem 63 meteoritos reconhecidos por cientistas oficialmente. O último foi encontrado em Varre-Sai pelo agricultor Germano Oliveira, 65 anos, em 2010. Ele vendeu a rocha (do tipo condrito, de 580 gramas e 11 centímetros) ao prefeito da cidade por R$ 18 mil.

O estudante mineiro Higor Oliveira, 15 anos, foi um dos destaques no último Encontro Internacional de Meteoritos. Criador do Blog Explorando o Universo e do site meteoritosbrasil.weebly.com, ele se encantou com o universo na Olimpíada Brasileira de Astronomia. “No futuro, vou ser astrônomo para desvendar os meteoritos.”

Quem achar vira dono, e pode vender

No Brasil, quem encontra um meteorito passa a ser dono dele e pode vendê-lo a quem quiser, ao contrário de outros países, como os Estados Unidos, onde a posse pertence ao dono das terras onde corpos interplanetários caem. Segundo a astrônoma e pesquisadora do Museu Nacional Elizabeth Zucolotto, as rochas encontradas não devem ser cortadas.

“Meteoritos são pedras atraídas por imãs, embora não sejam magnéticos. São escuros apenas por fora, com uma fina película chamada de crosta de fusão. Cientistas especializados é que avaliam o seu interior”, explica.

São três tipos básicos — rochosos, metálicos e mistos. “Por imagens, conseguimos descartar centenas”, garante Elizabeth, orgulhosa por ter dado o veredicto final para 39 dos 63 meteoritos catalogados no Brasil.

No site www.meteoritos.com.br, Elizabeth recomenda que quem desconfia ter achado um meteorito, deve mandar, primeiramente, fotos das rochas para meteoritos@globo.com.

Você pode gostar