Por thiago.antunes
Rio - A morte de Conrado Chaves da Paz, 19 anos, comerciário e ex-aluno do Colégio Pedro II, assassinado com uma facada no peito na Avenida Chile, no domingo, foi uma tragédia anunciada. Por falta de iluminação, limpeza, segurança e combate eficaz ao tráfico de drogas, a Lapa se tornou área de risco, apesar de ser ponto de turismo internacional.
Segundo moradores, comerciantes e a própria polícia, em um “quadrilátero” de cerca de 298 mil metros quadrados — a área do Complexo do Maracanã é de cerca de 228 mil—, há pelos menos cinco pontos de venda de drogas, incluindo crack.
Polícia Militar intensifica policiamento na Lapa e arredores%3A mas ação ainda é tímida%2C dizem comerciantesCarlo Wrede / Agência O Dia

Na final da Copa do Brasil, disputada entre Flamengo e Atlético-PR na última quarta-feira, no Maracanã, a Polícia Militar disponibilizou 500 homens para quase 60 mil pessoas. No entanto, nos fins de semana, quando a Lapa recebe a mesma quantidade de frequentadores, o efetivo é muito inferior, segundo avaliação de comerciantes. A Polícia Militar não revela o pessoal empregado ali, se limitando a informar que a área conta com reforço de “40 homens” aos sábados e domingos.
“Guarda municipal tem muito, mas não resolve.

As pessoas usam drogas na frente deles. A gente acredita que aqui não tenha nem cem policiais por fim de semana, mesmo com os turistas vindo cada vez mais para cá”, criticou o empresário Fabrício Bueno. Mas o mais grave é que os guetos onde o tráfico costuma abastecer moradores de rua, usuários de crack, menores infratores, travestis e outros clientes estão situados a poucos metros do Quartel General da Polícia Militar, do Posto Avançado do 5º BPM (Praça Harmonia) e dos prédios da Chefia de Polícia Civil e da 5ª DP (Mem de Sá).

Conrado Chavez da Paz%2C 19 anos%2C foi morto a facada na Avenida ChileReprodução Internet

Já houve apreensões de crack nas ruas do Lavradio, nos Arcos, nas esquinas da Mem de Sá com Gomes Freire, na Ladeira de Santa Teresa com Rua Joaquim Silva e na Escadaria Selarón.

Publicidade
A Divisão de Homicídios, que investiga o assassinato do jovem de 19 anos, já trabalha com a identificação de um suspeito. Nesta terça-feira, foram entregues outras imagens na unidade, que também apura a morte de um morador de rua, esfaqueado e morto na Rua da Lapa, menos de 24 horas depois do primeiro crime.
Empresários da noite cobram solução imediata
Publicidade
Os que vivem o movimento cultural da Lapa cobram soluções. Para Leonardo Bettamio, dono do Leviano Bar e do Bonde Sucos, não tem jeito: o policiamento deve ser reforçado. “Há quatro meses contratamos dois seguranças exclusivamente para a área de fora do bar. A maioria dos assaltos é por parte de usuários de crack. Uma solução seria o aumento do efetivo da PM associado a uma ação para retirada dos menores”.
A insegurança afeta um dos ícones da Lapa, o Circo Voador. “A violência aumentou muito de cinco a seis meses para cá, com pessoas assaltadas até na fila. Nos dois últimos fins de semana, o movimento caiu 50%”, diz Maria Juçá, diretora do Circo.

O empresário Léo Feijo pede urgência nas providências: “Aqui temos os menores, os assaltantes profissionais camuflados na população de rua e os usuários de crack. Devemos ter uma atenção especial”. Para o DJ Carlos Eduardo Smith, “não adianta simplesmente colocar a polícia na rua”: “A violência é um problema crônico da Lapa, oriunda de outras falhas estruturais, como falta de iluminação e de infraestrutura”.

E na Praça Tiradentes...

O consumo de drogas nas ruas do Centro do Rio muitas vezes acontece sem qualquer repressão. Nas fotos acima, um grupo, parecendo ser de moradores de ruas, foi flagrado ontem enquanto passa o cigarro de maconha de mão em mão, na Praça Tiradentes. Existem outros pontos onde é possível ver à luz do dia mulheres, homens e até menores consumindo drogas.

LapaAlessandro Costa / Agência O Dia

Os grupos se concentram com mais frequência na Rua dos Arcos, na esquina da Avenida Chile com a Lavradio, onde Conrado foi morto, nas esquinas da Avenida Mem de Sá e da Monsenhor Francisco Pinto, a poucos metros do muro do QG da Polícia Militar. A Praça João Pessoa é tida como um dos principais pontos de venda de drogas.

Publicidade
Silhuetas no Largo da Carioca
Quatro mil silhuetas de corpos representando o número de assassinatos que ocorrem por ano no estado foram pintadas no chão do Largo da Carioca, por integrantes da campanha Juventude Marcada Para Viver, do Observatório de Favelas. Desde as 20h de segunda-feira até o início da madrugada de terça, cerca de cem pessoas participaram do ato.
Corpos são pintados no Largo da CariocaOsvaldo Praddo / Agência O Dia

Segundo o MC Valnei Succo, de 25 anos, participante do Observatório de Favelas, o objetivo da ação no Largo da Carioca foi impactar as milhares de pessoas que transitam diariamente pelo local: “Foram 50 mil mortes em 2012, sendo 27 mil de jovens.

Desses, 18 mil foram jovens negros do sexo masculino. No Rio, quatro mil mortes, sendo 1.478 de jovens negros de 14 a 29 anos. Isso não é normal, isso não pode ser normal”, comentou.
Nesta terça-feira de madrugada, ação conjunta da PM e da Prefeitura deteve 39 adultos e apreendeu 12 menores. Todos foram liberados, menos dois homens foragidos, que permaneceram presos.

Publicidade
Criminosos se infiltram nos grupos
De acordo com José Henrique Pequeno Júnior, da Subprefeitura do Centro, as ações de fiscalização, repressão ao consumo de drogas, apreensão de material e recolhimento de população de rua e usuários de drogas serão intensificadas. “Estamos percebendo uma mudança em geral no perfil das pessoas apreendidas em nossas operações. Muitos criminosos estão infiltrados, camuflados entre a população de rua para praticar crimes”, afirmou José Henrique.
Publicidade