Para Beltrame, problema da Lapa é social, não de polícia
Secretário de Segurança diz que falta assistência a moradores de rua e iluminação
Por thiago.antunes
Rio - Três dias depois do assassinato do comerciário e ex-aluno do Colégio Pedro II, Conrado Chaves da Paz, 19 anos — morto com uma facada no peito, na Avenida Chile —, o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame, afirmou que a Lapa é um problema social e não de segurança. “Fiz uma ronda pela Lapa na última noite e em três quarteirões contamos 26 moradores de rua dormindo na região. Eu pergunto: isso é um problema de segurança?”, questionou Beltrame.
Para o secretário, é preciso cobrar a presença da assistência social na região. “Há terrenos baldios e iluminação precária. Não estou dizendo que morador de rua é bandido, mas ali no meio pode haver um usuário de drogas, até mesmo uma pessoa com fome, que comete atos impulsivos. Estas pessoas precisam ser acolhidas”, comentou,em seminário sobre os três anos de criação da UPP do Morro dos Macacos.
Na operação, acompanhada por Beltrame na madrugada desta quarta, foram recolhidos 20 moradores de rua. Com eles foram apreendidos um canivete, um punhal, uma tesoura e um cachimbo para fumar crack. Levados para a 4ª DP (Central do Brasil), três deles aceitaram ir para abrigos da prefeitura. Foi o segundo dia consecutivo da operação realizada na região pela Polícia Militar, Guarda Municipal e Secretaria Municipal de Assistência Social.
O secretário falou também sobre o Aterro do Flamengo, região onde tem havido uma percepção maior de insegurança. Segundo Beltrame, o local é uma espécie de ‘cidade dormitório’ do Rio, tamanha a quantidade de moradores de rua que vivem no local. “Segurança pública não pode ser vista com um olhar míope. As pessoas querem um policial a cada esquina, mas é preciso que a prefeitura e os órgãos responsáveis façam a sua parte”, completou, durante o evento, realizado no Senac do Riachuelo.
Polícia busca imagens de suspeito
A Divisão de Homicídios, que investiga a morte de Conrado, informou que realiza diligências em busca de outras imagens e mais testemunhas que possam ajudar na identificação do suspeito do crime. Amigos do jovem preparam uma homenagem, com data indefinida: o ‘Cocãopeonato do Conrado’, uma competição de futebol na Rua do Imperador, em Realengo. A ideia é arrecadar alimentos e doar à instituição de escolha da família da vítima. Além disso, os organizadores pretendem fazer uma blusa personalizada com a caricatura de Conrado.
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Nas ruas, álcool é droga mais consumida
Consumo de álcool e drogas, problemas de saúde, prostituição infantil, roubos e outros crimes invadem pontos turísticos, como a Lapa. Há três anos, o Consultório na Rua, ação do Ministério da Saúde em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde, atua no Centro e oferece cuidados a esta população. O programa, que já chegou a atender cinco mil pessoas, hoje trabalha com 2.500 cadastros. Os atendimentos ocorrem no PAM Oswaldo Cruz e em pontos da Central do Brasil, Lapa, Praça XV, Cinelândia, Castelo, Rodoviária e Cruz Vermelha.
Segundo a coordenadora, Laila Louzada, Central e Lapa concentram o maior número de moradores. Enquanto no primeiro a aglomeração é geral, contando com catadores, ambulantes, travestis, idosos, crianças, prostitutas e usuários de drogas, na boemia carioca a população é mais jovem e ligada ao consumo de entorpecentes.
Noventa por cento dos cadastrados consomem algum tipo de droga, a maior parte, álcool. Além disso, o mesmo percentual de indivíduos alimenta uma relação próxima com usuários. Em sua maioria, eles chegam de áreas periféricas do Rio e da Baixada. Desde 2010, mais de 500 pessoas decidiram voltar para seus lares após atendimento.
Programa em Bogotá oferece cursos profissionalizantes a dependentes químicos que vivem nas ruas
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Usuários de drogas que moram nas ruas de Bogotá, capital da Colômbia, podem ter direito a uma segunda chance para largar o vício e até adquirir uma qualificação profissional. A oportunidade é dada por meio de um programa que oferece tratamento médico, psicológico e oficinas profissionalizantes aos dependentes químicos.
O tema será discutido no Rio na próxima sexta-feira por José Miguel Sánchez Giraldo, diretor do Instituto Distrital para a Proteção da Criança e do Adolescente de Bogotá, durante o Fórum Internacional “As ruas e as drogas - competências e inovações, promovido pelo Movimento Viva Rio. “Os consumidores não são criminosos. Tratamos como uma questão de saúde pública”, disse Sánchez.
O programa começou a ser subsidiado pela Prefeitura de Bogotá há dois anos e representa um investimento anual de cerca de US$ 40 milhões (R$ 95 milhões). Unidades móveis circulam por pontos onde há maior concentração de dependentes químicos, para oferecer atendimento médico, psicológico e até alimentação. Há também a possibilidade de internação voluntária. Cerca de 5 mil pessoas já foram beneficiadas pelo projeto, que ainda oferece oficinas de formação profissional.