Por thiago.antunes
Rio - Nesta véspera de Natal, para muitas famílias, a alegria por receber um parente que vem de longe deu lugar ao luto. Quinze pessoas morreram e 31 ficaram feridas depois que um ônibus que saiu de Curitiba, com destino ao Rio, capotou e caiu em uma ribanceira de dez metros. A confirmação da 15ª vítima, ainda sem identificação, foi dada às 22h deste domingo. O acidente aconteceu na madrugada deste domingo, quando o coletivo da Viação Nossa Senhora da Penha passava por São Paulo. 
O delegado Renato Gonçalves Coletes, de Itapecerica da Serra (SP), disse que o motorista pode ter dormido ao volante antes de perder o controle. O veículo de dois andares levava 53 pessoas (sendo duas crianças) e deixou Curitiba às 20h15 de sábado, com previsão de chegar à Rodoviária Novo Rio, às 9h. A tragédia ocorreu às 2h30 na Rodovia Régis Bittencourt, na altura de São Lourenço da Serra.
O segundo andar do ônibus foi completamente esmagado durante a queda em ribanceira de São Lourenço da Serra. Muitos passageiros seguiam para o Rio para passar o NatalEfe

O condutor sofreu ferimentos leves, prestou depoimento e vai ser indiciado por homicídio culposo (quando não há intenção de matar) e lesão corporal culposa. O teste do bafômetro deu negativo e ele se submeteu também a exame toxicológico. O motorista vai responder em liberdade.
Ainda segundo o delegado, não havia marcas de frenagem, nem óleo na pista. “Ele (o motorista) disse que só se lembra de quando já estava no mato”, informou. De acordo com a Polícia Rodoviária Federal, o trecho onde ocorreu a tragédia é bem conservado e sinalizado e não são comuns acidentes.

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O motorista contou à polícia que viajou de Guarulhos para Curitiba na madrugada anterior, chegando por volta das 7h. Ele teria descansado até a fatídica viagem da noite. Antes do acidente, o ônibus fez uma parada, onde o condutor tomou café. Ele seria substituído por outro motorista quando chegasse a São Paulo. Há 24 anos ele fazia a mesma rota e há seis trabalha na Viação Nossa Senhora da Penha.

No início da noite foram divulgados os nomes de 14 vítimas fatais: Regina Célia Nogueira Guimarães (58 anos); Nelício Mário Engel (52); João Paulo Souza Lima (23); João Paulo Quintanilha Cordeiro (19); João da Silva Lima (60); Ademilde Guimarães Salles (60); Julio Cezar de Oliveira Salles (65); Justa Lindamir dos Anjos (55); Daniel Pinel de Souza (60); Maria Aparecida Alves da Silva (59); Erico Roberto Bittencourt (30); Iva Pereira da Silva (60); Gimena Aranda e Marcos de Oliveira P. da Silva.

Dona Iara chora a morte do filho João Bittencourt%2C 33 anos. O neto de 7 anos sobreviveu à tragédia. Ela acredita que João deve tê-lo protegidoMaíra Coelho / Agência O Dia

Parentes reclamam por falta de informações

As primeiras notícias sobre as vítimas fatais chegaram no final da tarde, cerca de 14 horas após o acidente. Funcionários da Viação Penha não prestaram auxílio nem deram informações às pessoas que foram à Rodoviária Novo Rio. Os próprios parentes ligavam para os hospitais e para o IML em busca de notícias.

Às 16h, o vendedor e morador da Taquara, Danilo dos Anjos, 35, soube por uma tia que a mãe, Justa dos Anjos, 55, havia falecido. Justa costumava passar o Natal com o filho todos os anos. “Ano passado, ela veio de avião, mas como o voo foi cancelado, este ano ela optou pelo ônibus”, disse. Pouco depois das 17h, foi a vez de Cleiton da Silva receber a notícia sobre o óbito da mãe, Iva Pereira da Silva, por uma irmã. Ele chegou à rodoviária às 8h e reclamou da falta de informação no guichê da empresa. Cleiton e Danilo viajaram a São Paulo, por conta própria, de carro, para liberação dos corpos.

Parentes reclamam da falta de informação no guichê da empresa%2C na RodoviáriaMaíra Coelho / Agência O Dia

Por volta das 17h30, a jornalista Joice Bittencourt, 33, soube que o irmão, Erico Bittencourt, estava entre os mortos. O pai dos dois foi até o IML de São Paulo para conseguir informações e encontrou o corpo de Erico no local. Ele morava em Curitiba e viajava com o filho de 7 anos, João Bittencourt, que sofreu ferimentos e foi levado ao hospital. “Passamos o dia sem informação da empresa, sem apoio, sem local para ficar enquanto aguardávamos as notícias. Mãe de Erico, Iara acredita que ele protegeu o filho. “Erico deve ter deitado em cima do João para protegê-lo no acidente”, disse, emocionada.

‘Nasci de novo nesse Natal’

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Para os familiares dos sobreviventes, a sensação foi de renascimento. O professor Fabio Lima, 36, esperou mais de 12 horas até encontrar a mãe, Elizabeth Souza Lima. Com ferimentos leves, ela recebeu alta do hospital em São Paulo e chegou ao Rio às 20h40, em um ônibus da Viação Expresso Brasil. Os dois choraram muito ao se encontrar. “Foi tudo terrível. Agora, só quero passar o Natal em paz”, disse ela.
Parente de passageiro vai às lágrimas na Rodoviária Novo RioMaíra Coelho / Agência O Dia

Rosilene Paulino, 36, estava acordada na hora do acidente. Ela conta que não ouviu barulho de freada e que, na hora do acidente, viu corpos voando dentro do ôniubs. Ela sofreu ferimento leve nas costas, chegou à rodoviária às 13h30 e foi recebida pela irmã Roselaine Paulino, 35. “Vi quatro pessoas mortas. Momentos antes do capotamento, eu rezava. Nasci de novo nesse Natal”, conta.

Outro sobrevivente, João Paulo Partelli, 21, estuda em Ponta Grossa e estava indo para Cachoeiro de Itapemirim. Apesar de estar no andar de cima do ônibus, que ficou completamente destruído, ele não se feriu gravemente. “Estava dormingo na hora. Foi um susto, mas consegui sair pela janela”. Os feridos foram encaminhados ao Hospital Geral de Itapecerica da Serra, Hospital Geral de Pirajussara e Pronto Socorro de Embu das Artes.
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