Após tiros, PM é espancado e roubado na Favela da Rocinha
Duas pessoas ficaram feridas e viatura foi depredada em ataque a policiais militares
Por thiago.antunes
Rio - Uma operação de policiais militares da UPP da Rocinha que seria para combater o tráfico de drogas acabou com um ferido, soldado quase linchado por criminosos, possivelmente com ajuda de moradores, e viatura da PM depredada às 12h30. Houve reforço de policiamento com homens do Batalhão de Choque. Mas na Estrada da Gávea só havia uma patrulha da UPP. Às 16h40, da 11ª DP (Rocinha) tiros e fogos eram ouvidos. Outras quatro pessoas foram baleadas entre a véspera e o dia de Natal no Rio.
Segundo a PM, a ação começou quando oito militares foram checar a informação de que havia concentração de traficantes armados no valão, no Largo do Boiadeiro. Haveria dez criminosos que atiraram contra os policiais. Quinze projéteis foram recolhidos e todos os policiais negaram ter efetuado qualquer disparo. Na fuga, eles deixaram uma mochila com armas, carregadores e drogas. Mas moradores acusaram os policiais de serem os responsáveis pelos disparos e começaram a protestar.
O soldado Carlos Gustavo, que estava com a mochila com apreensão, foi cercado por pelo menos 50 pessoas. Ele foi agredido com paus, vidros e barra de ferro. O grupo recuperou o material apreendido, além de levar o celular e carteira do policial. Com três cortes profundos na cabeça, para escapar do espancamento, ele disse ter dado um tiro que atingiu de raspão Alex Duarte Monteiro, 21 anos. “O agente não reagiu porque tinha moradores participando do ataque. Não dava para saber quem era quem. O Gustavo foi pego por estar com a mochila”, contou um militar, que pediu para não ser identificado.
Alex foi levado ao Hospital Miguel Couto. Ele não corre risco de vida e será investigado por lesão corporal e resistência à prisão. A Secretaria Municipal de Saúde informou que ele não foi ferido por tiro, mas por objeto cortante. O soldado Gustavo foi socorrido no Hopistal Central da Polícia Militar (HPM) e levou nove pontos na cabeça. “Se tivessem conseguido levar a minha arma, teria sido assassinado”, contou o PM na delegacia com a farda cheia de marcas de sangue. A arma dele, uma pistola ponto 40, foi apreendida para perícia no Instituto de Criminalística (ICCE).
Segundo o delegado Gabriel Ferrando, da 11ª DP, Alex teria passagem por tráfico de drogas em 2012. “Foi hospitalizado. Será ouvido e liberado. Instauramos inquérito para apurar quem participou das agressões contra o policial. O Alex é suspeito de ser um dos agressores. Também apreendemos a arma do policial para investigar o disparo contra o Alex”, explicou Ferrando.
A PM deteve ainda Alex Oliveira Garnier da Silva, 27. Levado à delegacia, ele não foi reconhecido como integrante do grupo que agrediu o PM e depredou a viatura. Indignado, Alex afirmou que tinha duas passagens pela polícia, por assalto e tentativa de homicídio, mas era inocente no caso. “Sou trabalhador. Não devo nada a esses policiais”, disse.
Soldado levava a mochila com drogas e armas e ficou um pouco para trás perto de valão
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Lotado na UPP da Rocinha desde a sua inauguração há dois anos, o soldado Carlos Gustavo lutou muito para escapar da sessão de espancamento. “Dar o tiro para o alto foi o último recurso”, contou o militar na 11ª DP (Rocinha). Enquanto ele apanhava, outro policial foi tentar dispersar a multidão, mas também foi rechaçado com agressões. “Ele levou uma banda”, revelou militar que participou da operação, mas pediu para não ser identificado.
Gustavo foi cercado por moradores e criminosos porque carregava a mochila, apreendida com armas e drogas, e acabou ficando um pouco mais atrás quando os policiais deixaram um beco, próximo ao valão, no Largo dos Boiadeiros.
A polícia quer identificar, além dos envolvidos com o tráfico de drogas, moradores que participaram da ação. “Vamos em busca de testemunhas e outros recursos para identificar os responsáveis. Se moradores forem identificados como agressores, vão responder pelo crime de lesão corporal”, explicou o delegado Gabriel Ferrando, da 11ª DP, inaugurada sábado só para atender a comunidade da Rocinha. “Afirmamos o tempo inteiro que não tínhamos feito nenhum disparo. Mas não adiantou. A viatura foi totalmente destruída. Ainda bem que o soldado não foi morto”, afirmou um PM.
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Durante toda a tarde desta quarta-feira, o clima era tenso na Rocinha. Muitos policiais militares da UPP revelaram que receberam informações da cúpula da corporação de que até 100 homens do Batalhão de Choque teriam sido deslocados para a região para reforçar o policiamento. Mas o aumento dos militares só era percebido na entrada principal da comunidade. Tiros e fogos eram ouvidos a todo o momento. Segundo os policiais da UPP, há uma guerra dentro da Rocinha pelo domínio de território entre traficantes de drogas da parte baixa e da alta.
Menina de 10 anos, mulher e jovem feridos
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Na Carobinha, em Campo Grande, uma menina de 10 anos foi baleada enquanto comemorava o Natal com familiares, às 22h de terça-feira. A criança estava na porta de casa com a mãe, quando traficantes que passavam pelo local desconfiaram de um carro preto e atiraram contra o veículo. A mulher tentou entrar em casa com a criança, mas já havia sido atingida no tórax.
A vítima foi levada ao Hospital Rocha Faria. A assessoria informou que a paciente está lúcida e o estado é estável. Na Cidade de Deus, comunidade pacificada, jovem de 15 anos foi baleado no ombro, no início da madrugada de ontem. Uma das versões para o crime é de que ele foi ferido numa festa de Natal. Dois homens em uma moto passaram atirando. A família diz que ele foi atingido na porta de casa.
Motoqueiro em torno da UPA assustou
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O jovem foi socorrido na UPA da Cidade de Deus. Funcionários chegaram a pedir reforço da PM para transferi-lo para o Hospital Lourenço Jorge, na Barra. Eles se assustaram com dois motoqueiros que permaneceram em uma praça em frente à unidade de saúde desde o momento em que a vítima chegou. Havia o temor de uma invasão.
A violência atingiu o Jacarezinho, área pacificada. Josilaine Fernandes da Silva Gonçalves, 36, foi baleada de raspão na madrugada de ontem. De acordo com policiais da UPP, ela estava na laje de casa, na Rua Esperança, quando ocorria queima de fogos. A vítima foi levada ao Hospital Salgado Filho, no Méier, sendo medicada e liberada.